2023 foi marcado na economia pela intensa discussão sobre a política monetária e em 2024 não será diferente. Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, os principais bancos centrais, incluindo Federal Reserve (Fed), Banco Central Europeu (BCE) e Banco Central da Inglaterra, atingiram picos nas taxas de juros, o que levará ao início de cortes em 2024 e, no Brasil, a mais reduções da Selic.
“Ano que vem a grande grande discussão será quando os banco centrais, BCE e Fed, vão começar a cortar juros”, afirma Perez, em vídeo para o Canal da Suno Notícias no Youtube.
De acordo com Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, se as expectativas estiverem ancoradas, o Fed deve iniciar um corte, provavelmente perto do segundo semestre de 2024. “Para os mercados, só a expectativa do começo do ciclo de queda de juros vai trazer gatilhos importantes, podendo destravar um fluxo grande de capital”, diz ele.
Em novembro, lembra Sung, foi percebido o resultado de uma melhora do mercado com a expectativa de ciclo de corte nos EUA, pois os dados econômicos mostraram recuperação. Houve ainda desestresse no mercado de títulos norte-americanos.
Além disso, os analistas apontam para o sincronismo de cortes entre os bancos centrais da Europa e EUA, o que pode ser benéfico para o Brasil.
Em relação aos riscos, Rafael Perez destaca os que envolvem a geopolítica. Para ele, apesar de ter baixa probabilidade, no caso da Ucrânia e da Rússia, um escalonamento pode afetar os mercados de commodities, pois envolvem uma região de produção de grãos e petróleo.
Também traz preocupações o conflito entre Israel e Hamas. “Esse é um conflito importante de estar de olho, porque se aumentar poderia afetar países produtores de petróleo com bastante relevância no mercado internacional, como o Irã e Arábia Saudita”, diz Perez.
Economia: crescimento global deve ser menor, projeta economista da Suno
Quanto ao crescimento econômico mundial, Perez avalia que a tendência é de que haja um menor crescimento em 2024, por causa de Estados Unidos e China.
“Os Estados Unidos cresceram bem mais do que se esperava e ano que vem acredito em uma desaceleração da economia, até pelo resultado da política monetária. Como os Estados Unidos têm um peso muito relevante, isso impacta na economia global”, afirma o analista.
Outro país que também vai contribuir para esse cenário é a China. Perez afirma que a o gigante asiático deve crescer provavelmente algo próximo de 5% neste ano, meta do governo. Mas para o ano que vem o crescimento será menor, entre 4% e 4,5%. “Então, se os dois principais países do mundo estão crescendo menos, a tendência é de que o mundo também cresça menos”, observa.
Em relação ao petróleo a tendência é de que os preços caminhem no mesmo patamar. “A gente está no patamar de US$ 80. Chegou, em setembro, a US$ 100, mas com uma série de instabilidades no mercado Internacional e corte de produção de países”, enfatiza Perez.
Pensando em insumos agrícolas, o milho e a soja são os insumos que vêm caindo de forma mais relevante nos últimos tempos.
“O Brasil é um dos principais produtores. A oferta global desses insumos aumentou muito e a demanda não acompanhou. Isso fez os preços caírem aos poucos, mas a tendência é que de não haja mais quedas tão expressivas. No entanto, vai depender muito de como vai ser o comportamento da produção brasileira e do El Niño, ponto importante também para entender 2024”, conclui Perez.
Selic de 8,5%? Veja projeções do Goldman Sachs
Em novo parecer sobre a trajetória da taxa básica de juros, a Selic, analistas do Goldman Sachs reiteraram que as projeções seguem inalteradas após os dados de inflação divulgados recentemente.
Tal como o consenso de mercado, a casa esperava que a Taxa Selic fechasse este ano em um patamar de 11,75% – projeção que se manteve há 16 semanas inalterada pelo consenso do mercado financeiro, refletido no Boletim Focus. Com o comunicado desta quarta (13) do Copom mais cauteloso, o banco espera uma Selic de 9,5% ao final de 2024.
“Para o final de 2024, as expectativas de inflação ainda estão 91 pontos base acima da meta e para 2025/26 permanecem presos 50 pontos base acima da meta de inflação de 3% no ponto médio, o que provavelmente reflete a expectativa de que o governo não cumprirá nas metas fiscais anunciadas”, disse o Goldman Sachs.
“A expectativa para 2023 e o crescimento real do PIB em 2024 permaneceram estáveis. O mercado antecipa medidas fiscais primárias até 2026, na direção contrária às metas do governo de aumentar os superávits, atestando a baixa credibilidade e fraco efeito de ancoragem do novo quadro fiscal”, completa.
Veja projeções de Selic terminal do GS
- 2023: Selic de 11,75%
- 2024: Selic de 9,25
- 2025: Selic de 8,75%
- 2026: Selic de 8,5%
Copom reduz Selic para 11,75%
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta (13) a quarta redução consecutiva da Selic. A taxa, com corte de 0,5 p.p divulgado hoje, ficou em 11,75%. Foi a oitava e última reunião do ano do comitê do BC. A diminuição dos juros era aguardada de forma consensual pelo mercado. A decisão foi unânime. Os membros do Copom anteveem cortes da mesma magnitude nas próximas reuniões.
Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, todas as 57 instituições financeiras consultadas acreditavam que o Copom manteria o plano de voo com novo corte de 0,50 ponto na Selic. Para 51 delas (89%), o colegiado seguirá nesse ritmo nas duas primeiras reuniões de 2024, enquanto três preveem aceleração do ritmo de baixa a 0,75 ponto em janeiro e outras duas apostam nesse movimento na reunião de março.
O comportamento dos preços fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela quarta vez seguida.
Na reunião de hoje, o colegiado disse que “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025”.
Explica: “O Copom avalia que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”
Acrescenta: “O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
O comunicado do Copom pondera: “O ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países.”
Diz em seguida que a “magnitude total dos cortes dependerá, em especial, de expectativas de inflação, em particular de maior prazo.”
O comitê do BC lembra que “as expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,9% e 3,5%, respectivamente”.
O texto explica: “A conjuntura da economia atual é caracterizada por estágio de desinflação que tende a ser mais lento.”