Copom: mercado prevê Selic em 13,75% pela 4ª vez consecutiva. Quando os juros vão cair?

Começou nesta terça-feira (31) a primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), que irá definir a taxa básica de juros do País. No mercado, a previsão majoritária de especialistas aponta para manutenção da Selic em 13,75% pela quarta vez consecutiva.

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O comunicado oficial sobre a decisão do BC sobre a Selic será divulgado amanhã (1º). O Suno Notícias consultou 8 entidades financeiras e consultorias, e as projeções foram unânimes. 

Na visão dos especialistas, o Comitê não deve alterar o plano de voo da política monetária do País, ainda na espera da análise dos efeitos cumulativos do ciclo de alta dos juros. 

Segundo Gustavo Sung, economista-chefe do Suno Research, a taxa de juros já vem impactando negativamente a atividade econômica e o fenômeno deve continuar nos próximos meses — o que ajuda a segurar, de certa forma, os preços. 

“Já a inflação, apesar de alguns sinais de alerta, os últimos dados estão dentro do esperado. E, no cenário internacional, há um processo de desinflação em curso — ainda de forma tímida — dado o ciclo de alta de juros, desaceleração da atividade econômica em diversos países e reorganização das cadeias produtivas”, explica. 

Ele ainda destaca que os próximos meses serão importantes tanto para o BC quanto para o mercado entender a dinâmica da inflação e dos juros. 

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Convergir a inflação à meta

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de inflação reportadas pelo Boletim Focus aumentaram. Para este ano, o percentual passou de 5,08% para 5,48%. Já para 2024, saiu de 3,50% para 3,84%. 

Diante desse cenário, para os analistas do Itaú BBA, a manutenção da taxa Selic é uma forma de o BC assegurar a convergência da inflação para a meta da política monetária.

“O Copom deve reforçar a sinalização de manutenção da postura vigilante da política monetária, para perseverar no processo de desinflação até que a convergência às metas e ancoragem das expectativas em torno de suas metas sejam alcançadas — e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, escreve Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

A “postura vigilante” do Copom também foi citada pelos analistas do BTG Pactual (BPAC11). Segundo eles, na reunião de 7 de dezembro o comitê informou que acompanharia de perto a evolução futura da política fiscal, em particular seus efeitos sobre preços de ativos e perspectivas da inflação. 

Com isso, a expectativa é de que o Copom prossiga com a estratégia de manter a taxa básica de juros inalterada por um período prolongado. No entanto, os analistas reforçam que é esperado que a inflação reflita o tom do comunicado. 

“Uma maior ‘desancoragem’ das expectativas da inflação prejudicará as condições para o afrouxamento da política monetária neste ano, e pode até levar o Copom a apertar ainda mais a taxa de juros”, afirmam.

Tom do comunicado do Copom

E por falar no comunicado, considerando que há um consenso no mercado sobre a manutenção da Selic, Bruna Centeno, economista e especialista em renda fixa da Blue3, destaca a expectativa em torno de qual será o tom adotado pelo Copom.

“O mais aguardado é, de fato, o tom que virá das falas do presidente do BC. Com isso podemos ter alguma perspectiva de corte na taxa de juros ou a manutenção do aperto monetário para um período maior — exatamente para fazer essa calibragem de expectativa no mercado”, explica a economista.

Ainda segundo ela, o tom do comunicado do Copom será uma sinalização para o mercado entender se, dentro da precificação dos ativos financeiros, estão sendo considerados todos os riscos atrelados — de uma crise institucional, um fiscal mais apertado e do próprio cenário externo — ,fatores que devem pautar as decisões para as próximas reuniões.

Os analistas da Goldman Sachs (GSGI34) destacam que o Copom pode adotar uma postura mais “dura” diante do atual quadro fiscal e das incertezas sobre o governo com relação à estrutura monetária (que recentemente chegou a insinuar o aumento da meta de inflação e questionar a autonomia do BC).

“A defesa de uma postura claramente restritiva é justificada pelas pressões ainda intensas no núcleo da inflação — como a deterioração das expectativas de inflação de curto e médio prazo, discussões sobre o aumento da meta, incertezas em torno da orientação fiscal e a regra/âncora fiscal de médio prazo”, pontuam os analistas da Goldman.

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Riscos que podem impactar a dinâmica na taxa de juros

Desde a última reunião do Copom, em dezembro do ano passado, a XP Investimentos atualizou suas projeções para 2023. Entre elas, a casa alterou a expectativa com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,0% para 5,5%. Assim como em outras instituições, os analistas também projetam a manutenção da Selic em 13,75%.

“O efeito sobre a inflação de preços livres em 2023 (75% do IPCA) corresponde a +0,38 ponto porcentual, segundo nossos cálculos. A previsão para a inflação de preços administrados (25% do IPCA), por sua vez, deve subir de 9,1% para 9,7%”, afirmam os analistas da XP.

Segundo eles, a alta nas expectativas contribuiu para uma maior projeção de IPCA, ainda que a apreciação do câmbio, a menor inércia e preços de commodities elevados tenham agido na outra direção. 

Já de acordo com Sung, do Suno Research, ainda há riscos no cenário que podem segurar o juro por mais tempo do que o esperado, principalmente, de cunho fiscal. Sendo eles:

1. Retorno dos impostos federais

A desoneração dos tributos sobre combustíveis irá até o fim de fevereiro. Com o seu retorno e elevação dos preços, o impacto sobre o IPCA pode ser algo entre 55 bps (0,55 p.p.) e 70 bps (0,7 p.p.) – estimativas do mercado. Esse fator deve pressionar os preços e dificultar o trabalho da autoridade monetária em 2023.

2. Aumento de gastos pelo governo

A PEC da Transição abriu espaço para o governo eleito aumentar os gastos públicos e sustentar, de certa forma, a atividade econômica. Com a economia mais aquecida, mais pressão sobre os preços. Novamente, efeito contrário a política de combate à inflação do BC.

3. Arcabouço fiscal 

O mercado espera a definição do novo arcabouço fiscal brasileiro. É preciso mais diretrizes de como o governo irá controlar a trajetória da dívida pública. Caso ele não apresente um bom projeto, o câmbio irá subir, o prêmio de risco irá aumentar e isso impactará nas expectativas de inflação, dificultando também o seu controle.

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4. Cenário internacional 

Fatores que podem ajudar o BC seriam a ausência de grandes choques sobre o mercado de commodities, a perspectiva de desaceleração da atividade mundial e a melhora das cadeias produtivas globais e redução dos custos industriais. Porém, a reabertura da China e a retomada da demanda por matérias-primas podem gerar uma pressão inflacionária em diversos países.

5. Elevação das expectativas

As expectativas de inflação apresentadas no Boletim Focus servem de parâmetro para os modelos do BC, e percebe-se que elas estão subindo —  sobretudo para este e o próximo ano. Essa é uma grande preocupação do BC, pois uma desancoragem das expectativas contamina diversos setores e geraria um efeito perverso sobre a economia. 

“Apesar de quase todos os riscos apresentados pressionarem o cenário da autoridade monetária, acreditamos que o atual patamar de juros é suficiente para não haver um descontrole da inflação. Claro, caso os riscos se concretizem, é uma outra história”, frisa Sung.

Copom cortará Selic só em agosto

Se de um lado os especialistas foram unânimes em projetar a manutenção da Selic em 13,75%, houve uma única exceção em relação ao corte na taxa de juros. Para a maioria dos analistas, isso deve acontecer apenas em agosto.

“Neste contexto de desancorarem das expectativas inflacionárias, fica cada vez mais difícil o Copom iniciar o ciclo de corte. Nossa projeção é que a discussão sobre corte de juros inicie na reunião de agosto, quando a inflação de 2025 entra no horizonte relevante do Banco Central, levando a Selic a 12,50% até o final do ano”, destaca Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco.

Sung, do Suno Research, também afirma que um primeiro corte de 25 bps (0,25 p.p.) deve ocorrer em agosto deste ano. “Seguidos de mais duas quedas de mesma magnitude em setembro e novembro. E, na última reunião de 2023, perspectiva de redução em  50 bps (0,50 p.p.), levando a Selic para 12,50%.”

Na contramão dos demais especialistas consultados, a Daycoval Asset reviu suas projeções sobre o começo dos cortes na taxa Selic.

“Nossa projeção atualizada é de que o ciclo inicie somente em setembro e em ritmo mais moderado, com 0,25 p.p base e encerrar o ano em 12,5%. Antes víamos o ciclo se aprofundando em 2024 com 0,75 p.p, agora nós projetamos somente 0,50 p.p de ritmo ao longo de 2024 chegando a 9%”, explica o economista-chefe da casa, Rafael Cardoso.

O comunicado oficial do Copom sobre a Selic será divulgado amanhã (1), no final da tarde.

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Janize Colaço

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