Petrobras (PETR4) lucro deve subir no 4T22, mas pagamento de dividendos divide analistas
Na próxima quarta-feira (1°), a Petrobras (PETR4) divulgará o seu balanço financeiro do quarto trimestre de 2022. Com resultado de produção em linha com as expectativas, o mercado agora tem sob a mira a política de dividendos — considerada o fator chave para o desempenho das ações da estatal.
Os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual (BPAC11), destacam que não é algo trivial dizer assertivamente quanto a Petrobras pagará dividendos neste trimestre, porém eles apontaram as projeções financeiras do 4T22.
O BTG acredita que haverá uma leve queda do Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de E&P (exploração e produção) devido aos preços mais baixos do petróleo (-10% t/t), produção estável e custos de extração de US$ 7,3/bbl.
“Em base consolidada, modelamos R$ 160 bilhões de receita líquida (US$ 30 bilhões), R$ 92 bilhões de Ebitda (US$ 17,5 bilhões) e um lucro líquido de R$ 52 bilhões (US$ 10 bilhões) – ante R$ 46,096 bilhões no terceiro trimestre de 2022 (3T22). Por fim, esperamos que a alavancagem caia 0,1x t/t, refletindo em R$ 42,6 bilhões (US$ 8 bilhões) de pré-dividendos FCFE (fluxo de caixa livre para o acionista)”, pontuam.
Mas, independentemente de qual será o lucro e a receita da petroleira no 4T22, os analistas lembram que o governo recém-eleito de Luiz Inácio Lula da Silva e o novo CEO indicado por ele, Jean Paul Prates, mostraram uma “inclinação de reduzir pagamentos”.
“O fato de a Petrobras já ter desembolsado o suficiente para cumprir sua política de pagamento atual (60% do fluxo de caixa menos capex) com base nos resultados de 2022 também pode reduzir a disposição da administração de pagar mais”, afirmam.
Diante disso, os analistas do BTG consideram que a atual política de dividendos da Petrobras será seguida no próximo trimestre, com pagamento de US$ 5,6 bilhões, rendendo 8% com base no atual valor de mercado.
XP vê como majors de petróleo e gás mais baratas
Outra casa que projetou os números da Petrobras para o 4T22 foi a XP Investimentos. Segundo André Vidal, Guilherme Nippes e Helena Kelm esperam mais um trimestre sólido para a estatal, apesar da queda nos preços médios do Brent (US$ 89/bbl, -12% T/T), mas que foi parcialmente compensada pelo real mais desvalorizado.
Diante disso, eles estimam um Ebitda ajustado da Petrobras em US$ 16,4 bilhões (-6% T/T) e dividendos declarados em aproximadamente US$ 4,5 bilhões, um pouco abaixo da projeção do BTG.
“Nosso cenário base é que os dividendos relativos ao 4T22 serão calculados com base na fórmula 60% (FCO – Capex), embora houvesse espaço para mais. A empresa deve encerrar o ano abaixo da meta de dívida bruta de US$ 60/65 bilhões”, afirmam os analistas da XP.
Diante disso, os especialistas acreditam que o foco das perguntas na teleconferência do 4T22 da Petrobras (marcada para o dia 2 de março) estará relacionado a:
- política de dividendos;
- mudanças na governança corporativa;
- alocação de capital (CAPEX e M&A);
- precificação dos combustíveis.
A Petrobras continua sendo uma das majors de petróleo e gás mais baratas do mundo, mas nas últimas semanas os riscos políticos parecem estar crescendo contra os acionistas minoritários.
Santander prevê 3 cenários
Considerando o impacto dos dividendos nas ações da Petrobras, o Santander (SANB11) projetou três cenários: positivo, neutro e negativo (sendo este apontado como improvável, visto a Lei das Sociedades por Ações).
Entenda os três cenários de impacto às ações projetada pelos analistas Christian Audi e Eduardo Muniz:
- Positivo: dividendos acima de 25% do lucro líquido
- Neutro: dividendos de 25% do lucro líquido
- Negativo: dividendos zerados ou abaixo de 25% do lucro líquido
Assumindo o pagamento mínimo de 25% do lucro líquido ajustado da Petrobras como base, os analistas estimam uma taxa de rendimento de aproximadamente 8% para 2023 — na mesma linha que o BTG.
Porém o percentual estimado vai contra contra cerca de 9% de pares da petroleira nos Estados Unidos e na Europa, também abaixo dos 10% de mercados emergentes. Mesmo diante disso, o banco destaca que as incertezas sobre a Petrobras têm afetado mais os investidores brasileiros do que os internacionais.
“Os investidores estrangeiros são mais construtivos em relação à Petrobras do que os locais no Brasil, e os investidores estrangeiros preferem comprar as ações ordinárias (PETR3) devido à sua natureza de acionista controlador.”
Credit Suisse está otimista
Já o Credit Suisse se mostra otimista em relação à política de dividendos da Petrobras no 4T22. A casa estima o pagamento da política atual em US$ 5 bilhões, valor que representa aproximadamente 6,9% de rendimento e menor do que o montante da geração de caixa livre.
Do ponto de vista fiscal, o governo se beneficia significativamente da política de dividendos da Petrobras. Porém o mercado parece cético quanto à manutenção da atual política.
Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero ainda pontuam que, pelo preço das ações da Petrobras, a expectativa de investidores é que a distribuição de dividendos fique em cerca de US$ 2,8 bilhões no quarto trimestre. Mesmo que abaixo das projeções, o valor está longe do “zero dividendos”.
E ainda que reconheçam a possibilidade de que a distribuição de dividendos da Petrobras não seja aprovada, esse não é o cenário base dos analistas do Credit Suisse — sobretudo considerando o resultado operacional demonstrou que a estatal vendeu mais volumes do que produziu no trimestre.
Cotação
Nesta sexta-feira (24), as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras operam em baixa de 0,41% e 0,2%, cotadas a R$ 26,44 e R$ 29,97, respectivamente. No acumulado dos últimos 12 meses, os papéis da petroleira tiveram uma valorização de 30,89%.