Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) na mínima da série histórica, a 5,50% ao ano, o investidor brasileiro não demonstra querer dispensar a renda fixa. Segundo a Planejar, dos R$ 5,9 trilhões investidos no Brasil, 86,5% estão direcionados aos produtos mais conservadores do mercado.
De acordo com o instituto, organização que certifica os planejadores financeiros, em pesquisa exclusiva para o jornal “O Estado de S.Paulo”, o principal destino dos aportes em renda fixa é a previdência privada (aberta e fechada), com 32,44%. Além disso, a caderneta de poupança responde por 15,82% das aplicações. Confira, em valores, os principais investimentos em renda fixa:
- Fundos de Investimentos (R$ 1,799 trilhões)
- Fundos abertos de Previdência Privada (R$ 924,6 bilhões)
- Poupança (R$ 806,3 bilhões)
- Fundos fechados de Previdência Privada (R$ 730 bilhões)
- CDB/Recibos de Depósitos Bancários (R$ 400 bilhões)
- LCI/LCA (R$ 240 bilhões)
Para chegar a essa conclusão, a pesquisa utilizou as informações do mês de agosto disponibilizadas pela B3, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), do Tesouro Nacional, Banco Central (BC) e da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
Renda fixa apresenta rentabilidade menor
O estudo, conduzido pelo planejador José Raymundo de Faria Júnior, demonstra que a concentração de investimentos em produtos de renda fixa, hoje, majoritariamente, oferecem margens pequenas de rentabilidade. Além disso, os ganhos podem ser reduzidos a zero caso as previsões de outros cortes na Selic se concretizem.
Considerando o exemplo dos dois principais destinos dos aportes em renda fixa, a poupança tem um retorno real, já descontada a inflação, fixado em 0,57% ao ano; já os fundos previdenciários podem ter resultados distintos entre si, a depender da estratégia do fundo. No entanto, dificilmente o retorno real ultrapassa 1% ao ano.
“O que mostramos é que, hoje, o quadro de investimento do brasileiro não é ideal para uma economia onde o juro básico é tão baixo”, explica Faria Júnior. “As pessoas vão se assustar daqui a seis meses, um ano, um ano e meio, quando virem que seus rendimentos não estão rendendo nada”, afirmou.
Segundo o especialista, as perspectiva de novos cortes da taxa básica de juros, que de acordo com o Boletim Focus desta segunda pode chegar a 4,50% ao final deste ano, pode fazer com que os ganhos cheguem a margens negativas, casos onde são cobradas taxas de administração nos fundos.
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Faria Júnior disse que esse cenário deve levar o brasileiro a uma ruptura. “Esse momento (de juros real zero) virá e o investidor vai ter de assumir riscos. Esse quadro que estamos vendo, com 86,5% de investimentos na renda fixa, deve mudar”, relatou.
No entanto, de acordo com “O Estado de S.Paulo”, para grande parte dos gestores de fundos de renda fixa, os aportes aos investidores de produtos conservadores não devem diminuir
Para Luiz Parreiras, estrategista da Verde Asset, o que muda são as expectativas em relação à rentabilidade com esse modelo de investimentos. O especialista diz que continua existindo prêmios acima da inflação, como por exemplo, títulos do Tesouro Direto atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
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Parreiras ressalta que “[a queda de juros] é uma mudança estrutural no Brasil”.
Entretanto, com a estimativa do término de 2019 com a Selic a 4,50% e em 2020 um pouco maior, a 4,75%, os ganhos da renda fixa considerando a inflação podem ser tão pequenos que podem fazer com que os investidores busquem outras maneiras de alocarem seu capital.
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