Sávia Gavazza, mentora da Pluvi Ambiental, startup incubada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2021 e com foco no uso de água de chuva como matriz hídrica, é a campeã do Prêmio Bayer de Empoderamento Feminino 2023.
Gavazza, mentora da startup e também professora da UFPE, com doutorado em Engenharia Civil na Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado na Universidade de Cornell (EUA), diz que recebeu o prêmio como uma confirmação de que a empresa seguindo no rumo certo – que diz respeito aos muitos anos de pesquisa científica que precedem a criação da startup e que foram fundamentais para o conhecimento que ela os que trabalham na startup têm hoje.
História da Pluvi Ambiental e as ’35 milhões de Donas Marias’
Em seu primeiro projeto de pesquisa, em 2007, quando trabalhava no Campus de Caruaru da UFPE, Sávia Gavazza percebeu que as cisternas das casas da região não tinham nenhum tipo de descarte das chuvas. Isso fazia com que as águas coletadas da chuva não passassem por nenhum tratamento e, com essa preocupação, seu grupo de pesquisa desenvolveu uma barreira sanitária inicial.
A essa tecnologia social e pública foi dado o nome de DesviUFPE e, em 2014, ela foi premiada com o Prêmio ANA 2014, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, um “Oscar” de saneamento no Brasil.
Foi durante esse projeto que Gavazza conheceu a Dona Maria, uma mulher do semiárido de Pernambuco, que participou de uma entrevista para falar sobre a sua nova cisterna com água tratada, graças ao DesviUFPE. Na entrevista, a repórter na ocasião perguntou para a Dona Maria qual era o seu sonho e, acanhada, ela falou que era “tomar um banho de chuveiro”.
Gavazza descreve essa resposta como um divisor de águas na sua carreira. “O Brasil tem 35 milhões de Donas Marias, que não têm acesso a água potável. É para melhorar a qualidade de vida desses 35 milhões que a Pluvi Ambiental existe.”
“Nós temos uma missão muito forte de contribuir com o acesso universal de água, com a segurança hídrica e também com a dignidade hídrica, a dignidade de um banho de chuveiro”, enfatiza Gavazza.
Com esse objetivo, a professora explica como foi preciso fazer uma migração entre o sistema que usavam antes no DesviUFPE – que era um reservatório confeccionado em tubos de PVC – até o que adotam hoje na Pluvi.
Financiamento de agências científicas e incentivo para startups
Quando a professora foi transferida para o campus de Recife da UFPE, descobriu que o abastecimento de água nas áreas de morro da capital pernambucana é feito por rodízio e que alguns lugares passam dias, meses ou até anos sem chegar água, por razões diversas.
Com o conhecimento que tinha do sertão e o que testemunhou em Recife, Gavazza montou um grupo de pesquisa voltado para o desenvolvimento de um produto que pudesse contribuir para amenizar a deficiência de abastecimento de água da região.
Gavazza conta que a startup é uma forma de colocar no mercado a pesquisa desenvolvida na academia. Sem o financiamento das agências de fomento à pesquisa, como a FACEPE, a Pluvi Ambiental provavelmente não teria sobrevivido até hoje. Foi graças a essa ajuda que a empresa conseguiu se desenvolver sem despesas com água, energia, ou internet, além de terem um laboratório à disposição que dá suporte à execução de novos produtos.
Além de Gavazza, outras oito pessoas compõem a startup: quatro alunos bolsistas de graduação, dois de mestrado e dois de doutorado. Todos eles são mantidos com bolsas de programas de aceleração.
Outros meios de financiamento para a produção e desenvolvimento da pesquisa também vêm de editais de incentivo de desenvolvimento de startups, aos quais ela destaca o Pró-Startup e Centelha.
Resolver três problemas com uma caixa d’água só
O produto da Pluvi vem da instalação de caixas d’água que coletam a água da chuva antes que ela chegue ao solo. Essa água passa então por um sistema de tratamento que entrega água potável para a casa ou empreendimento que adota a solução.
Para Gavazza, essa matriz hídrica é complementar ao abastecimento de água convencional, mas tem o potencial de trazer grande contribuição para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, relativo à universalização do acesso à água.
Além disso, a mentora explica que, quando o sistema é instalado em áreas susceptíveis a deslizamentos de terra e capta as águas da chuva, “resolve 3 problemas com uma caixa d’água só”:
- Retém a água da chuva antes de atingir os solos, o que reduz os riscos de deslizamentos;
- Facilita a mobilidade urbana, impedindo a água de escoar pela superfície;
- E principalmente, permite o abastecimento de água em locais onde não chega água potável.
Prêmio Bayer de Empoderamento Feminino 2023
A vitória do Prêmio Bayer de Empoderamento Feminino 2023 para Sávia Gavazza foi como uma sinalização positiva de que seu time está trilhando o caminho certo, de contribuir com a dignidade e segurança hídrica do Nordeste do Brasil.
“Nós temos o menor índice de abastecimento de água em relação à densidade populacional”, ressalta a pesquisadora. Concorrendo com mais de 981 aplicações em toda a América Latina, o reconhecimento da Fundação Bayer e o Unknown Group premiou o grupo com um valor de 25 mil euros em dinheiro, além de alguns benefícios do programa de empoderamento da Bayer Foundation.
A seleção contou com uma fase de análise técnica, depois com o voto popular – o que motivou a Pluvi Ambiental a se dedicar à sua divulgação – e por fim, as análises de jurados, com entrevistas. Com o prêmio, Gavazza explica que eles pretendem investir na estruturação e incorporação de mais tecnologia no produto.
Para ela, a atuação da Pluvi Ambiental está só no começo e prevê para 2023 a produção de 11 milhões de litros de água de chuva potável, beneficiando mais de 260 pessoas de comunidades vulneráveis do Recife.
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