O desastre iniciado pela pandemia global de coronavírus (covid-19) está aumentando. Além do número dramático de vítimas, que não para de crescer, a epidemia está gerando crises econômicas em todas as economias do mundo.
A situação continua séria, mas não faltam razões para ter esperança com o futuro. Mesmo com as notícias de crises econômicas vindo de muitos setores.
A China, segundo os dados oficiais, já não teria mais casos de contaminação pelo coronavírus. A Itália também já tem mais casos de pacientes curados do que de óbitos. E, segundo as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma vacina parece próxima de ser encontrada.
Entretanto, isso não deve ocorrer em um curto espaço de tempo e permanece a preocupação com a renda e o patrimônio das famílias. Os mercados sofreram uma queda violenta. Desde o pico da alta máxima, ocorrida no dia 23 de janeiro, quando o Ibovespa chegou a 119.527 pontos, em menos de 50 dias o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) perdeu mais de 55% de seu valor, chegando a 66 mil pontos.
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Wall Street também está em modalidade urso, o famoso bear market, com o S&P 500 tendo perdido 30% no mesmo período. Um resultado negativo gerado também pela queda abrupta dos preços do petróleo, depois da cúpula ampliada da OPEP que provocou a guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita.
A pergunta que não quer calar é: quando tudo isso terminará? Alguns indícios sobre quando voltaremos a ver a luz no fim do túnel podem aparecer olhando para as séries históricas dos mercados. Entretanto, é preciso manter em mente que cada crise é diferente das outras.
Veja como foram as outras crises econômicas recentes
De 1800 até hoje, nos Estados Unidos, principal mercado financeiro do mundo, a Bolsa de Valores entrou em modalidade “urso” – que identifica uma queda de preço de mais de 20% das ações – 27 vezes. A mais ruinosa remonta a setembro de 1929, e durou 33 meses, até junho de 1932, e produziu uma queda de preços da ordem de 85%, muito superior à observada durante a crise dos subprime (-57% ) ou com o estouro da bolha do dot.com (-49%).
Entretanto, depois de todas essas crises a Bolsa de Valores sempre se recuperou após alguns meses. Para entender como foi a tendência nas crises no passado, o SUNO Notícias comparou as últimas quatro grandes crises nacionais e internacionais:
- a crise dos mercados asiáticos e da Rússia de 1997;
- a eleição de Lula em 2003;
- a falência do Lehman Brothers em 2008;
- o Impeachment da Dilma e o referendo sobre o Brexit em 2016;
O que aparece nas séries históricas é que os tempos de recuperação das ações variam muito, como a manutenção dos preços após a recuperação. Isso porque cada crise teve diferentes condições em que ocorreu. O contexto econômico anterior a crise altera também o tempo e a intensidade da volta à normalidade.
Andamento do Ibovespa de 1990 até 2020
Crise russa e asiática – 1997
No final dos anos 1990, as principais economias asiáticas, as chamadas “tigres asiáticas“, entraram em forte crise econômica. Esse conjunto de países emergentes do Sudeste Asiático que até então tinham se destacado por um grande crescimento registraram uma diminuição entre 10% e 15% do Produto Interno Bruto (PIB).
A crise dos tigres asiáticos foi a primeira grande crise dos mercados globalizados. Diversas ações cotadas em Bolsas de Valores do mundo inteiro chegaram a cair em 60%. O crescimento econômico global ficou contido em 1998 e 1999. Os impactos foram sentidos por diversas nações e blocos econômicos, inclusive União Europeia, Estados Unidos, e Brasil.
A Rússia foi um dos principais países afetados, pois estava ainda na fase de transição de uma economia socialista para o livre mercado. A moeda local, o rublo, acabou se desvalorizando pesadamente. Assim como a Bolsa russa, que entrou em colapso. O presidente da época, Boris Yeltsin chegou a demitir todo o governo.
No Brasil, os mercados de capitais também sofreram muito, assim como o real, que naquele momento perdeu sua paridade com o dólar. Até então a moeda brasileira tinha chegado a valer até mais da moeda norte-americana.
Andamento do Ibovespa a partir de junho de 1997 | |
Nível pré queda | 13.617 pontos |
3 meses | -34,01% |
6 meses | -29,84% |
12 meses | -27,19% |
36 meses | 25,51% |
“Naquela crise o Ibovespa chegou a perder quase 35% nos primeiros três meses. O período de baixa continuou até um ano depois, por causa das consequências locais da crise, e também pelas turbulências internacionais”, explica João Arthur Almeida, especialista em renda variável da SUNO Research, “Entretanto, quem segurou firme os nervos e manteve suas posições pensando no logo prazo foi premiado: a Bolsa voltou a subir logo em seguida e 36 meses após a crise já acumulava uma alta de mais de 25%”.
Eleição de Lula – 2002
Entre 2002 e 2003, a economia brasileira viveu um forte solavanco provocado pela chegada ao poder do então candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva.
A perspectiva de eleição de Lula levou a um pânico nos mercados financeiros, amedrontados pelas promessas de campanha muito radicais. Com isso, o Ibovespa chegou a cair até 24% no primeiro semestre de 2002.
Andamento do Ibovespa a partir de janeiro 2002 | |
Nível pré queda | 14.331 pontos |
3 meses | -6,03% |
6 meses | -24,00% |
12 meses | -19,04% |
36 meses | 56,64% |
“O mercado se antecipou em relação ao medo do governo petista, de como eles poderiam intervir na economia. Mesmo com gestos de abertura ao mercado por parte do PT, como a Carta aos Brasileiros, ainda existiam temores muito grandes de como o governo iria agir em relação a iniciativa privada”, explicou João Arthur.
Para o especialista da SUNO Research, o mercado estava muito pessimista. “Foi apenas um o outro gestor que naquele momento conseguiu se posicionar para surfar toda a onda. Boa parte dos gestores se posicionaram um pouco depois. E logo em seguida, quando tudo se acalmou, tivemos um dos períodos de maior valorização da Bolsa”, salientou João Arthur.
Crise dos subprime – 2008
Em setembro de 2007, iniciou-se uma crise que se tornaria a maior desde a grande depressão de 1929. A crise do subprime pegou o mundo de surpresa e atingiu em cheio as Bolsas de Valores do planeta.
O auge da crise ocorreu em setembro de 2018, quando um dos mais antigos e tradicionais bancos norte-americanos, o Lehman Brothers, quebrou de forma repentina.
A falência do Lehman foi apenas o fim simbólico da “bolha imobiliária americana”, que vinha ocorrendo desde o começo dos anos 2000. Entretanto, o início da crise ocorreu a partir da forte queda do índice Dow Jones em julho de 2007. O colapso hipotecário arrastou muitas instituições financeiras americanas para a insolvência.
No Brasil também a Bolsa de Valores sofreu muito nessa época, chegando a cair quase 50% até o final de 2008, mas se recuperando muito rapidamente.
Andamento do Ibovespa a partir de dezembro 2007 | |
Nível pré queda | 65.638 pontos |
3 meses | -10,38% |
6 meses | -2,58% |
12 meses | -47,07% |
36 meses | 8,01% |
“A crise de fato foi estourar no meio de 2008. Quando olhamos para o final de 2007, vemos que a queda ainda não havia começado. Foi uma crise no Brasil de queda abrupta e recuperação rápida. A Bolsa caiu em volta de 50%, muito rapidamente. Foi algo impressionante”, explica João Arthur, “entretanto, ocorreu algo que os analistas chamam de “recuperação em V, poi o gráfico mostra uma recuperação muito rápida”.
O especialista explicou que, mesmo na economia real, o Brasil foi um dos países que saiu mais rapidamente da crise. Mas foram colocadas as premissas nesse momento para a crise de 2015-2016.
Crise do impeachment e Brexit – 2016
Em 2015-2016 o Brasil sofreu uma tempestade perfeita. A crise foi seja doméstica que internacional. O país vivia um momento de forte dificuldade econômica por causa da desastrada gestão da então presidente Dilma Rousseff.
Muitas empresas estatais, como a Petrobras, foram utilizadas como instrumentos para manter a inflação artificialmente baixa. Por exemplo obrigando a petrolífera a vender combustível a preço subsidiado no mercado interno.
Algo que devastou suas contas e se repercutiu em seu título, que despencou para R$ 5 entre final de 2015 e começo de 2016. Sozinha, a Petrobras representava mais de 12% do total do Ibovespa na época.
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Além disso os contínuos escândalos de corrupção que envolveram o governo e o PT, além do avanço das investigações da Operação Lava Jato, levaram o país para uma crise de confiança muito forte. Com obvias repercussões na Bolsa.
Além disso, o referendum que decretou a saída do Reino Unido da União Europeia, em junho de 2016, também gerou fortes turbulências nos mercados mundiais. Com repercussões também no Brasil.
Andamento do Ibovespa a partir de janeiro de 2015 | |
Nível pré queda | 4.8512 pontos |
3 meses | 7,85% |
6 meses | 9,32% |
12 meses | -21,80% |
36 meses | 27,71% |
“Essa crise foi mais complicada pois o modelo econômico que governo impôs ao Brasil desde 2002 dava sinais de ser insustentável. Essa crise parecia sem fim, e da qual sofremos consequências até hoje”, explicou João Arthur, “a grande verdade é que mesmo se a Bolsa se recuperou ainda não conseguimos sair do buraco que essa crise gerou. O PIB não consegue engrenar pra crescer 2-3%. Inclusive 2020 era um ano que muitos analistas previam um crescimento de 3%. Mas esse ano não terá como”.
Evite o pânico na Bolsa
Todas essas crises mostram como, em alguns meses, as Bolsas de Valores voltaram a se recuperar. E quem evitou o pânico e manteve os nervos sólidos conseguiu ter bons resultados.
“Em situações de pânico, os valuation das ações podem cair abaixo do nível que seria razoável. O mercado às vezes precifica que o cenário de crise irá se perpetuar. É em casos como este que podem aparecer oportunidades para os investidores de longo prazo.”, explicou João Arthur, “Por isso, para quem tem uma visão de bastante longo prazo pode ser um momento para começar a estudar ativos que estão em um valuation atrativo e que possuem uma grande resiliência econômica e que irão sobreviver a essa crise. Não por acaso, Warren Buffett está comprando, e na pessoa física. É um sinal”.