O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no terceiro trimestre de 2022 registrou sua quinta alta seguida, com um avanço de 0,4%, em comparação com o segundo trimestre. Segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta quinta (1º), em valores correntes, a economia brasileira movimentou R$ 2,544 trilhões entre julho e setembro. Contudo, o resultado ficou abaixo do esperado pelos analistas.
Os destaques do terceiro trimestre da economia brasileira foram para os setores de serviços e da indústria, que cresceram 1,1% e 0,8%, respectivamente. Do outro lado, a agropecuária recuou 0,9%, e o comércio também diminuiu, com um resultado negativo de 0,1%.
“Esse é um cenário que já vínhamos observando na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE. O resultado reflete a realocação do consumo das famílias dos bens para os serviços”, destacou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, em comunicado à imprensa.
“A retração [na agropecuária] é explicada pelas culturas que têm safra relevante nesse trimestre e tiveram queda de produção, como é o caso da cana-de-açúcar e de mandioca. Já no ano, o desempenho do setor é ligado aos resultados da soja, nossa principal cultura, que teve a sua produção afetada por problemas climáticos”, complementou a especialista.
No setor externo, as importações (+5,8%) e exportações (+3,6%) cresceram, tendo como base o período anterior analisado.
PIB: Economia desacelera
Segundo levantamento da Reuters, a expectativa de crescimento era de 0,7% no terceiro trimestre, em comparação com o período anterior, o que não ocorreu. No primeiro trimestre do ano, o PIB havia crescido 1,3% e, no segundo, o avanço tinha sido de 1%.
Comparando com o terceiro trimestre de 2021, o crescimento do último trimestre mapeado foi de 3,6%. No acumulado dos quatro últimos trimestres, o crescimento é de 3%.
Ricardo Hammoud, professor de Economia do Ibmec SP, explicou ao Suno Notícias que a alta dos juros é uma das responsáveis por essa desaceleração do PIB:
A tendência é que esse crescimento para o quatro trimestre venha ainda mais fraco e, para o próximo ano, o PIB venha muito mais fraco. Nos dados do próximo trimestre, vamos perceber os efeitos dos juros tão altos e de uma menor confiança dos empresários.
Na visão de Natalia Cotarelli e Matheus Fuck, do Itaú BBA, o ritmo do PIB seguirá em desaceleração. “No entanto, a divulgação e as revisões de hoje trazem um viés de alta para nossa projeção de crescimento do PIB para 2022 devido ao carrego estatístico mais forte”, comentaram os analistas.
Para 2023, o Banco Original projeta um crescimento de 0,2% do indicador. “Não apenas porque o carregou estatístico piorou (0,4% para 0,2%), mas também porque os impactos da Selic devem se mostrar mais eficazes sobre a atividade”, destacaram os economistas Marcos Caruso e Eduardo Vilarim.
O PIB é o principal indicador utilizado para o monitoramento da evolução da economia de um país e representa a soma de todos os bens e serviços produzidos por este Estado.
“Freios de mão puxados no país e no exterior”
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, observa: “O terceiro trimestre é historicamente mais fraco que os demais, é como uma virada de ciclo para o final do ano com as empresas se organizando para a reta final, o que gera uma grande expectativa. E boa parte dessa expectativa não se confirmou no terceiro trimestre e está decepcionando ainda mais no quarto trimestre, pelos dados do comércio. O terceiro trimestre veio abaixo do esperado e indica que o inverno que está por vir na economia brasileira.”
Alves acrescenta: “Tivemos o setor de Serviços avançando 1,1%. Esse é um setor que tem sido a mola do crescimento nos últimos meses, pois depende, em sua maioria, da circulação da renda já existente ou fornecida. Não é preciso a criação de produtos, investimento em produção, menor dependência do câmbio para que esse setor performe bem, caso da indústria.”
E conclui: “Os consumidores estavam bem “empolgados” com os auxílios na economia com mais dinheiro disponível. O comércio teve um recuo de -0,1%, reflexo da confiança do consumidor, que teve o seu poder de compra comprimido ao limite com a inflação. Muito dessa renda foi usado para necessidades básicas como mostram os dados do IPCA de outubro e novembro e menos para gastos no comércio, por exemplo. Soma-se a isso uma população cada vez mais endividada, com difícil acesso ao crédito, e a um custo cada vez mais elevado. Tudo isso contribui para a diminuição do ritmo da economia brasileira, e que deve ser acentuada com a piora do cenário fiscal, demanda mais do que contratada para 2023.”
Há ainda os fatores externos, lembra Alves: “EUA com inflação elevada, guerra entre Rússia e Ucrânia ajudando a inflacionar o preço do petróleo e outras commodities como grãos. China seguindo com a política da covid zero, esfriando a economia local, que tem uma previsão de crescimento menor e, por conseguinte, demanda menos matéria-prima como minério de ferro. Tudo isso contribui para a menor atividade econômica do Brasil, com PIB menor, já que os seus principais parceiros comerciais estão com os freios de mão puxados.”