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Powell: momento de moderar ritmo de alta de taxas pode chegar em dezembro

Fed: ritmo de alta deve acabar em dezembro, diz Powell. Foto: Reprodução/Federal Reserve

Powell. Foto: Reprodução/Federal Reserve

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sinalizou que a esperada moderação no ritmo de aperto monetário dos Estados Unidos poderá vir na reunião de dezembro, em linha com as expectativas de Wall Street. Na sua visão, o impacto das elevações de juros promovidas até o momento ainda não foram sentidos totalmente e, diante disso, uma desaceleração nas taxas seria apropriada.

“Faz sentido moderar o ritmo de nossas altas de juros à medida que nos aproximamos do nível de contenção que será suficiente para reduzir a inflação. O momento de moderar o ritmo de aumento das taxas pode chegar logo na reunião de dezembro”, disse Powell, em evento, nesta quarta-feira.

De acordo com ele, considerando o progresso no processo de aperto monetário nos EUA, o momento dessa moderação é muito “menos significativo” do que as questões de quanto mais será preciso elevar os juros para controlar a inflação e o período de tempo necessário para manter a política em um nível restritivo.

“É provável que restaurar a estabilidade de preços exija manter a política em um nível restritivo por algum tempo”, avaliou o presidente do Fed. “A história adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política. Vamos manter o curso até que o trabalho seja feito”, disse.

Inflação espalhada

Jerome Powell afirmou que a inflação está espalhada pela economia dos EUA e não apenas nos salários. No entanto, reforçou a importância do ajuste no mercado de trabalho para a retomada da estabilidade de preços no país.

“A inflação agora se espalhou amplamente pela economia. Embora a inflação que estamos vendo agora não esteja relacionada principalmente aos salários, achamos que os aumentos salariais provavelmente serão muito importantes daqui para frente”, disse Powell.

Segundo ele, os salários precisam subir a um nível consistente com uma inflação de 2% ao longo do tempo. Para isso, porém, é preciso alcançar a estabilidade de preços, reforçou, retomando o ambiente visto nos EUA antes da pandemia.

Powell: meta de inflação

O presidente do Federal Reserve afirmou que a autoridade usará as ferramentas necessárias para manter as expectativas de inflação ancoradas nos Estados Unidos. “Temos uma meta de inflação de 2% ao ano e teremos que usar nossas ferramentas para alcançá-la e manter as expectativas de inflação ancoradas”, reforçou.

Powell disse que o Fed seguirá fazendo projeções sobre a inflação, mas que é “muito difícil” traçar previsões no cenário atual. Pesam, conforme ele, situações muito diferentes, com restrições do lado da oferta.

Segundo Powell, o que o Fed está tentando fazer é deixar a previsão em segundo plano por um momento para tentar identificar as reais condições macroeconômicas do país. “Continuaremos a fazer previsões, mas teremos que ser humildes e céticos sobre isso por algum tempo”, afirmou. “E isso exige muito gerenciamento de riscos”, acrescentou.

Juros e inflação continuam pesando sobre atividade nos EUA, mostra Livro Bege

Os juros e a inflação continuam pesando sobre a atividade econômicas dos Estado Unidos, aumentando a incerteza ou pessimismo em relação às perspectivas, segundo informam empresários consultados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para o Livro Bege. O documento é uma espécie de sumário das condições econômicas do país e serve de base para as decisões de política monetária do banco central.

O relatório destaca que a atividade econômica ficou estável ou subiu levemente desde a divulgação do Livro Bege anterior, em meados de outubro. Entretanto, a inflação levou consumidores a substituir produtos por outros mais baratos. Os gastos do consumidor excluindo veículos, de acordo com o levantamento, ficaram mistos, mas de forma geral tiveram leves ganhos.

Na análise de setores, o Livro Bege indica que juros mais altos prejudicaram “ainda mais” as vendas de casas, que diminuíram a um ritmo moderado em geral, mas caíram acentuadamente em alguns distritos. Já a construção residencial caiu ainda em um ritmo modesto, enquanto a construção não residencial foi misturado, mas ligeiramente abaixo da média.

Preços ao consumidor

O Fed indicou no Livro Bege que os preços ao consumidor subiram a um ritmo moderado a forte na maioria dos distritos dos Estados Unidos.

Segundo o relatório, mesmo com o aumento, o ritmo de alta de preços desacelerou, “refletindo uma combinação de melhorias nas cadeias de abastecimento e enfraquecimento da demanda”. O Livro indica que a expectativa é que a inflação se mantenha estável ou moderada no futuro.

Ainda, queda de preços foi observada em algumas commodities. Já os alimentos aumentaram mais ou permaneceram elevados em alguns distritos.

Sobre o crescimento das rendas da habitação, o ritmo começou moderado em alguns distritos e os preços das casas cresceram menos rapidamente ou caíram completamente em meio à demanda fraca.

Mercado de trabalho

Na análise do Livro Bege, a empregabilidade cresceu modestamente na maior parte dos distritos nos Estados Unidos, com enfraquecimento na demanda por mão-de-obra e queda nas dificuldades de contratação, mas o mercado de trabalho segue apertado.

Algumas empresas expressaram relutância em dispensar empregados relatando dificuldades na contratação, apesar das necessidades de trabalho diminuindo. Enquanto isso, foram reportadas demissões em massa nas áreas de tecnologia, finanças e imobiliária.

Já as remunerações aumentaram em um ritmo moderado na média, com apenas alguns distritos experimentando certo relaxamento das pressões salariais.

As análises presentes no documento indicam um crescimento lento ou estável de empregos e pelo menos um crescimento modesto na remuneração para os próximos meses.

Powell: há espaço para pouso suave da economia dos EUA

O presidente do Federal Reserve ainda acredita na possibilidade de os Estados Unidos fazer um pouso suave a despeito do processo de aperto monetário no país. O caminho, contudo, ficou mais estreito, considerando aumentos de juros realizados pela autoridade para colocar a teimosa inflação norte-americana de volta aos trilhos.

“O desemprego aumenta. Mas não é um pouso forçado. Não é uma recessão severa. Você pode pensar no desemprego subindo, mas não realmente entrando em recessão”, avaliou Powell, durante evento, no período da tarde desta quarta-feira.

Para Powell, o caminho “está bem claro” e as condições do mercado de trabalho estão amenizando. “Vemos a inflação melhorar e o mercado de trabalho abrandar, mas não entrar em recessão”, reforçou, acrescentando de que a inflação cairá e que esse cenário é “muito plausível”. “E, claro, nosso trabalho é tentar conseguir isso. E acho que ainda é possível”, acrescentou o presidente do Fed.

Ele reafirmou, porém, que o caminho para um pouso suave é mais estreito, considerando as elevações de juros nos EUA. “À medida em que precisamos manter as taxas mais altas ou mantê-las mais altas por mais tempo isso vai estreitar o caminho para um pouso suave”, explicou.

Juros

O presidente do Federal Reserve afirmou que a autoridade não pretende apertar demais as condições financeiras dos Estados Unidos uma vez que não pretendem iniciar um corte de juros em breve. Segundo ele, é possível que uma desaceleração no ritmo de altas ocorra já na reunião de dezembro, em linha com as expectativas do mercado.

“Não queremos apertar demais porque acho que cortar as taxas não é algo que queremos fazer em breve. Então, é por isso que estamos desacelerando”, disse Powell.

Ele afirmou que o Fed segue monitorando as condições econômicas do país para encontrar o nível certo entre o aperto de juros necessário para colocar a inflação de volta aos trilhos.

Desdobramentos globais

O presidente do Federal Reserve disse ainda que a autoridade também monitora com “muito cuidado” os impactos globais de suas decisões de política monetária. “Temos um mandato doméstico. Claro, todo banco central tem, mas neste mundo, os mercados financeiros globais são realmente importantes para nós. Então nós monitoramos tudo isso com muito cuidado”, afirmou.

Segundo ele, o melhor que o Fed pode fazer neste momento para os EUA e para a economia mundial é controlar a inflação o “mais rápido possível”. “Nós não achamos que o mundo será um lugar melhor se agirmos sem pressa e a inflação ficar entrincheirada e então tivermos de intervir mais tarde”, enfatizou.

Ele reforçou que o Fed não quer apertar as condições financeiras da maior economia do mundo além do necessário, mas que, por uma questão de gerenciamento de risco, é preciso subir os juros para buscar a estabilidade de preços.

Para Powell, será possível obter o controle da inflação, mas esse trabalho ainda não terminou. “Não me arrependo de chegar onde estamos e acho que, em geral, o mundo ficará melhor se conseguirmos acabar com isso rapidamente”, raciocinou.

Ao ser questionado pela plateia sobre o impacto de uma desaceleração chinesa nos EUA diante da política de “covid zero”, Powell disse ainda que o país será impactado, mas é difícil prever sua extensão. “É difícil dizer o quão grande isso será sem saber por quanto tempo esses bloqueios duram”, concluiu.

Com informações do Estadão Conteúdo

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