Na noite anterior, a Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória de desestatização da Eletrobras (ELET3), projeto aguardado há anos pela Faria Lima, mas apesar da vitória parcial, especialistas apontam que a próxima etapa não será fácil e exigirá jogo de cintura do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Em dezembro, a equipe econômica publicou um cronograma para 2021, no qual previa a privatização de nove estatais sob o guarda-chuva na União, entre elas a Eletrobras. A MP é uma das prioridades do Executivo no Congresso e foi a primeira proposta de privatização aprovada na gestão Bolsonaro. A operação é a aposta da equipe econômica para ampliar os investimentos da companhia de geração e transmissão de energia elétrica.
O modelo de desestatização consiste na emissão de novas ações para diluir participação da União, hoje em torno de 60%, para 45%. Esta, por sua vez, não subscreveria sua parte no aumento de capital. O governo, no entanto, teria para si um papel de classe especial, a golden share, o qual garantiria poder de veto em decisões sensíveis. A expectativa é levantar R$ 60 bilhões com a operação.
De acordo com o texto do relator Elmar Nascimento (DEM-BA), o modelo poderá ser usado para a desestatização de outras empresas públicas. “É uma privatização esquisita”, pontuou Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Coppead/UFRJ. “Sui generis”.
Mas segundo o especialista há problemas em outras praças, como no Senado. Para Leite, o trâmite na casa deve ser particularmente difícil devido à CPI da Covid e às “testemunhas radioativas” que lá depõem. “O governo está lutando em duas frentes. Ele tem homens para isso?”
Murilo Breder, analista de renda variável da Easynvest, destacou outro ponto: o tempo. “[A MP] tem pouco tempo para ser aprovada, até 22 de junho, para não perder a validade.”
“E está no meio da CPI da Covid, que está demandando bastante tempo dos senadores”, acrescentou.
Como ficam as ações da Eletrobras?
Na visão do analista da Easynvest, apesar dos obstáculos, a aprovação da MP é positiva e o mercado “bateu” nas ações da Eletrobras nesta quinta-feira (20). Os papéis ordinários da elétrica caíram 1,88%, para R$ 41,70.
O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), subiu leve 0,05%.
Já para Luis Sales, da Guide Investimentos, o impacto foi apenas “marginalmente positivo”, considerando que a “excelente” notícia já era esperada pelo mercado.
No cenário de incertezas atual, a privatização da Eletrobras é vista como uma pauta difícil para o Senado e a operação vai depender do fôlego tanto do Executivo quanto do Legislativo para passar, avaliou Rodrigo Leite, professor do Coppead/UFRJ. Com esse tabuleiro, os papéis estão no preço, disse.