Em painel do 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP), Ricardo Pena, diretor-superintendente da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), disse que a orientação do ministro e do governo para a indústria de fundos fechados de previdência, também conhecido como fundos de pensão, é estratégica e precisa ser fortalecida.
Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o segmento alcançou R$ 1,2 trilhão em ativos no primeiro semestre de 2023, crescimento de 6,28% comparado com o mesmo período de 2022.
“É preciso fortalecer a vocação previdenciária dos fundos de pensão. Temos que entender que o setor passou por uma crise reputacional, e agora, precisamos aprender a melhorar a governança”, disse.
No evento, Carlos Lupi, Ministro da Previdência Social, reafirmou que o comportamento do sistema da previdência social é de facilitar que os recursos cresçam e tenham cada vez mais capacidade de ampliar seus horizontes. “É ter a garantia do cidadão com um futuro melhor, com seus fundos resistentes em cada setor e o equilíbrio entre o trabalhador e o ganho para quem investe”, destaca.
Neste contexto, é fundamental que a relação governamental com as entidades privadas seja cada vez mais transparente, complementa Lupi. “No mercado moderno, o principal instrumento que mais favorece as decisões é a transparência, o equilíbrio”.
Para o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, um dos convidados do evento, a previdência complementar é importantíssima para a alavancagem da economia brasileira, com ativos na casa do trilhão de reais. “O setor deve ser incentivado com tratamento tributário adequado”, pontuou.
Projeções para 2023
A Abrapp anunciou as projeções de valorização das carteiras para o encerramento de 2023, divididas em três cenários. No cenário III, mais otimista (com o Ibovespa acima dos 130 mil pontos), a carteira consolidada deve encerrar o ano com valorização de 13,11%. Para a renda fixa, o sistema de fundos de pensão prevê valorização média de 12,93%. Na renda variável, a projeção é de alta de 15,84%. Nos demais segmentos, o ano de 2023 deve terminar com rentabilidade média de 11,62%.
No segundo cenário – com o Ibovespa encerrando com 121 mil pontos, a expectativa é de alcançar uma rentabilidade de 11,84% para a carteira consolidada; com alta de 5,77% para a renda variável. Em um quadro mais pessimista (cenário I), com o Ibovespa em 98 mil pontos, essa classe de ativo encerra com resultado negativo de -14,38%, e a rentabilidade da carteira consolidada ficaria em 9,31%.
Mercado financeiro tem melhor perspectiva de retornos internacionais em quase 10 anos, diz estrategista do J.PMorgan
Em painel do 44º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP), Gabriela Santos, estrategista de mercados globais da J.P. Morgan Asset Management, destacou que atualmente, depois de vários momentos de adversidade, o mercado possui a melhor perspectiva de retornos internacionais em quase uma década.
“Tivemos melhora nos preços de renda fixa global e mercados acionários. O ponto de partida hoje é, portanto, o melhor em termos de contexto internacional”, afirma, lembrando que recentemente os mercados globais passaram por momentos difíceis, com retornos negativos nas principais bolsas e também renda fixa, mas que esse período já passou.
“Olhando para a frente, o ponto de partida das rendas fixa e variável é favorável em termos de expectativa de longo prazo. A expectativa de retornos anualizados é de 7%”, detalha.
Para Gabriela, quando se trata de mercado financeiro, um dos grandes desafios do investidor é separar o que é barulho e o que é sinal. “Essa mensagem é absolutamente crítica. Hoje, com mídia social, eventos, ele acaba tendo muita informação a processar. É preciso, especialmente, pensar como investidor e separar como ser humano”, pontua.
Cenário de inflação mundial
Sobre a inflação mundial, Gabriela explicou que atualmente, o mundo vive um processo desinflacionário, apesar de alguns riscos ainda permanecerem no radar, como transição energética, conflitos geopolíticos e processo de menos globalização aumentando os custos, por exemplo.
“Não devemos voltar naquele mundo de ‘frio de inverno’, de inflação muito abaixo da meta, mas não achamos que ficaremos neste ‘calor de verão’. Temos um pouco de risco de inflação, mas não nos níveis exagerados que vivemos nos últimos anos”.
Ainda de acordo com a estrategista, na última década o mundo conviveu com juros extremamente baixos, mas agora os bancos centrais perceberam o risco de inflação e começaram a se mexer.
“Nos próximos anos, ainda teremos juros mais elevados. Mas, olhando bem mais para frente, a expectativa é de ter uma normalização de juros. Não esperamos voltar à era de juros zero ou negativo”, completou.
Gabriela destacou o cenário base nos Estados Unidos, por exemplo, classificando-o como de ‘pouso suave’ no momento. “Mesmo com uma desaceleração da economia, é um cenário mais positivo, com melhora perspectiva de lucro das companhias”, pontua.
Partindo de uma perspectiva otimista, Gabriela acredita que daqui para a frente é provável que o mundo veja histórias positivas de crescimento, mas que pode estar sujeito a mudanças.
“Vemos muita oportunidade no mercado em renda fixa, ações, em segmentos que não temos muita exposição no Brasil, como tecnologia. Só que nunca vamos acertar o momento perfeito. Nunca viremos aqui falar que ‘este ano está tudo óbvio’”, encerra.