O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, refutou especulações sobre a saída do presidente da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, afirmando que Lula nunca discutiu o assunto com ele. “A Petrobras está a cargo do presidente Lula. Surgiu muita especulação nos últimos dias”, diz. A declaração foi dada ao jornal O Globo, nesta terça-feira (9).
Ao periódico, Silveira disse que suas discordâncias com Prates são apenas em questões específicas e não pessoais. “Lula nunca cogitou a saída de Prates da Petrobras para mim. Não existe essa personificação entre mim e o presidente da estatal. Discordamos em questões pontuais”, afirmou.
O embate entre Silveira e Prates ganhou repercussão nos últimos dias, o que fez o ministro reafirmar o que foi dito em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na semana passada. “Sempre tive debates acalorados, verdadeiros. Mas debates transparentes sobre o que eu, como governo, defendo na Petrobras; e o presidente da Petrobras, naturalmente [defende] como presidente de uma empresa. Os papéis são diferentes. Por isso há um conflito”, contou à época.
Sobre a distribuição de dividendos da Petrobras, o ministro negou ter chegado a algum acordo em reuniões com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa. No entanto, ele admitiu que a distribuição de dividendos extras pode ocorrer dependendo do cenário econômico da empresa e do país.
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Os debates em torno dos dividendos extraordinários estão ligados a uma crise na Petrobras que levantou a possibilidade de demissão de Prates. Aliados do presidente Lula afirmam que Prates cometeu uma série de erros e consideram irreversível o desgaste de sua liderança na Petrobras.
Quando questionado sobre uma possível troca no comando da estatal, Haddad declarou que não discute esse tipo de assunto com o presidente Lula. Segundo ele, suas conversas com o presidente se concentram nos cenários econômicos da empresa e do Executivo, evitando abordar questões relacionadas à gestão interna da Petrobras.
Em contrapartida, Haddad afirmou que as negociações sobre a distribuição de dividendos extraordinários da Petrobras estão avançadas e que o conselho de administração da estatal deverá tomar uma decisão sobre o assunto ainda neste mês.
Ao O Globo, Silveira apelou por tranquilidade na empresa, desejando que a Petrobras tenha um pouco de paz para, segundo ele, “aumentar seu valor de mercado, criar empregos e renda”.
Proposta de distribuição de 50% dos dividendos da Petrobras retidos foi levada à reunião, diz jornal
Na segunda-feira (8), o jornal Valor Econômico disse que o governo planejava propor ao conselho de administração da Petrobras (PETR4), em reunião no Palácio do Planalto, a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários retidos em conta de reserva de remuneração de capital. Duas fontes próximas ao assunto, afirma o Valor, disseram que Haddad teria levado essa proposta dos dividendos da Petrobras a Lula durante o encontro.
A proposta de distribuição parcial dos dividendos da Petrobras extraordinários surge após a sinalização da atual diretoria da empresa de que vai aderir à transação tributária relacionada aos contratos de afretamento de plataformas de petróleo, conforme publicou o Valor.
Uma fonte disse ao jornal que essa abordagem seria vantajosa para a União, visto que receberia parte dos dividendos extraordinários como controladora da empresa, além de se beneficiar do acordo que está em vias de ser fechado na transação.
Inicialmente, Haddad estava inclinado a defender a distribuição integral dos dividendos extraordinários da Petrobras, porém a proposta de distribuição parcial parece ter sido bem recebida como uma solução de “ganha-ganha” para ambas as partes. O dinheiro proveniente dessa distribuição será fundamental para a busca do governo em zerar o déficit primário neste ano, que é a meta fiscal estabelecida em lei.
Em março, a Petrobras optou por reter R$ 49,3 bilhões em dividendos extraordinários que seriam destinados aos acionistas. Essa medida resultou em uma queda de R$ 55,3 bilhões no valor de mercado da empresa, além de criar dificuldades para o governo federal, principal acionista da petroleira.
De política de preços a mercado de biocombustíveis: entenda o embate entre Prates e Silveira
A relação entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sempre foi tensa, divergindo desde o início do governo sobre os rumos da Petrobras. Os desentendimentos começaram a se tornar públicos no ano passado, especialmente em junho, quando surgiram divergências técnicas sobre o uso do gás natural reinjetado pela Petrobras.
Os embates entre Prates e Silveira se intensificaram devido a opiniões divergentes sobre a política de preços da estatal, que foi modificada em maio do ano passado. A situação de Prates ficou ainda mais delicada com sua abstenção na reunião do conselho de administração que decidiu reter os dividendos.
Ontem, a jornalista Mariana Carneiro, do Estadão, disse que a divergência entre eles tem outro pivô: ambos estão envolvidos em uma disputa acirrada por um mercado que gerou R$ 161 bilhões para a petroleira no ano passado. Produtores de biodiesel, instigados por Silveira, e a Petrobras estão competindo por fatias da venda de diesel, que estão sendo impactadas por um projeto de lei atualmente em tramitação no Senado e que está mobilizando o setor produtivo.
O embate surge devido ao projeto, intitulado “Combustível do Futuro”, que determina que o diesel – o principal produto comercializado pela Petrobras – terá uma proporção crescente de combustível de origem vegetal (biodiesel e diesel verde) a partir do próximo ano.
Nos últimos dias, houve ruídos de que Lula fez um convite ao atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, para assumir a presidência da Petrobras. No dia 5, a jornalista Andréia Sadi publicou, em seu blog no G1, que aliados de Prates queriam alocar Mercadante na presidência do conselho de administração da petroleira para manter Prates no cargo.
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