O Ibovespa perdeu força na tarde desta quinta-feira (5) e virou de ganhos para perdas ao fechar em queda de 0,14%, aos 121.632,92 pontos. A relativa empolgação após o endurecimento da postura do Copom sobre a inflação, vista no comunicado da quarta à noite, deu lugar no pregão à retomada de temores sobre a situação fiscal.
Nem mesmo o forte balanço e a sinalização sobre dividendos da Petrobras (PETR4) foram suficientes para impedir o Ibovespa de mergulhar em uma correção mais intensa no dia de hoje. Ao menos as ações da estatal amorteceram a queda no Ibovespa ao subir 7,87%, negociadas a R$ 28,37.
Risco fiscal e queda do minério na China
A sessão inconstante desta quinta foi afetada também pela notícia sobre um novo Refis: empresas e pessoas físicas poderão utilizar precatórios federais, próprios ou de terceiros, para amortizar o saldo devedor remanescente.
O parecer do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) foi interpretado pelo mercado financeiro como um pacote pouco fiscalista, num momento em que o governo busca ganhar tração, de olho nas eleições 2022. O Ibovespa sentiu a pressão.
Depois do “devo, não nego, pago quando puder“, do ministro Paulo Guedes, e da insistência do presidente Jair Bolsonaro em elevar o Bolsa Família a R$ 400 – mesmo ante resistência da equipe econômica a esse valor -, a conjugação de parcelamento de precatórios com ampliação de programa social visando à reeleição tem ferido a confiança do mercado. A percepção foi de risco fiscal do governo no horizonte.
A quinta foi ruim ainda para as empresas ligadas ao minério de ferro. A commodity fechou o dia com queda de 6,6% na China, com a tonelada negociada a US$ 171,55. A Vale (VALE3) caiu junto.
Vale ON (-3,06%) e as ações de siderurgia (CSN ON -3,96%) reagiram à queda pronunciada, de 6,61%, no minério de ferro em Qingdao, a US$ 171,55 por tonelada. A commodity sentiu a pressão dos sinais de que a China deve ampliar restrições sobre a produção de aço, em um quadro de piora da demanda.
Com isso, Bradespar (-5,11%), que tem participação no capital da Vale, ancorou a ponta negativa do índice, à frente de Braskem (-4,17%), Gerdau (GOAU4), -3,07%. e CSN (CSNA3), -3,96%.
O índice da B3 foi então da mínima de 121.128,39 à máxima de 123.540,76, com giro financeiro reforçado, a R$ 42,0 bilhões.
Lucro da Petrobras surpreendeu
O recuo poderia ter mais forte. “Não fosse Petrobras, o pregão teria sido pior – e no momento em que grandes empresas de energia e de commodities, como Rio Tinto, Glencore, entre outras, têm batido estimativas”, diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch. O executivo lamenta ainda que o Ibovespa não consiga acompanhar o sentimento positivo do exterior, devido à interpretação de risco sobre Brasil, que tem afetado a precificação de ativos do País.
O lucro surpreendente da Petrobras no segundo trimestre após prejuízo impulsionaram as ações da companhia na Bolsa brasileira.
Os ADRs da petrolífera negociados em Nova York reagiram em forte alta ontem mesmo e deram continuidade ao movimento hoje. Os papéis na Bolsa brasileira já avançavam na faixa de 7,50% perto de 10h30, enquanto o Ibovespa tentava defender os 123 mil pontos.
Tensões em Brasília
Questões internas podem continuar incomodando. A tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) aumenta o risco de instabilidade política e preocupa o mercado, cita em nota a CM Capital. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, acolheu notícia-crime enviada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que Bolsonaro seja investigado no inquérito das fake news.
Os investidores tendem a reagir mal à pressa da Câmara em votar a mudança do imposto de renda. Ontem, a Casa aprovou a urgência de proposta de reforma tributária do imposto de renda por 278 a 158 votos, permitindo que o texto fure a fila e possa ser pautada em plenário imediatamente.
Já a proposta do governo para parcelar o pagamento de precatórios pode ampliar ainda mais a folga para novos gastos em
“O que está provocando isso é a reeleição de Bolsonaro: com a popularidade que ele tem hoje, a reeleição não cabe no fiscal. Tão simples quanto isso, o que se reflete em prêmios de risco em todo tipo de ativo brasileiro”, diz Attuch, chamando atenção também para o câmbio.
Em dia de Ibovespa fraco, câmbio tem virada
Mesmo que o mercado tenha mostrado a princípio algum otimismo com o comunicado do Copom, o dia foi de depreciação do real. Aqui, o dólar à vista fechou em alta de 0,57%, a R$ 5,2156, tendo chegado na máxima aos R$ 5,2261, saindo de mínima, pela manhã, a R$ 5,1113.
“Conforme esperado, o aumento da Selic ficou em 1%, e o comunicado mais duro também se confirmou, com indicação sobre elevação do juros acima do nível considerado neutro, para ancorar as expectativas inflacionárias. Até o fim do ano, esperamos Selic a 7,5%”, diz Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.
Passado o Copom, a situação fiscal permanece no foco do mercado. E o parecer protocolado nesta quinta pelo senador Fernando Bezerra para novo Refis não contribuiu para melhorar o humor do investidor. Resultado: virada no câmbio e em ajuste nos juros, que foram às máximas do dia, trazendo o Ibovespa para terreno negativo.
Na semana e no mês, o Ibovespa recua agora 0,14%, colocando os ganhos de 2021 em +2,20% – com riscos de terminar agosto com saldo negativo para o mês e o ano.
Destaques do Ibovespa no dia
Mesmo com os sinais de Selic mais encorpada ao longo deste segundo semestre, as ações de bancos, em meio a uma temporada, em geral, favorável de resultados trimestrais, estiveram entre as perdedoras do dia. Destaque para Bradesco ON (-1,68%) e Banco do Brasil ON (-1,78%).
No lado oposto, puxaram os ganhos do Ibovespa a Petrobras ON (+9,63%) e a PN (+7,88%), com destaque também nesta quinta-feira para Magazine Luiza (+2,51%) e Totvs (+1,81%).
Com informações de Estadão Conteúdo.