.A cotação do dólar, que chegou próximo aos R$ 5,80 nesta quarta-feira (28), deve permanecer por mais tempo e poderá fazer com que a moeda americana se aproxime dos R$ 6 até o final do ano, segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias.
O motivo da alta recente da cotação do dólar, na comparação com o real, é uma trinca de problemas que causam uma tempestade perfeita: o novo avanço do coronavírus (covid-19) em países europeus, as eleições americanas e os problemas internos do Brasil, que geram preocupações sobre o ambiente fiscal do País.
Tempestade perfeita afeta a cotação do dólar
“Essa é uma tempestade perfeita. Uma série de problemas ocorrendo em uma série de locais diferentes”, disse Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
Para o especialista, o cenário do dólar até o fim do ano pode ser da casa dos R$ 5,90. “Trabalhamos com o cenário normal do dólar a R$ 5,90. Hoje, a alta a amenizou um pouco pois o Banco Central vendeu dólar à vista. Mas não dá para sozinho segurar no peito algo que é global. Então acreditamos que vai continuar subindo e chegar até a R$ 5,90″, afirmou.
Para Fernanda Consorte, Economista-chefe e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, nesta semana todos os três pontos citados tiveram uma piora aos olhos dos investidores. Com isso eles retiraram dólares do Brasil, aumentando a cotação do dólar por aqui.
“Está cada vez mais latente a necessidade de lockdown em países da Europa, o mercado entende que a recuperação econômica não virá. Semana que vem são as eleições nos Estados Unidos. Mesmo sem pandemia e questões fiscais, as eleições causam por si só stress no mundo todo”, disse.
Ruídos políticos agravam cenário
“E ontem [terça-feira. 27], a cereja do bolo foram as falas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, indicando que a situação no Congresso está difícil pois você não tem uma direção clara do governo”, afirmou.
A tendência da cotação do dólar em alta deve continuar, segundo a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest. Mas, caso haja uma vacina contra o coronavírus, o dólar pode voltar a um patamar próximo dos R$ 5, graças à queda da aversão ao risco.
“O meu cenário base é que a vacina dá certo, em algum momento do primeiro trimestre do ano que vem as pessoas começam a ser vacinadas. E quando ocorrer isso a aversão ao risco cai”, disse.
Coronavírus deve parar novamente a Europa
Além disso, as altas dos casos de coronavírus na Europa, principalmente em países como França, Alemanha e Reino Unido, pode fazer com que novos lockdowns sejam decretados para conter novas contaminações.
“Europa tem a questão da nova onda do coronavírus, que todo mundo acreditava que não teria, mas ela chegou, principalmente entre Espanha, França”, disse Jefferson Laatus.
Dessa forma, a atividade econômica, que dava sinais de melhora, deve ser novamente afetada, o que piora o humor dos agentes do mercado.
“Isso é terrível em uma economia que já não estava bem. Os EUA também sofrem com coronavírus e começam a ter várias restrições. Isso também é muito ruim, principalmente em economias que já sofreram muito”, afirmou o analista.
Eleições nos EUA preocupam
Outro ponto de aflição do mercado são as eleições nos Estados Unidos. O evento, que normalmente já traz uma aversão ao risco maior aos agentes do mercado, conta esse ano com novas variáveis, como o coronavírus e o medo de uma não aceitação da derrota por algum dos lados.
Para o banco Goldman Sachs, além desses fatores, a postura de alguns investidores reflete uma preocupação com um aumento de impostos corporativos – proposta que o democrata Joe Biden deve levar adianta caso vença.
“Em primeiro lugar, vários investidores estão preocupados que algumas consequências políticas de um problema democrático – talvez o mais importante, a perspectiva de um aumento dos impostos corporativos pode levar a uma queda acentuada nos principais índices de ações dos EUA, em menos a curto prazo, e que isso poderia, por sua vez, impactar negativamente os ativos”, disse o banco, em nota.
“Em segundo lugar, alguns investidores estão preocupados com o potencial para um aumento significativo nos gastos fiscais dos EUA”, informou, em relatório, o Goldman.
Ruídos políticos e fiscais brasileiro também afetam dólar
Além dos problemas externos, o real também se desvaloriza perante o dólar graças a ruídos internos do governo Bolsonaro.
Agentes do mercado se preocupam sobre como o País poderá pagar pelo Renda Brasil, o programa social do governo que deverá substituir o Bolsa Família e o coronavoucher.
“Já temos problemas fiscais, preocupações com auxilio emergencial, novos programas sociais, e para colaborar com isso temos problemas de atrito com governadores, com o presidente Maia. Tudo isso traz uma mega insegurança para os investidores”, disse Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
“O mundo já está complicado e aqui nós com juros baixos, então não é atrativo ao investidor. Temos um teto de gasto frágil, Tesouro não consegue se capitalizar, e também temos ruídos políticos”, concluiu.
Na terça-feira (27), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou os partidos da base governista por obstruírem as pautas na casa.
“Não sou eu que estou obstruindo, é a base do governo. Se o governo não tem interesse nas medidas provisórias, eu não tenho o que fazer. Eu pauto, a base obstrui, eu cancelo a sessão. Infelizmente, é assim. Eu espero que, quando tivermos que votar a PEC Proposta de Emenda à Constituição emergencial, a reforma tributária, que o governo tenha mais interesse e a própria base tire a obstrução da pauta da Câmara”, disse.
As consequências recaem sobre a cotação do dólar, que sobe forte nesta quarta-feira (28), quando encostou nos R$ 5,80.