A temporada de balanços do segundo trimestre de 2022 esquenta esta semana, com uma agenda agitada. Estão previstas ao menos 20 divulgações de resultados do 2T22 nos próximos dias, o que inclui os números de gigantes como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11), Ambev (ABEV3), Usiminas (USIM5), Santander (SANB11), Embraer (EMBR3), Pão de Açúcar (PCAR3) e Gol (GOLL4).
Além dos resultados de Petrobras, Vale e Ambev, o mercado terá uma semana especialmente movimentada. Na quarta, o Federal Reserve (Fed) anuncia na quarta (27) a decisão sobre a taxa de juros em meio a expectativas sobre a magnitude do aumento em um cenário de inflação alta e risco de recessão. No cenário doméstico, investidores estarão de olho ainda na divulgação do IPCA-15, na terça (26).
O mercado terá outros pontos de atenção no exterior, com os balanços do 2T22 das big techs: Alphabet (GOGL34), dona do Google, e Microsoft (MSFT34), na terça (26); Apple (AAPL34) e Amazon (AMAZO34), na quinta (28); e Meta (M1TA34), controladora do Facebook, na quarta (27).
No Brasil, além dos resultados, investidores estarão atentos ainda aos anúncios de dividendos das empresas que revelam seus números operacionais.
Petrobras: expectativas (incluindo dividendos)
Na noite da quinta-feira (21), a Petrobras (PETR4) divulgou o relatório de produção e vendas do segundo trimestre de 2022 (2T22). Na avaliação do mercado, os resultados foram “ligeiramente positivos”, em linha com as expectativas.
De acordo com o Itaú BBA, os analistas esperam uma reação neutra sobre a queda na produção do petróleo, uma vez que já havia sido divulgada pela ANP. Mas, em relação à alta utilização nas refinarias durante o 2T22 — alcançando 97% no final de julho –, a reação é levemente positiva.
Mesmo com a queda, os analistas dizem que o avanço de preços do petróleo pode compensar a produção mais baixa. Indica, segundo os analistas, que a Petrobras deve soltar, na próxima quinta (28), um balanço do 2T22 com números altos, com reforço de geração de caixa e dividendos robustos.
“Estamos inserindo os números operacionais em nossas estimativas e publicando nossa prévia. Apesar de alguma desalavancagem operacional na menor produção de petróleo e gás, que deve levar a um ligeiro aumento nos custos de extração para US$ 7,2/bbl, esperamos outro conjunto de resultados recordes devido aos preços mais altos do petróleo ( 14% t/t para US$ 107/bbl)”, acrescenta o BTG sobre a Petrobras.
“Acreditamos que também veremos fortes margens de Refino & Comercialização, uma vez que altos spreads e ganhos de estoque devem mais do que compensar os descontos vs. paridade de importação”, dizem ainda os analistas do BTG. “Os investidores estão fechando os olhos para os dados operacionais ultimamente e acreditamos que o potencial anúncio de dividendos adicionais deve permanecer em destaque. Prevemos um pagamento total de R$ 38 bilhões, com yield de 11% com base no último preço de fechamento e excluindo qualquer valor adicional decorrente de vendas não recorrentes de ativos. Também estamos projetando receita líquida de R$ 161 bilhões, EBITDA de R$ 92 bilhões e lucro de R$ 40,4 bilhões.”
O BTG estima preço-alvo de R$ 41 para as ações da Petrobras, com recomendação neutra de compra.
Vale: cautela nos resultados do 2T22
Após examinar os dados da produção e vendas da Vale (VALE3), divulgados nesta terça (19), analistas destacam cautela e conferem recomendação neutra para os papéis.
O Goldman Sachs, que reforçou sua recomendação neutra para as ações da Vale, mira US$ 87 por tonelada do minério.
“A produção reportada de minério de ferro da Vale de 74 mi t no 2T22 foi 5% ficou acima das expectativas. No entanto, a empresa rebaixou o guidance de produção de minério de ferro para o ano inteiro para 310-320mtpa (de 320-335mtpa) e o guidance de produção de cobre para 270-285ktpa (de 330-355mtpa). Esperamos uma reação negativa do mercado”, dizem os analistas da casa.
“Os dados de minério de ferro da Vale não implicam em crescimento de produção em relação a 2021, o que é decepcionante e provavelmente alimentará as preocupações dos investidores sobre a capacidade da empresa de retomar a produção para os níveis de acidentes anteriores a Brumadinho, de 385 milhões de toneladas”, segue o GS.
A expectativa para a casa para os resultados do 2T22 é de um EBITDA de US$ 6,2 bilhões no 2T22, “uma vez que as vendas mais fortes de minério de ferro são compensadas por metais básicos mais fracos e prêmios mais baixos”.
O Bank of America (BofA) também concluiu por uma recomendação neutra e fala sobre “valor acima do volume”.
“Mantemos nossa recomendação neutra sobre a Vale com a perspectiva mais cautelosa de minério de ferro, equilibrada pelos robustos retornos de caixa da Vale por meio de recompras e dividendos. Acreditamos que o corte de guidance pode dar algum alívio aos preços do minério de ferro, mas no final das contas esse corte apenas formaliza os volumes mais baixos já na maioria dos investidores e em nossos modelos”, diz o BofA.
Há alguns dias os analistas do banco publicaram relatório revisando suas perspectivas para a Vale, citando um cenário turbulento por causa da China.
O Itaú BBA, da mesma forma, mantém recomendação neutra e mira US$ 20 para a ADR, ante US$ 12,70 atuais. A projeção é de um EBITDA de US$ 5,95 bilhões para o 2T22.
Santander não anima analistas
A divulgação de resultados do segundo trimestre de 2022 do Santander (SANB11) não anima os analistas da Genial Investimentos, conforme divulgou a instituição nesta sexta-feira (22) em relatório sobre o banco.
A Genial prevê um lucro de cerca de R$ 4,4 bilhões para o Santander no 2T22, valor acima do consenso do mercado, de R$ 3,9 bilhões. Esse número é pouco acima do lucro líquido do 2T21, de R$ 4,17 bilhões, então o maior patamar histórico do banco. O lucro do 1t22 ficou nos R$ 4 bi.
O Santander, que apresentará seu balanço trimestral ao mercado no próximo dia 28, deve ter, segundo a Genial, aumento da inadimplência e uma baixa cobertura – a menor entre os grandes bancos — como fatores de pressão nas operações e lucros no período.
Para o Itaú BBA, o Santander (SANB11) se tornou a principal recomendação para se evitar entre os bancos com coberturas mais baixas, com expectativas de queda de 13% de ganhos A/A em provisões mais altas.
Ambev (ABEV3) deve ter margens apertadas no 2T22
O balanço da Ambev (ABEV3) do segundo trimestre, que será publicado em 28 de julho, deve mostrar custos em alta e margens pressionadas, e não deve animar os investidores. Além disso, os analistas apontam um cenário de melhora operacional, mas com um macro desafiador. O consenso é de que o preço justo para os papéis é na casa dos R$ 18, segundo estimativas da XP, do Bank of America e do Itaú BBA.
“Após a AmBev apresentar um 1T22 fraco, e apesar de alguns sinais de melhora dos preços das commodities, o 2T22 não deve animar os investidores, uma vez que mesmo com crescimento na receita líquida/hl, os custos ainda serão um vento contrário, ainda com um aumento nas despesas de SG&A pressionando o resultado final”, dizem os analistas da XP, Leonardo Alencar e Pedro Fonseca.
“Esperamos um aumento nas vendas de cerveja no Brasil, seguindo a tendência do setor reportada até maio (índice IBGE), mas CAC e Canadá estão atrasados, enquanto LAS é misto. Apesar desse gostinho de cerveja choca, a AmBev sempre foi um forte player nas embalagens retornáveis, cujas vendas já estão acima de 2019, apesar de ainda atrás para a garrafa de 600ml”, seguem.
A análise da corretora aponta que apesar da inflação em alta, a produção de bebidas alcoólicas aumentou nos dois primeiros meses do trimestre, segundo dados do IBGE.
Petróleo será destaque no Ibovespa, projetam analistas
A expectativa otimista para os resultados do 2T22 fica com o setor de energia, que deve crescer 42% em termos de receita, 47% no Ebitda e 30% no LPA.
Apesar disso, a projeção para o 2T22 também não é a mais otimista por causa das margens. “Estimamos margens apertadas para geração. Para distribuição, altas taxas de juros podem pressionar os resultados financeiros das empresas alavancadas”, segundo o BofA.
Os shoppings ainda ficam na incerteza: “Com uma desaceleração marginal das vendas em junho, a temporada de relatórios pode definir o tom das expectativas para o segundo semestre”.
Nas commodities, com a pressão no preço do minério de ferro, há expectativa de retração no indicadores financeiros, o que deve reduzir expectativas para as mineradoras e siderúrgicas.
Contudo, as petroleiras devem ter uma melhora de cenário. A expectativa é de ‘aumento intenso’ nos lucros das companhias do segmento no Ibovespa, incluindo a Petrobras (PETR4) e a PetroRio (PRIO3). A tese é firmada mesmo com a volatilidade recente na cotação do petróleo.
Veja o calendário completo dos resultados do 2T22 nesta semana
Terça-feira (26)
Vivo (VIVT3), após o fechamento do mercado
Carrefour (CRFB3), após o fechamento do mercado
Quarta-feira (27)
Klabin (KLBN11), antes da abertura do mercado
Suzano, após o fechamento do mercado
Assaí (ASAI3), após o fechamento do mercado
Pão de Açúcar, após o fechamento do mercado
EDP (ENBR3), após o fechamento do mercado
Dexco (DXCO3), após o fechamento do mercado
Intelbras (INTB3), após o fechamento do mercado
Log (LOGG3), após o fechamento do mercado
Odontoprev (ODPV3), após o fechamento do mercado
Quinta-feira (28)
Santander, antes da abertura do mercado
Ambev, antes da abertura do mercado
Embraer (EMBR3), antes da abertura do mercado
Gol, antes da abertura do mercado
Isa Ceteep (TRPL4), após fechamento do mercado
EcoRodovias (ECOR3), após o fechamento do mercado
Paranapanema (PMAM3), após o fechamento do mercado
Hypera (HYPE3, após o fechamento do mercado
Petrobras, após fechamento do mercado
Vale, após o fechamento do mercado
Multiplan (MULT3), após o fechamento do mercado
Sexta-feira (29)
Usiminas (USIM5), antes da abertura do mercado
RaiaDrogasil (RADL3) após o fechamento do mercado
Ibovespa deve ficar ‘menos barato’ depois dos resultados do 2T22, diz BofA; entenda
Apesar de diversos analistas apontarem uma bolsa ‘barata’ com, múltiplos descontados, os analistas do Bank of America (BofA) projetam que, com os resultados do 2T22, haverá uma queda de 28% no lucro por ação (LPA) do Ibovespa.
A expectativa é de que a principal influência da piora do cenário do Ibovespa seja da retração da Vale, que teve deterioração recente com seu relatório de produção.
“Os números parecem relativamente em linha com o consenso e nossas projeções, mas a produção e as vendas de minério de ferro são um pouco decepcionantes”, disseram os analistas do banco.
“Mantemos nossa recomendação neutra sobre a Vale com a perspectiva mais cautelosa de minério de ferro, equilibrada pelos robustos retornos de caixa da Vale por meio de recompras e dividendos. Acreditamos que o corte de guidance pode dar algum alívio aos preços do minério de ferro, mas no final das contas esse corte apenas formaliza os volumes mais baixos já na maioria dos investidores e em nossos modelos”, acrescentaram.
Nesse cenário e com impacto da Vale e de outras gigantes do Ibovespa, o BofA estima que as empresas devem ter queda de 14% no lucro por ação, com os setores e industriais como os principais responsáveis pela retração nos resultados do 2T22. Apesar disso, a receita deve crescer 13% e o Ebitda 1%, dizem os analistas que assinam o relatório, David Beker e Paula Andrea Soto.