PIB vem melhor que esperado, mas desemprego preocupa, diz especialista
A queda de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre de 2020 foi melhor que a projeção de analistas para o período e deve melhorar as projeções para a economia brasileira neste ano. O que mais preocupa agora, no entanto, é o alto impacto no crescente desemprego, segundo analistas ouvidos pelo SUNO Notícias.
Para Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners, a projeção de queda era de -10,5%. O resultado do PIB, portanto, veio melhor que o esperado, e isso indica que a economia brasileira deve sofrer menos em 2020. “Ainda estamos revisando os nossos números, mas com esse dado de hoje, a queda do PIB de 2020 estará mais próximo de 5% do que de 7%”, disse Jacomassi.
Apesar do resultado melhor que a projeção, o economista-chefe da TCP ainda se mostra preocupado com alguns setores, como o de serviços e mesmo o do agronegócio -único a registrar alta no período, de 0,4%.
“Acreditávamos que o segmento do agronegócio seria mais forte, em alta de cerca de 2,5%, mas vimos o segmento sucroalcooleiro sofrendo bastante pela redução do consumo de etanol. Também temos uma surpresa negativa no segmento de transportes e outros serviços, que tem bastante autônomo, e teve uma queda maior que o esperado”, afirmou.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destacou que o resultado foi puxado pelos efeitos da pandemia de coronavírus e do isolamento social. Em valores correntes, o PIB do segundo trimestre deste ano totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 175,4 bilhões em Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
PIB sofre e desemprego em alta preocupa
A queda do setor de serviços do PIB, que registrou baixa de 9,7%, deve impactar a geração de empregos no Brasil, dado que o setor é responsável por boa parte das vagas com carteira assinada no País.
“Nossa preocupação está mais em relação a velocidade e capacidade de geração de emprego. Devemos fechar o ano com cerca de 87 milhões de pessoas ocupadas. Na comparação com o ano passado, foram 95 milhões. Então essa diferença será recomposta quando? Para nós, em torno de um ano e meio, de forma gradual”, disse Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), mostram que o desemprego atingia 12,7 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio. A taxa de desocupação era de 12,9%.
A taxa de desemprego no período subiu 1,2 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Além disso, segundo o IBGE, o percentual de pessoas ocupadas na população — com idade para trabalhar — ficou em 49,5% no trimestre encerrado em maio. O resultado equivale a uma queda de cinco pontos percentuais em comparação aos três meses encerrados em fevereiro.
Auxílio ajudou economia e manteve consumo
O auxílio emergencial de R$ 600, também conhecido como coronavoucher, ajudou a manter o consumo e segurou uma queda ainda pior do PIB, segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias.
Para os próximos meses, porém a definição do valor e de quantas parcelas o auxílio ainda terá chama a atenção dos economistas dado o aumento do endividamento do País, que precisa bancar o aumento dos gastos públicos em meio a recessão.
“O racional do auxílio foi muito importante para atravessar o período da pandemia. Mas tem um custo. Esse custo será carregado no endividamento da economia, então se você pegar dívida sobre PIB estamos em quase 100%”, disse
Segundo o economista-chefe da TCP Partners, o governo precisa apontar rumos de segurar o endividamento público para que os agentes do mercado não percam a confiança na economia.
“O importante é mostrar uma diluição desse custo nos próximos anos e até onde chegará o envidamento da economia e a capacidade que o País tem para pagar essa dívida”, disse Jacomassi na análise do PIB.