Pensar em problema fiscal e inflação no Brasil é absurdo, diz Luis Paulo Rosenberg

Há semanas, enquanto uma vacina contra o coronavírus (covid-19) parece encaminhada, outros pontos passaram a preocupar investidores e economistas no Brasil: o problema fiscal, representado pelo crescente aumento da relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB) e a volta da inflação. Para Luis Paulo Rosenberg, no entanto, ambas as preocupações são irreais.

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“As ameaças que escutamos muito é de estarmos perto da ruptura por causa do problema fiscal e o juro está baixo, com a inflação voltando. São dois absurdos”, disse Luis Paulo Rosenberg.

Para ele, que é PhD em economia pela Vanderbilt University, nos EUA, e sócio da Rosenberg Partners, o governo, com o apoio do Congresso, conseguirá equilibrar as contas com as reformas prometidas e, assim, reduzir o endividamento do País.

“Esse exagero que estão colocando na questão fiscal é algo descabido. Passam as eleições da Câmara, as coisas serão aprovadas. O que vai ser não sei, mas não será algo que jogará o Brasil para uma recessão com uma austeridade descabida, nem consagraria um modelo ruim em matéria de gasto”, afirmou.

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Além disso, para a inflação, há um erro de avaliação pois a atual alta dos índices de inflação representa um movimento focado apenas em alguns setores, segundo Rosenberg.

“Em relação a inflação, há uma confusão sobre o que é inflação e o que é uma subida do índice de preços. Quando você tem um movimento brusco, exógeno, onde alguns preços sobem violentamente, isso não é inflação. É uma mudança de preços relativos.”, disse.

Assim, nesse contexto, o ano que vem poderá ser positivo, principalmente, para setores do agronegócio, commodities e alguns mais atingidos pela atual crise, como turismo, por exemplo.

“Tudo que tiver com o agronegócio, você tem que olhar com carinho. Não só empresas diretamente envolvidas, como fazendas, mas também serviços complementares, como transportes, logística, etc. Todo esse complexo ligado é um setor que vai estar muito bem em uma retomada brasileira”, afirmou.

“Por isso, você tem uma boa oportunidade em setores que sofreram mais na crise, como shoppings, turismo, etc. Não porque, necessariamente, vão voltar ao que eram, mas como estão em um vale profundo agora, você pode olhar com carinho esses setores”, completou,

Confira a entrevista do SUNO Notícias com Luis Paulo Rosenberg:

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-Alguns economistas apontam que 2021 pode ser pior do que 2020 dado a extensão dos problemas causados pela crise do coronavírus. O que o senhor acha?
Para entender, precisamos começar olhando com um pouco mais de cuidado o quadro internacional. E, no quadro internacional, as notícias são muito boas. Você tem uma China puxando a Ásia de forma que eles estão absolutamente recuperados, prontos para começar um novo ciclo de investimentos. Hoje esse é o grande polo de crescimento ou recessão no mundo, então essa informação é importante.

Nos EUA, as notícias também são muito boas. Não há nenhuma pressão inflacionária, existe uma disposição do Banco Central e do novo executivo de tomar as medidas necessárias de continuar tomando as medidas necessárias contra a crise, que já foi um sucesso, de uma criatividade enorme, e isso tende a prosseguir.

Dos EUA, eu imagino que a inflação venha na casa dos 2% e o crescimento entre 2,5% e 3%, uma coisa bem razoável. Já a Europa, com idade média de óbitos por coronavírus de 80 anos, já diz tudo. A comunidade já não faz mais preço e não é mais relevante como era.

Então, liquidamente, no ano que vem, o exterior vai ajudar. A China continuando consumindo commodities brasileiras, um EUA com uma posição menos isolacionista e com menor inflação, então maravilha.

Aqui dentro, você acena com 2021 poder ser pior que 2020. As ameaças que escutamos muito é de estarmos perto da ruptura por causa do problema fiscal e o juro está baixo, com a inflação voltando.

São dois absurdos.

Primeiro, se você olhar a questão fiscal no Brasil, desde o Temer a gente vinha reduzindo o déficit fiscal de maneira forte. Não só com medidas concretas, então no fim do ano fechando balanços animadores, como na parte institucional também, com medidas aprovadas até aqui na direção correta.

Em uma pandemia como essa, achar que não vai ter um deslanche no gasto público é impensável. O mundo inteiro fez e o Brasil, proporcionalmente, foi um dos que menos fez. Então, isso foi uma necessidade conjuntural, uma emergência, que foi atacada com qualidade e que não tem porque não reverter.

Alguns dizem que vão furar o teto. Mas, que país do mundo faria um teto que, para controlar o gasto, você não informa onde vai ser cortado. Suponha que o problema está resolvido, seria obvio que quando um tsunami chegasse, como foi a pandemia, o teto teria tudo para ser rompido.

Esse exagero que estão colocando na questão fiscal é algo descabido. Passam as eleições da Câmara, as coisas serão aprovadas. O que vai ser não sei, mas não será algo que jogará o Brasil para uma recessão com uma austeridade descabida, nem consagraria um modelo ruim em matéria de gasto.

Já em relação a inflação, há uma confusão sobre o que é inflação e o que é uma subida do índice de preços. Quando você tem um movimento brusco, exógeno, onde alguns preços sobem violentamente, isso não é inflação. É uma mudança de preços relativos.

Houve uma contaminação por toda economia? Há um processo generalizado de subida de preço? Não! Com uma recessão como essa, a subida de preço não se sustenta. Então, essa subida que houve vai voltar. O BC é proibido de agir nesse caso, ele espera o processo acontecer, gerando uma redistribuição de renda. O vendedor de soja se dá bem e o comprador de porco se dá mal, mas é da vida e isso volta.

Então, a perspectiva de juros para 2021 é do BC manter os 2% até o fim do ano. Consequentemente, sem inflação e juros baixos, eu não tenho uma questão monetária séria para ser tratada.

-E quais setores devem se sobressair nesse cenário?
Se eu sei que no primeiro semestre eu tenho a vacinação, com perspectiva de fim da pandemia, com uma situação fiscal voltando ao normal, 2021 será um ano muito melhor que 2020. Obviamente, tudo em detrimento de ativos financeiros a favor de ativos reais, em particular, quando você fala de ações, você terá três diretrizes de valorização.

A primeira vamos chamar de estrutural. Em um mundo se reconstruindo, a grande vantagem do Brasil, que é o agronegócio, vai estar valorizado. Se eu tivesse que escolher entre tecnologia e soja, eu fico com soja. A demanda por alimentos e matéria prima só vai saber subir e temos uma vantagens absoluta sobre os concorrentes.

Então, tudo que tiver com o agronegócio, você tem que olhar com carinho. Não só empresas diretamente envolvidas, como fazendas, mas também serviços complementares, como transportes, logística, etc. Todo esse complexo ligado é um setor que vai estar muito bem em uma retomada brasileira.

Outra vertente é o conjuntural. Então, quem se beneficia disso são s intensivos de juros, como estamos atravessando um período de curso financeiro com uma sanha jurista dos gestores da política monetária do passado, que esse BC tem o consenso de colocar a instituição em um bom papel para essa política.

Por isso, você tem uma boa oportunidade em setores que sofreram mais na crise, como shoppings, turismo, etc. Não porque, necessariamente, vão voltar ao que eram, mas como estão em um vale profundo agora, você pode olhar com carinho esses setores.

-A sua visão destoa um pouco de outros economistas. A relação dívida/PIB está crescendo, isso é fato. Há disposição do governo em reduzir gastos?
O Paulo Guedes, se não estiver confortável, vai para casa. Se ele continua, e continua lutando, é porque não houve nenhuma decisão dentro do governo de virar gastador.

O que ocorre é que ele está procurando formas de financiar políticas de conceito de imposto de renda negativo do Friedman [Milton Friedman, estatístico e economista vencedor do prêmio Nobel], em um país com a desigualdade do Brasil, onde a classe alta pagam em média 10%, 12% de Imposto de Renda com não distribuição de dividendos, lucro presumido, etc.

Então, nisso aqui não há populismo, marxismo, o pai da ideia é Friedman e se a pandemia despertou o governo para isso, é muito bom.

O Guedes faz questão de dosar tudo com o gasto. Ele já disse que se a demanda privada vier, ele não vai apagar incêndio com álcool. As privatizações só não avançam mais rápido pois passam por um processo burocrático longo, e tem que ser assim.

Então, o que eu levanto é o seguinte: a dívida total deu um salto por causa da pandemia, isso é inegável. O que os pessimistas acreditam é que o governo vai continuar a gastar e a dívida subir. Eu não vejo o porque disso.  O que eu vejo é recuperar a trajetória que estávamos.

-O choque cambial não te preocupa?
Eu me preocupo com choque cambial causado por manipulação do câmbio, como anteriormente ou quando tenho indexação como no passado, que perpetua. Agora, eu olho e vejo que devedor em dólar está frito, exportador vai se dar bem, comprar coisas importadas vai ficar mais caro e vida que segue.

É um dos preços mais importantes da economia? Sem dúvida. Mas é um. Claro que o constrangimento que ele impõe nos perdedores é muito desconfortável, mas não aquela certeza que tínhamos há 30 anos que uma desvalorização de câmbio de 10%, aumentava a inflação em 10%. Agora, tem um efeito transitório, sem contar que o câmbio pode voltar, sem querer fazer previsão de dólar aqui.

-E como o senhor vê o varejo? Ano que vem acaba o coronavoucher..
O que eu acho é que há uma vertente comportamental. Antes da pandemia, já havia uma mudança. Meus filhos não consomem como eu consumia. Essa mudança é muito séria, então o varejo digital já ocorria e vai continuar. O home office também. O crescimento do imóvel vai ser desbalanceado em favor de residência, em detrimento de comercial, por exemplo.

Mas, o mais importante, é que com tudo que falamos, terá uma alta na renda do setor privado e essa renda transita pelo setor de varejo digital e o presencial e isso sustenta um Magazine Luiza como um brilhante a ser cobiçado.

Entrevista com Luis Paulo Rosenberg

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Vinicius Pereira

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