Porto Seguro (PSSA3): qual será o impacto nas operações após enchentes no RS ?

A catástrofe climática no estado do Rio Grande do Sul (RS) deve gerar um volume significativo de sinistros, especialmente nos segmentos de seguro de automóveis e seguro penhor agrícola, relacionado a maquinários. No entanto, segundo a Genial Investimentos, a Porto Seguro (PSSA3), maior seguradora de automóveis do país, está relativamente bem posicionada diante do impacto, apesar de cerca de 5% dos seus prêmios virem do RS. 

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De acordo com a Genial, a exposição da frota afetada pelas chuvas representa entre 0,5% e 1% dos 6 milhões de veículos segurados pela empresa. A estimativa é de um impacto líquido de imposto de R$ 93,6 milhões, o que corresponde a 14,9% do lucro projetado para o segundo trimestre de 2024 e 3,8% do lucro anual de 2024.

“Por outro lado, a destruição no Sul pode levar a uma competição por preços mais racional no próximo ano. Comparada a outras grandes seguradoras, a Porto Seguro é a menos impactada, com uma exposição de apenas 5% dos prêmios de automóveis no RS. Em comparação, a HDI possui 12% de exposição, o Bradesco 8% e a Tokio Marine 7%, enquanto a média do mercado é de 7%”, aponta a Genial. 

Em coletiva de imprensa, Dyogo Oliveira, presidente da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), destacou que o evento no RS pode resultar no maior volume de indenizações pagas pelo setor no país, abrangendo não apenas eventos climáticos.

Segundo levantamento da CNseg, o segmento de automóveis concentra o maior valor de indenizações, totalizando R$ 557,4 milhões. Com um market share de 18% no estado, a Porto Seguro pode enfrentar um impacto de R$ 100 milhões em sinistros, número que pode aumentar nos próximos dias.

Com estimativas mais amplas, considerando que a Porto Seguro possui 0,75% da frota segurada em áreas afetadas pelas chuvas, chega-se a um total de 45 mil veículos.

“Estima-se um impacto de perda total e parcial de 8,9% dessa frota, o que corresponde a cerca de 4 mil automóveis. Com um preço médio de R$ 60 mil por veículo afetado e uma recuperação de sinistro de 35%, o valor dos sinistros estaria próximo de R$ 156 milhões. No cenário mais pessimista, com 5 mil veículos afetados e uma recuperação de apenas 25%, o impacto poderia chegar a R$ 225 milhões”, projeta os analistas. 

Neste contexto, a Genial reitera recomendação de compra para as ações da Porto Seguro, com preço-alvo de R$ 35.

Porto vê lucro crescer 90,2% no 1T24

O conglomerado empresarial Porto informou ao mercado um lucro líquido de R$ 651 milhões nos primeiros três meses deste ano (1T24), marcando um aumento de 90,2% em comparação ao mesmo período de 2023 (1T23).

receita total do grupo Porto no 1T24 também apresentou uma trajetória ascendente, atingindo um crescimento anual de 14,2%, totalizando R$ 8,6 bilhões.

A métrica que serve para avaliar a eficácia dos investimentos, o Retorno sobre Patrimônio Líquido Médio (ROAE), registrou uma elevação de 8,1 pontos percentuais em relação ao 1T23, alcançando a marca de 20,9% no final de março.

Segundo o balanço da Porto no 1T24, os investimentos gerenciados pela tesouraria da Porto apresentaram um retorno de R$ 322,2 milhões durante o 1T24. Esse desempenho representa uma rentabilidade equivalente a 94,9% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), conforme comunicado oficial do grupo.

O grupo Porto diz que esse resultado foi influenciado positivamente pelo desempenho favorável em renda variável e multimercados, enquanto crédito privado e títulos marcados na curva (NTN-B) também contribuíram para o impacto positivo.

No que diz respeito ao resultado financeiro global da holding, houve um crescimento de 68,5% em comparação ao início de 2023, totalizando R$ 234,1 milhões ao término do primeiro trimestre deste ano.

Além disso, o índice de eficiência operacional do grupo, que analisa as despesas administrativas em relação à receita total, registrou uma melhora de 1,3 ponto percentual nos três primeiros meses deste ano, atingindo o patamar de 11,5%.

A inadimplência das operações de crédito da Porto, considerando atrasos superiores a 90 dias, encerrou o 1T24 em 6,5%, caindo 1,0 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2023. Essa taxa continua 0,4 ponto percentual abaixo da média de mercado.

O grupo afirma que as novas safras de operações de crédito têm se destacado pela boa performance, indicando a efetividade das políticas implementadas nos últimos meses pela companhia. Diz ainda que o foco na gestão de risco e na melhora da qualidade da carteira de crédito permanecem como pilares do crescimento sustentável do grupo.

Nível de seguro para catástrofes climáticas no Brasil é baixo

De acordo com Daniel Castillo, VP de Resseguros do IRB(Re), o nível de proteção no Brasil em produtos de seguro que cobrem impactos de desastres climáticos é muito baixo. Estima-se que menos de 5% da perda econômica esteja segurada no Sul.

“Em geral, o seguro rural inclui proteção a eventos relacionados à chuva. Mas, em relação à produção, cerca de 75% da safra de verão já estava colhida, quando o evento começou. De forma que o impacto na indústria de seguros, nesse sentido, deve ser minimizado. As maiores perdas para o setor como um todo devem se concentrar em auto; habitacional, para alguns setores específicos; patrimonial rural, incluindo silos e máquinas, e empresarial riscos operacionais”, afirma Castilho.

O executivo ressalta que muitos clientes ainda não reportaram sinistros às seguradoras, uma das razões pelas quais não é possível estimar com assertividade os impactos totais causados pelas enchentes no RS.

“Quando o tamanho das perdas econômicas totais estiver evidente, a conversa sobre gap (lacuna) de proteção (diferença entre as perdas econômicas e as perdas seguradas) vai ficar muito aparente, o que ajudará na reflexão da sociedade brasileira com relação à importância de todos estarmos segurados. Seja com seguro de Vida, Rural, Residencial, Patrimonial ou qualquer outro que faça sentido para as pessoas físicas e jurídicas”, diz o executivo, projetando um novo paradigma para a proteção contra enchentes e outras catástrofes naturais após o caso deste ano.

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Exposição da frota segurada pela Porto no Rio Grande do Sul representa até 1% do total do grupo

O CEO da PortoPaulo Kakinoff, disse em nota à imprensa que a exposição da frota segurada pela empresa nas áreas alagadas do Rio Grande do Sul representa entre 0,5% e 1% do total do grupo. Ele destacou que embora ainda não haja uma estimativa numérica precisa sobre o impacto das chuvas, a empresa projeta que as perdas estejam dentro dos modelos esperados para a estação chuvosa. Kakinoff ressaltou que o foco atual está no socorro e na assistência às vítimas, priorizando salvar vidas.

Apesar da magnitude do evento climático, Kakinoff comparou a situação com desastres anteriores, como o furacão Katrina em Nova Orleans, em 2005, sugerindo que o impacto social atual pode ser incomparável historicamente no Brasil. Celso Damadi, vice-presidente financeiro da Porto Seguro, explicou que a faixa de 0,5% a 1% mencionada pelo CEO refere-se à frota exposta nas regiões alagadas, não à frota total no Rio Grande do Sul ou aos veículos danificados.

Damadi afirmou que a Porto Seguro não faz resseguro para a carteira de automóveis devido à dispersão da frota, destacando que nunca acionaram o resseguro dessa carteira nos últimos 10 anos. No entanto, ele indicou que a empresa possui resseguro para a carteira empresarial, que provavelmente será acionado. Em relação à vertical de serviços bancários, Damadi afirmou que cerca de 2% da carteira de exposição está nas áreas afetadas, mas até o momento não houve problemas de inadimplência.

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Vinícius Alves

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