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Quatro razões pelas quais a inflação nos EUA assusta cada vez mais os mercados

inflação

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Um espectro ronda os mercados financeiros. O espectro da volta da inflação nos Estados Unidos.

A combinação de políticas monetárias e fiscais ultra-expansionistas está gerando o temor que um surto de inflação poderia sacudir os mercados internacionais.

Uma onda de alta dos preços que começaria nos Estados Unidos e que poderia se espalhar rapidamente no mundo inteiro.

Isso pois os trilhões de dólares injetados pelo governo e pela Federal Reserve (Fed) nos últimos 12 meses foram gasolina pura para o tanque da economia dos EUA.

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Milhões de litros de um combustível que ajudou o país a se recuperar da crise provocada pelo coronavírus (covid-19). Mas que poderiam pegar fogo com uma faísca qualquer, como a inflação. Gerando um efeito explosivo e repentino.

1 – Risco de tapering

Mas mais do que a alta dos preços, o maior medo dos mercados é que esse surto de inflação force o Federal Reserve a reduzir o estímulo monetário de forma mais abrupta do que hoje se pode imaginar.

Isso mesmo se o presidente do Fed, Jerome Powell já garantiu em várias ocasiões que isso não iria ocorrer.

E esse possível tapering do Fed poderia ser a agulha capaz de estourar as inúmeras bolhas nos mercados financeiros que as mesmas políticas monetárias ajudaram a inflar.

Pela primeira vez em mais de dez anos, essa situação está gerando preocupações nos analistas. Já que surgem primeiras evidências nos dados, especialmente nos Estados Unidos, de uma alta nos preços.

É verdade que o índice de preços ao consumidor dos EUA em janeiro foi fraco (+0,3% no mês, +1,4% no ano). Mas também é verdade que outros indicadores apontam para risco de sobreaquecimento dos preços.

A previsão de inflação média anual para os próximos 10 anos a partir das taxas dos títulos da dívida do governo indexados (o chamado breakeven inflation) é de 2,2%: a mais alta desde 2014.

A previsão para um período de dez anos no mercado de swap atingiu 2,45%: o maior nível desde outubro de 2018.

O temor do mercado, portanto, é que, quando a pandemia passar, a inflação nos EUA suba tanto ao ponto de colocar o Fed diante de uma difícil escolha: deixar a inflação subir para proteger a recuperação econômica ou sacrificar a recuperação para evitar espirais inflacionárias?

Entretanto, outros analistas consideram esses alarmes excessivos.

A resposta aos que temem uma volta da inflação é a mesma há mais de uma década: nada aconteceu depois de tantos anos de políticas monetárias ultra-expansionistas, por que deveria acontecer agora?

Mas dessa vez, de fato, poderia ser diferente.

2 – Políticas fiscais e monetárias ultra-expansionistas

A primeira razão é que, pela primeira vez, as políticas monetária e fiscais são ultra expansionistas. E isso no mundo todo.

No passado, somente a política monetária injetou gasolina na economia. A fiscal tinha ficado do lado.

Por isso não é um acaso que as preocupações se concentram sobretudo nos Estados Unidos: porque o governo de Joe Biden está prestes a lançar um novo plano de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão.

Somando esse bazuca fiscal aos US$ 900 bilhões aprovados em dezembro de 2020, estamos falando de um estímulo de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) americano.

Além disso, se Biden também pudesse cumprir sua promessa de aumentar o salário mínimo de US$ 7,5 para US$ 15, as pressões inflacionárias aumentariam.

O que é desejável do ponto de vista social pode, portanto, ter implicações preocupantes nos mercados.

Em recente um artigo publicado no Washington Post, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro na época do presidente Bill Clinton, falou sobre essa situação.

“Existe a possibilidade de que um estímulo macroeconômico mais comparável ao da Segunda Guerra Mundial do que a uma recessão normal possa criar pressões inflacionárias de uma entidade nunca vista por gerações. Temo que conter essa pressão sem causar uma recessão possa ser mais difícil desta vez do que no passado”, explicou Summers.

O risco é que uma recuperação do PIB dos EUA de 6 a 8% este ano ajude a reduzir antes do previsto o chamado output gap, ou hiato do produto, que é a diferença entre o PIB potencial e o real. Gerando a clássica pressão de inflação de demanda.

Powell, por sua vez, jogou água no fogo. Segundo ele, a inflação não é um perigo e o foco do Fed está na recuperação dos empregos.

Mas o medo no mercado permanece. Até porque, além das políticas monetária e fiscal, existem outros elementos potencialmente inflacionários.

3 – Bancos contribuem também para a inflação

O sistema bancário é um deles. Na última década, enquanto o Fed injetava liquidez a todo vapor, os bancos foram forçados a realizar duras reestruturações.

A severa regulamentação produzida após a quebra do Lehman Brothers em 2008 os forçou a se proteger. Isso pesou sobre a recuperação econômica após 2008, sufocando a inflação.

Uma situação muito bem descrita pelo então secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, em 2017.

“O crescimento do crédito foi menor do que em recuperações econômicas anteriores: apenas 25%. Percentagem menor do que aos aumentos de 64%, 30% e 87% que se seguiram às recessões de 2001, 1990-91 e 1981-82″, escreveu Mnuchin na época.

Desta vez, porém, é diferente: os bancos não são mais obrigados a reduzir suas atividades como fizeram na última década. E essa diferença não é pequena. E também pode ter implicações inflacionárias.

4 – Aumento da poupança por causa da pandemia

Além disso, os lockdowns e quarentenas no mundo inteiro aumentaram o volume de dinheiro nas contas correntes do planeta todo.

Mesmo nos EUA, onde essas limitações de liberdade individual foram menores em relação a outras regiões.

Somente no Brasil foi poupado cerca de 15% do PIB, ou mais R$ 756 bilhões, por famílias e empresas.

Quando a pandemia acabar, essa massa monetária estará de volta à circulação. Alimentando a economia, mas também a inflação.

Na verdade, já existem vários setores nos Estados Unidos que apresentam preços em alta. Parte da manufatura, por exemplo, mas também os preços das matérias-primas.

Sem falar dos aluguéis, que sozinhos respondem por 33% no principal índice de preços ao consumidor dos EUA ,e que estão aumentando especialmente fora das grandes cidades, provocada pela desurbanização que levou muitos americanos a escolher de viver fora dos centros urbanos para evitar o coronavírus.

É óbvio que as poderosa forças deflacionárias que conhecemos nos últimos anos permanecem, como o envelhecimento da população e o avanço da tecnologia. Mas, em comparação com a década passada, muitos mais elementos estão pressionando a inflação para cima.

É por isso que tantos temem o fantasma da inflação.

Fed vai tolerar uma inflação maior?

Um surto temporário nos próximos meses, devido ao salto de um ano deprimido como 2020, sem dúvida será tolerado pelo Fed.

Assim como quaisquer tensão subsequentes sobre os preços, uma vez que o banco central dos EUA mudou sua meta de inflação, de 2% para 2% “médio”, se preparando para uma maior tolerância.

Em suma, o Fed tem margens de manobra para evitar uma política monetária restritiva. Powell já flou isso de todas as maneiras. Além de reiterar que seu foco está na manutenção dos empregos.

Mesmo assim, o problema permanece. Se a inflação pós-pandemia subir bem acima da meta de 2%, o que o Fed faria? Até onde pode resistir? Qual será o máximo tolerável?

Mais cedo ou mais tarde o Fed poderá se encontrar diante de um dilema de política monetária: esfriar a inflação sacrificando a recuperação, ou salvar a recuperação tolerando a inflação. A famosa Curva de Phillips do Gil do “BBB”.

Em breve os investidores poderão se encontrar diante de um novo cenário: o fim da política monetária ultra-expansionista.

E para um mercado global que tem US$ 18 trilhões em títulos de juros negativos em circulação, que tem mercados de ações em altas recordes e muitas classes de ativos hiperinflacionados, o problema seria sério.

Hoje o mercado espera que as taxas do Fed continuem no zero até 2023, mas as expectativas de inflação já estão em 2,3%. Estas duas previsões correm o risco de se tornarem incompatíveis. E os investidores correm o risco de serem pegos desprevenidos.

É por isso que já surgem “planos de emergência contra a inflação”. O Bank of America já aconselhou seus clientes estudar imediatamente hedges contra esse risco.  Que ainda considera remoto. Mas caso ocorra, seria um terremoto muito forte para a economia global.

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