Recuperação judicial deve dobrar e varejo será mais afetado, diz Siegen

O coronavírus (covid-19) deixará marcas nas empresas. Para a Siegen, consultoria especializada em recuperação de empresas e recuperação judicial, a crise causada pela pandemia deve fazer com que o Brasil tenha o dobro de pedidos de recuperação judicial em 2020, na comparação com o ano passado.

Segundo Fábio Astrauskas, economista e CEO da Siegen, há alguns setores que devem sofrer mais que outros e fazer com que o número de pedidos de recuperação judicial cresça. O principal, na avaliação do CEO, é o setor de varejo.

“Aqueles setores ligados ao comércio, setor terciário, principalmente no comércio varejista, por exemplo, cadeias de lojas em shopping, com alimentos, vestuário, que tinha,os dezenas de lojas e todas foram fechados, devem sofrer mais”, disse Astrauskas.

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Segundo ele, mesmo com a reabertura, o comércio ainda não voltou ao normal e o contra-peso do e-commerce não deve ser sentido em pequenas e médias empresas.

“Estamos falando então de médias empresas. Se pudermos focar onde estará a concentração de crise, ela estará em todos. Empresas ligadas ao comércio e de porte médio, com faturamento de até R$ 100 milhões por ano”, afirmou o CEO.

Em relação as companhias aéreas, que vêm sofrendo muito desde o início da crise, Fábio Astrauskas acredita que o setor deverá ter ajuda governamental para fugir da recuperação judicial.

“É muito provável que a solução seja, em alguns momentos, que o governo participe e entre como sócio, ainda que de maneira transitória e temporária”, disse.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com Fábio Astrauskas, economista e CEO da Siegen:

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-Como a pandemia influenciou os pedidos de recuperação judicial? Qual previsão para o segundo semestre?
Primeiro é importante dizer que quando veio a pandemia houve um entendimento, por parte do Poder Judiciário, que esse era um problema que tinha atingido a sociedade como um todo.

Então todas as ações de execução que estavam em andamento tiveram os prazos suspensos em sua maior parte. Isso acarretou que boa parte das empresas não tiveram a necessidade de recorrer a recuperação judicial pois já estavam protegidos por esse entendimento.

O primeiro impacto disso foi de diminuir o número de pedidos. Isso não quer dizer que as empresas não estavam em crise, contudo.

Em um segundo momento, ao longo desses três, quatro meses, várias medidas foram vinculadas para fazer uma proteção e evitar que, tão logo os prazos corressem, as empresas fossem à recuperação. O projeto de lei 13.97, aprovado em Maio na Câmara, se baseia em dois grandes campos.

O primeiro são medidas que incentivem as empresas e negociar sem litígio as dívidas para evitar entrar com ações de execução no Judiciário. Já o segundo conjunto são medidas que não conseguimos fazer essa negociação então a empresa teve que recorrer a uma recuperação .Então durante a pandemia, algumas regras facilitaram a vida do devedor.

O que ocorreu é que essa lei passou na Câmara, mas ainda não foi votada no Senado. Então, estamos em um momento de expectativa que, se isso for aprovado no Senado, teremos um quadro possível de expectativa de pedidos. Se ela não for aprovado, tudo muda.

-Quais são esses quadros?
Tendo uma aprovação da lei, poderemos ter um retardamento nos pedidos e que eles ocorram a partir de outubro. Caso a lei não seja aprovada ou demore para ser aprovada, já deveremos ver um crescimento nos pedidos de recuperação, pois as proteções vão diminuindo, a crise está se mostrando muito mais extensa do que prevíamos, então a quantidade de empresas com pedido vai aumentar muito.

As estimativas mais conservadoras dão conta como o dobro do pico de pedidos de recuperação, atingido no final do terceiro trimestre de 2016. Naquela época, atingimos algo como 900 recuperações judiciais e agora vamos ter o dobro disso.

Já as hipóteses mais alarmistas dão conta de três vezes esse número. Não importa se vai ser duas vezes ou três, mas fará com que tenhamos um colapso nas varas de falência, principalmente nas especializadas, como em SP e RJ.

Assim, teremos uma demora e um acúmulo muito grande de pedidos.

-Há algum setor que preocupa mais em relação a recuperação judicial?
Sim. Aqueles setores ligados ao comércio, setor terciário, principalmente no comércio varejista, por exemplo, cadeias de lojas em shopping, com alimentos, vestuário, que tinha,os dezenas de lojas e todas foram fechados, devem sofrer mais.

Mesmo com a reabertura, esse comércio ainda não voltou ao movimento normal. Teremos um contrapeso com e-commerce, mas nem todos os setores estavam preparados. Grandes corporações que já trabalhavam com e-commerce logística organizada e enfrentarem e saíram da pandemia, mas a maior parte não.

Estamos falando então de médias empresas. Se pudermos focar onde estará a concentração de crise, ela estará em todos. Empresas ligadas ao comércio e de porte médio, com faturamento de até R$ 100 milhões por ano.

Outros setores, em sequência, serão a indústria e menos afetado será o agronegócio.

-As companhias aéreas devem depender de ajuda do estado para sobreviverem. Qual a situação atual?
As de turismo eu incluo no setor de serviço. Então, essas empresas, não tenha dúvida, estão nessa categoria de serviços e várias delas terão que recorrer [a recuperação]. No caso das companhias aéreas, o tamanho e importância, os custos operacionais envolvidos, fazem com que seja natural e não só no Brasil, que tenha algum tipo de ajuda por parte do governo.

É muito provável que a solução seja em alguns momentos que o governo participe e entre como sócio, ainda que de maneira transitória e temporária.

Essa não é uma solução inédita. Se você olhar a história do mundo, você verá que isso ocorre bastante. E provável que ocorra no Brasil ou seja ao menos debatido.

O que diminui um pouco a preocupação em relação a isso é que já temos poucas companhias aéreas, com muita concentração, e é muito difícil imaginar que o governo deixe alguma outra desaparecer. A Latam já entrou com pedido, a Gol veio de uma recuperação e foi a empresa que inaugurou a lei de falências no Brasil, com a Varig, em 2005, e para termos uma ideia de quão importante o setor é até da segurança estratégica de um País.

É difícil imaginar que o governo não irá recorrer a um auxílio.

-Para o empreendedor, a recuperação judicial pode ser válida?
Aquele empresário que tem se visto na dúvida entre entrar ou não com um pedido ele deve buscar orientações no pedido de desmistificar o que é um pedido de recuperação, tanto do lado de curar todos os males ou algo que te crie uma pecha de mau pagador.

A recuperação é uma ferramenta que deve ser utilizada com parcimônia, mas que deve ser conversada entre os executivos de uma maneira sem preconceito, ou algumas empresas podem perder a oportunidade de entrar no tempo certo ou entrar sem necessidade.

Vinicius Pereira

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