QueroQuitar faz negócio com brasileiros endividados e cresce 600% na pandemia

Com o maior desemprego na pandemia, o número de nomes negativados aumentou significativamente, chegando a quase metade da população ativa no Brasil. Ao atender à necessidade de negociação de dívidas deste grupo, a fintech QueroQuitar viu sua base de clientes disparar, e agora já sonha em ultrapassar as fronteiras do país. Fundada em 2015, o foco da empresa é aproximar devedor e credor.

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A empresa funciona como uma plataforma de marketplace de dívidas, onde credores adicionam as carteiras de crédito a recuperar, com as regras de negociação e contatos do devedor. “De um lado, enchemos a plataforma com as dívidas – que é o produto em si –, e do outro lado empoderamos o devedor a negociar o débito no tempo dele, de forma transparente e com as melhores condições”, disse Marc Lahoud, CEO da QueroQuitar, em entrevista ao SUNO Notícias.

A empresa atua como um agente de solução, e ganha dinheiro por meio de uma sucess fee (taxa de sucesso, em inglês) dos débitos negociados. O serviço é gratuito aos clientes e favorável aos credores, já que eles remunerarão a companhia somente se o crédito for recuperado.

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A operação da empresa ganhou notoriedade desde o início de 2020. Pouco antes da chegada da pandemia, a QueroQuitar tinha oito milhões de clientes cadastrados na plataforma, e esse número saltou para 56 milhões atualmente. Um avanço de 600% em menos de um ano e meio.

O número de credores parceiros também subiu, de 12 para 25, entre eles Santander (SANB11), Tribanco, BMG, BV e securitizadoras como Grupo Recovery e Itapeva. O número deve chegar a 32 até o fim do ano.

Segundo Lahoud, os grandes credores do País observaram que as empresas de telemarketing e assessorias de cobranças, que faziam esse trabalho de resgate de crédito, perderam efetividade durante a pandemia, sobretudo por conta das restrições nos ambientes de trabalho. A tendência, de acordo com ele, é esse segmento migrar cada vez mais para o digital.

Em uma realidade de 64 milhões de pessoas e 5,6 milhões de empresas negativadas, ainda há muito o que ser feito. As pequenas e médias empresas (PMEs), mais impactadas pela pandemia por conta de uma eventual falta de capital de giro e de acesso a crédito saudável, respondem por 70% dos empregos formais privados, segundo o Sebrae.

“Trata-se de uma dor social que procuramos atender com uma solução. Fala-se pouco do endividamento, que é muito comum no Brasil”, comenta o executivo.

Mercado de capitais faz parte do cerne da QueroQuitar

Desde que foi constituída, a QueroQuitar já recebeu cerca de R$ 9 milhões em aportes financeiros. A empresa possui investimentos da BR Startups, encabeçada pela Microsoft (MSFT34), além de investidores anjo e já chegou a trabalhar junto a family offices. Uma rodada de investimentos está aberta e deve ser concluída nos próximos dias.

“Se olharmos como chegamos até aqui, até nos tornarmos uma scaleup, não conseguiríamos sem esse recurso, como quase toda startup de sucesso”, comenta Lahoud. Agora, a empresa passa a olhar investidores estratégicos, que possam, de fato, alavancar o crescimento e a rentabilidade da empresa.

“Na transição para a série B de investimentos, passamos a olhar para investidores estratégicos, para alçar voos ainda maiores. Com isso, até pensamos em internacionalização de negócios, pois ainda vemos essa lacuna nos mercados fora do Brasil”, pontua.

O CEO comentou que nos Estados Unidos, por exemplo, a população é muito mais endividada que no Brasil, mas o crédito no mercado é de melhor qualidade. O espaço para atuação seria na ligação entre os que precisam de recursos e esse crédito de longo prazo e com taxa de juros mais baixas.

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Parcerias e iniciativas de disciplina financeira

O público atendido pela QueroQuitar é amplo, de 18 anos a 60 anos. As dívidas contraídas são as mais variadas, desde cartão de crédito — o tipo de endividamento mais danoso — até consignado e crediário de varejistas. Essa divisão varia conforme o segmento do credor, entre bancos, securitizadoras, entre outros.

A companhia destaca que, em média, um brasileiro tem quatro dívidas em aberto. Isso na pessoa física, pois na pessoa jurídica o número sobe para 10 dívidas. A “dor” que a fintech procura resolver pode ser sanada através da educação financeira e geração de renda extra, próximos focos da empresa.

A QueroQuitar criou o QueroRenda, que estimula a disciplina financeira e a geração de uma segunda fonte de dinheiro, os primeiros passos para que as finanças pessoais voltem aos trilhos e que a massa de endividados do País recue.

Com isso, a fintech proporciona uma série de ferramentas para ajudar os clientes, como aplicativo de gestão de receitas e despesas e até o parcelamento de boletos, além de um blog com artigos e aconselhamento.

A iniciativa que ainda está engatinhando vai de encontro com as classes C, D e E, as que consomem mais crédito e precisam de educação financeira, na visão de Lahoud. De olho nisso, a empresa recentemente fechou uma parceria com o Jeitto, plataforma de concessão de crédito sem juros para desbancarizados.

A ideia da empresa começou há alguns anos, em um programa da Caixa Econômica Federal que incentivava projetos de impacto social. O Jeitto ficou entre os primeiros colocados e chamou atenção da QueroQuitar.

“Eles são uma fintech de impacto como nós, atingindo o público que tem pouco acesso a crédito de qualidade”, comenta o executivo. “Estamos no começo da implementação dessa recomendação de captação de recursos em nossa plataforma.”

Lahoud comenta que o crédito no Brasil foi concebido majoritariamente como de curto prazo e com custo muito alvo. “No mundo interno ocorre o inverso. A qualidade do endividamento no Brasil é péssima.”

A empresa tem iniciativas além da parceria com o Jeitto que estão em implementação, como produtos com uso de bens para a garantia de pagamento de dívidas. Normalmente, essas modalidades têm juros muito mais saudáveis aos clientes.

“Além de tudo, primeiramente o brasileiro precisa se organizar melhor em relação ao crédito”, comenta o CEO da QueroQuitar. “É importante ressaltar que não é bom que o crédito seja captado sem nenhuma razão; e se tiver que captar o crédito, terá de ser de melhor qualidade.”

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Jader Lazarini

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