Qualicorp (QUAL3): CVM investiga possível ‘insider trading’ na companhia
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está investigando um possível caso de insider trading na Qualicorp (QUAL3). A autarquia acusa a diretora de Relações com Investidores, Grace Tourinho, e seu marido, José Tourinho, de se aproveitarem de informações privilegiadas em 2018.
Segundo o jornal “Valor Econômico”, que teve acesso ao processo da CVM, o casal teria vendido suas ações da Qualicorp dias antes de ser divulgado o acordo de R$ 150 milhões e de não competição da empresa com o seu fundador, José Seripieri Filho. A empresa anunciou um “lock-up” das ações, o que foi visto com maus olhos pelo mercado e fez a ação cair mais de 30% em uma semana.
De acordo com a área técnica da CVM, a executiva e seu cônjuge venderam papéis de sua carteira pessoal em “posse de informação relevante ainda não disponibilizada ao público”.
As vendas foram realizadas pelo casal nos dias 18 e 19 de setembro de 2018, enquanto a divulgação dos termos gerais do acordo fechado com Seripieri Filho foram divulgados no dia 21 de setembro. A defesa dos acusados diz que a diretora não teve qualquer acesso a dados que pudessem lhe indicar as tratativas que ocorriam com o presidente da companhia.
O processo da CVM não informa os valores negociados, mas diz que as vendas das ações da família Tourinho à época foi na casa de “milhões” de reais. A acusação a diretoria da companhia foi aberto em maio de 2019. O presidente da autarquia, Marcelo Barbosa, foi sorteado como relator e o caso pode ir a julgamento. No entanto, pode ser apresentada proposta de acordo para encerrar o processo.
Quanto questionada pela CVM, a Qualicorp informou que a executiva foi informada apenas no dia 21 de setembro sobre os termos gerais do “contrato de retenção” de Seripieri Filho, aprovado pelo Conselho de Administração. Também disse que a empresa analisava a possibilidade de apesentar a proposta ao presidente desde março daquele ano.
“A despeito de não pertencer ao conselho de administração, percebe-se que a sra. Grace Tourinho teve participação no progresso dos trabalhos”, diz a acusação criada pela Superintendência de Relações com o Mercado (SMI), conforme relatou o “Valor Econômico”.
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A defesa da diretora de RI, apresentada em dezembro de 2019, no entanto, salienta que a acusação utilizou “premissas equivocadas amparadas em fatos inverídicos e interpretações completamente forçadas e distorcidas dos depoimentos prestados” por Grace e José Tourinho sobre as operações.
As operações de venda de Tourinho e seu marido, de acordo com a SMI, foram feitas no mesmo dia em que o presidente do Conselho de Administração enviou um e-mail aos demais membros do colegiado, dizendo que aguardava a “validação final” dos demais conselheiros sobre o acordo com Seripieri Filho. O fundador da Qualicorp acabou deixando a empresa em setembro do ano passado.