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Por que Israel se tornou a terra dos unicórnios

Israel

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Como é possível que um país de 9 milhões de habitantes, menos do que a cidade de São Paulo, com um território menor do que o estado de Alagoas, totalmente desértico e cercado por países inimigos consiga concentrar 10% de todos os unicórnios do mundo? Pois é. Essa é a pergunta que muitos se fazem quando estudam o caso de Israel.

Há mais de uma década Israel é chamado de “Nação Start-up”, pelo elevado número de empresas de tecnologias fundadas naquelas latitudes.

Mas assim com a tecnologia evolui muito rapidamente, esse nome também já pode ser modificado em “País dos Unicórnios”. Pois as mesmas start-ups criadas nos últimos anos se tornaram adultas, e agora muitas delas valem mais do que US$ um bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões).

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Somente em 2020, 15 empresas israelenses alcançaram o status e unicórnio, se somando com as 30 já existentes. Um número enorme para um país tão pequeno, pois no mundo inteiro existem atualmente cerca de 450 unicórnios.

E mesmo em época de coronavírus (Covid-19) esse crescimento não parou de ocorrer.

Coronavírus não parou investimentos em Israel

O ano negro da pandemia foi o ano dourado para os investimentos no setor de alta tecnologia de Israel. Mais de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 50,5 bilhões) em recursos obtidos somente em 2020 por empresas privadas de tecnologia.

Um aumento de mais de 20% em relação ao montante de 2019. E que deixa Israel em uma posição muito superior aos Estados Unidos (aumento de 5%) e da Europa (aumento de 1%).

A tendência de crescimento também se confirmou no começo de 2021. Somente em janeiro de 2021, 6 startups que arrecadaram mais de US$ 100 milhões cada uma, o que equivale a 30% das mega-rodadas de todo o ano de 2020.

E esse fluxo de recursos poderia aumentar ainda mais por razões geopolíticas.

Graças aos Acordos de Abraão, tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, o fundo soberano do país do golfo já está se preparando para investir US$ 10 bilhões em empresas israelenses.

Setores tecnológicos

Segurança cibernética, soluções de trabalho remoto, big data, tecnologias médicas são os principais setores que atraíram grandes investimentos em Israel em 2020.

Entre os novos unicórnios está o Redis Labs, que oferece uma plataforma de dados em tempo real e é o banco de dados mais rápido do mundo.

Outra empresa que teve um crescimento importante gerado pelo desafio do trabalho remoto foi a Monday.com, a plataforma de gerenciamento de equipes de trabalho, que agora está prestes a abrir seu capital com uma avaliação de cerca de US$ 4 bilhões.

Na frente da telemedicina, chegou o boom de investimentos do TytoCare, aparelho que permite monitorar remotamente os parâmetros dos pacientes.

Mas esses sucessos não foram gerados apenas pelos efeitos da pandemia de coronavírus, que aumentaram o faturamento, e por consequência a valuation, de muitas empresas de tecnologias.

Muitas outras start-ups tiveram também que se reinventar  Entre elas está a Bizzabo, criada em 2011 como plataforma para a gestão orgânica de grandes eventos, teve que enfrentar o colapso do setor. Por isso, os fundadores adaptaram o produto ao mundo virtual e ganharam o título de “Start-up Mais Promissora de 2020” pelo jornal econômico israelense “Globes”.

Razões do sucesso

Mas como foi possível tornar Israel esse polo de tecnologia mundial?

“Bom, parafraseando Yossi Vardi, somos o único país com três milhões de mães judias que te incentivam a dar o melhor e um bilhão de árabes que gostariam muito de te jogar de volta pro mar”, brinca Jonathan Pacifici, sócio do fundo de venture capital Sixth Millennium e autor do livro “Os unicórnios não pegam coronavírus”, ainda sem edição no Brasil.

Segundo Pacifici, existe uma conjunção astral de uma série de elementos que levaram para esse resultado. Como uma abordagem da inovação caracteristica típica da cultura judaica e israelense em particular. Uma impudência ligada a necessidade de resolver problemas complexos rapidamente. A ideia que não há nada de insolúvel, e que para cada problema há sempre uma solução e para cada solução há a possiblidade de realizá-al sem ser intimidado por “monstros sagrados”.

“Além disso, o Exército israelense é uma fábrica de inovação tecnologia e de mindset. Também muito focado nos problem solving e para a criação de soluções no âmbito militar, mas que muitas vezes tem também aplicações no setor civil”, explica Pacifici em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias.

Jonathan Pacifici

De fato, muitas tecnologias ligadas a empresas da segurança digital são desenvolvidas partido das competências que os jovens adquirem durante o serviço militar. Muitos dos cérebros por trás de grandes sucessos como Waze, Viber, Wix Cbereason sairam da lendária unidade 8200.

Segundo Pacifici, outros dois pontos fundamentais são o acesso ao capital e a presença física em Israel de escritórios de muitas multinacionais.

“Nos anos se criaram oportunidades de desenvolvimentos de empresas pois chegaram fundos internacionais. Além disso, em Israel se criaram muitos fundos também. O que permitiu um acesso ao capital mais fácil do que em outros países”, explica Pacifici, “além disso, muitas empresas estão em Israel de olho em novas aquisições. Amazon (AMZO34), Google, SAP, muitos japoneses acabam comprando empresas fundadas por israelenses graças a esse regime de proximidade que se criou como em todos os grandes hubs tecnológicos do mundo, da Vale do Silício até as regiões de Shenzhen na China”.

Governo não atrapalha

O ecossistema favorável também existe graças ao governo israelense. Que não somente não atrapalha a vida das empresas como as ajuda ativamente.

A legislação para os novos empresários é muito favorável. Por exemplo, é possível criar uma empresa em apenas três dias, o primeiro balanço deve ser apresentado somente após um ano e meio e não há limitações excessivas para as atividades empresariais.

O espírito empreendedor é também apoiado pelos incentivos da Autoridade de Inovação, órgão do governo de Jerusalém que gere os investimentos do Ministério da Economia em Pesquisa e desenvolvimento (R&D).

Segundo os dados do Fórum Econômico Mundial, cerca de 4,95% do Produto Interno Bruto (PIB) israelense é investido em R&D.

Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil, os investimentos em R&D por aqui chegam apenas a 1,27% do PIB. Menos do que o Google (GOGL34) investe sozinho.

No ano da pandemia, a Autoridade de Inovação tomou várias iniciativas para estimular o ecossistema de start-ups.

Já em março, eles publicaram uma convocação de US $ 10 milhões para soluções relacionadas ao cenário da pandemia.

Para aumentar os “investimentos sementes”, que diminuíram por causa do aumento das mega-rodadas de investimentos, o governo de Israel estabeleceu um novo percurso.

As autoridades financiam 40% da primeira rodada, e os investidores podem decidir em três anos se desejam devolver o valor em troca de ações.

Outra iniciativa foi estimular investidores mais tradicionais, como seguradoras e fundos de pensão, a atuar como fiadores de 40% dos investimentos em caso de falência.

Perguntado sobre o risco de uma nova “bolha da internet“, Pacifici disse que não acredita nessa possibilidade.

“Eu comecei a trabalhar nesse setor em 2000, então vivenciei a bolha da Internet bem de perto. Estou extremamente atento ao fenômeno. A uma euforia excessiva nos mercados que pode levar as cotações demasiadamente para cima. Não vejo esse risco. Claro, as start-ups que se desenvolvem por aqui tem um risco estrutural, mas isso faz parte do jogo”, explica Pacifici.

Segundo ele, se ajustes ocorrerão, vão ser mínimos. “Não é a mesma coisa da especulação do começo do século. Na época tinham caixas vazias que captavam milhões em investimentos, sem ter a mínima ideia de onde tirar o faturamento. Hoje é muito diferente”, conclui.

Para o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Israel, Renato Ochman, “O surgimento de Israel como uma capital tecnológica se deve ao resultado de uma série de fatores distintos, incluindo a cultura, os incentivos governamentais e o recrutamento obrigatório ao exército, entre outros fatores”.

“Israel sempre teve desafios pela frente na sua história e isso fez com que estivesse sempre na vanguarda na ciência, armamento, tecnologia, medicina e em vários outros segmentos. Com a tecnologia acessível a todos, o país atingiu uma maior exposição positiva”, explicou Ochman em entrevista ao SUNO Notícias.

Segundo Ochman, existem várias empresas de tecnologia brasileiras atuando com empresas israelenses e vice-versa. “Além disso, existe um intenso intercambio acadêmico. Por exemplo parcerias do Brasil com o Instituto Weizman e o Technion, entre tantas outras. Hoje em média cerca de 10% dos alunos nas Universidades de Israel são de outros países, entre eles o Brasil”, explicou o presidente da Câmara.

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