Apesar da negativa do governo sobre a possibilidade de racionamento de energia, os empresários seguem preocupados com a situação atual. Segundo dados de levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 62% deles acreditam que é provável ou certo que isso venha a ocorrer.
Os principais fatores que corroboram a tese de um racionamento são a crise hídrica e as condições de fornecimento nos próximos meses, considerando a grave situação dos reservatórios.
Além disso, dos entrevistados pelo CNI, 7% dizem ter certeza que será necessário impor esse tipo de medida.
Publicamente, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sempre descarta que o governo trabalhe com a possibilidade de um racionamento de energia, como aconteceu 20 anos atrás.
Diante da gravidade da crise hídrica, o governo chegou a elaborar uma medida provisória que abria caminho para um programa de “racionalização compulsória“.
O trecho, no entanto, foi retirado após repercussão negativa. Para especialistas, o governo trata a crise hídrica da mesma forma que a sanitária, com negacionismo.
Apenas 3% dos empresários descartam possibilidade de racionamento
Os dados apontam que 28% dos empresários acreditam que provavelmente a medida não será adotada e apenas 3% descartam completamente a possibilidade.
“Existe um risco real que a gente corre de possível racionamento. Então acho que todos têm essa preocupação, mas não é uma certeza. O governo já vem tomando algumas medidas importantes e o setor elétrico é mais robusto do que era em 2001 (quando o governo decretou racionamento de energia)“, afirmou o especialista em energia da CNI, Roberto Wagner Pereira.
Segundo ele, simulações apontam que, se todas as medidas que vêm sendo implementadas pelo governo derem certo, o risco de racionamento ficará no patamar que o setor elétrico já trabalha normalmente.
Mas isso também depende de como será a situação no próximo período de chuvas. Se as chuvas ficarem abaixo da média novamente, o problema será ainda pior em 2022.
“O principal problema, se por acaso vier a acontecer um racionamento, é que afeta diretamente a produtividade. Se você tem que limitar o uso de energia, diminui ou afeta a produção, em um momento que a indústria está começando a aumentar a recuperar as perdas que tivemos durante o período da pandemia. Isso afeta diretamente a recuperação da Indústria”, explicou.
Preço da energia é preocupação recorrente
Segundo dados da CNI, nove entre cada dez empresários consultados se preocupam com a crise hídrica, sendo que as maiores preocupações são o aumento do custo da energia, apontado por 83%, o racionamento (63%) e a possibilidade de instabilidade ou interrupções no fornecimento de energia (61%).
Praticamente todos os empresários consultados acreditam que o custo da energia vai aumentar nos próximos meses.
Dos 98% que têm essa opinião, 47% acham que aumentará muito, 37% dizem que aumentará moderadamente e 14% acreditam que aumentará pouco.
O temor com o preço da energia elétrica nos próximos meses está diretamente ligado à competitividade.
Em média, 52% dos empresários acreditam que haverá uma redução na competitividade de suas empresas, sendo que 39% dizem que isso acontecerá provavelmente, enquanto 13% afirmam ter certeza.
A preocupação maior é presente nos setores em que a energia representa uma parcela maior dos custos totais das empresas, e entre os empresários que acreditam que haverá racionamento ou aumento grande no custo com energia.
Panorama pode frear crescimento econômico
Empresários também manifestaram temor com o potencial da crise hídrica e energética de frear o crescimento da economia e com a possibilidade de racionamento, aumento ou instabilidade no fornecimento de água, principalmente nas regiões que enfrentam a seca.
De acordo com a CNI, o impacto da crise hídrica sobre o uso de água é limitado regionalmente. “O uso da água no processo produtivo não atinge todos os setores industriais da mesma forma; há setores que não utilizam água em seu processo produtivo e outros nos quais o uso da água é relevante.”
Para colher a percepção sobre a possibilidade de um racionamento de energia, a CNI ouviu 572 empresas, 145 de pequeno porte, 200 médias e 227 grandes, no período de 25 de junho e 2 de julho.
Com informações do Estadão Conteúdo