Aliados do presidente da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, querem alocar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, na presidência do conselho de administração da petroleira para manter Prates no cargo, informou a jornalista Andréia Sadi, nesta sexta-feira (5), em seu blog no G1.
Nesta quinta (4), o Pipeline, do Valor Econômico, informou que a ideia do governo era que Mercadante assumisse a Petrobras e, como consequência, Nelson Barbosa, atual diretor de planejamento do banco de fomento, iria presidir a instituição em seu lugar.
O ruído sobre uma possível mudança na liderança da petroleira acontece após Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Prates travarem embates frequentes desde o ano passado. Recentemente, divergiram sobre os dividendos extras da Petrobras e o papel do biodiesel no projeto de lei “Combustível do Futuro”, que define metas verdes para o setor. Ambos os ministros estão à frente de cadeiras que são peças-chave para a transição energética, uma das bandeiras do terceiro mandato de Lula.
Silveira reconheceu os debates intensos com Prates em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, nesta semana, mas suavizou o tom: “Sempre tive debates acalorados, verdadeiros. Mas debates transparentes sobre o que eu, como governo, defendo na Petrobras; e o presidente da Petrobras, naturalmente [defende] como presidente de uma empresa. Os papéis são diferentes. Por isso há um conflito”, disse.
Mercadante diz que não quer abandonar BNDES e Prates falta reunião da petroleira nesta sexta
Se a articulação dos aliados de Prates der certo, Pietro Mendes, eleito em abril de 2023 e ligado a Silveira, deixaria o cargo no conselho para ceder o lugar ao presidente do BNDES. Sadi afirma que fontes dizem que Mercadante tem reiterado aos seus contatos que não deseja abandonar a instituição financeira e que mantém uma relação muito positiva com Prates. Qualquer substituição causaria desconforto entre eles. Enquanto isso, Prates afirma a seus confidentes que só deixará a Petrobras se for demitido.
Na tarde da quinta-feira (4), o presidente da Petrobras publicou no X, antigo Twitter, um print de uma suposta mensagem de WhatsApp. Na conversa, uma pessoa não identificada pergunta: “Jean Paul vai sair da Petrobras?”, e a resposta que aparece no diálogo é: “Acho que após as 20h02. Vai pra casa jantar… E amanhã, às 7h09, ele estará de volta na empresa, pois sempre tem a agenda cheia”.
Nesta sexta-feira (5), porém, Prates não compareceu à reunião do conselho de administração da estatal. Prates costuma participar, ainda que de forma remota, das reuniões da Petrobras. A distribuição de dividendos pode ser um dos assuntos em discussão no evento de hoje. Existe a possibilidade de os conselheiros aprovarem o acordo para distribuir parte dos recursos, que foi firmado nesta semana pelos ministros Fernando Haddad e Silveira, em Brasília.
Ao presidente do conselho da Petrobras cabe a responsabilidade de convocar os conselheiros para deliberarem sobre assuntos relevantes, gerenciar a importância das contribuições, coordenar as votações e comunicar os resultados. Além disso, é de sua competência decidir sobre votações que resultem em empate.
Lula deve programar reunião com ministros neste fim de semana
O presidente Lula está programando uma reunião com ministros durante o fim de semana para abordar a estrutura da equipe e a crise na Petrobras, informa a Folha. De acordo com um membro do governo, os ministros devem estar disponíveis para possíveis reuniões no sábado e domingo. As discussões ainda não foram marcadas. É esperado que a sucessão na Petrobras seja um dos temas em pauta.
Segundo aliados, durante uma de suas visitas, Lula mencionou de forma superficial a possibilidade de o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, assumir a presidência da empresa. No entanto, até o momento, nenhum convite formal foi feito. Entre os contatos de Lula, há apoio à permanência de Jean Paul Prates, embora sua saída seja vista como praticamente inevitável. No sábado, Lula tem um encontro agendado com representantes de movimentos sociais, incluindo a FUP (Federação Única dos Petroleiros).
Embora Lula ainda não tenha se manifestado oficialmente sobre o biodiesel, ele seguiu a sugestão de Silveira de adiar o pagamento dos lucros extraordinários. Na segunda-feira (3), criticou os lucros exorbitantes da Petrobras e a postura do mercado sobre os dividendos. “Não podemos admitir que a Petrobras tenha um único e exclusivo objetivo de ter lucros exorbitantes para poder distribuir aos seus acionistas”, afirmou à GloboNews.
Entenda por que Prates pode ser dispensado da presidência da petroleira
A principal causa de instabilidade para a permanência de Jean Paul Prates como CEO da Petrobras surge predominantemente de dentro do próprio governo. Entre seus opositores mais proeminentes estão os ministros Alexandre Silveira, responsável pelas Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil.
Nas últimas semanas, o cerco contra Prates aumentou, e as ameaças à sua permanência no cargo atingiram um nível sem precedentes no governo Lula. A controvérsia se originou da postura do CEO em relação à distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras, adotada no início de março.
Prates defendia uma distribuição mais ampla desses dividendos aos acionistas, enquanto Lula e Silveira discordavam. Em 8 de março, uma sexta-feira, as ações da Petrobras despencaram 10% na Bolsa brasileira (B3) quando foi anunciada a decisão de se reter os dividendos. Essa notícia resultou em uma perda de quase R$ 56 bilhões em valor de mercado da empresa em um único dia.
Além disso, devido à mesma questão, Prates enfrentou contestações de representantes dos petroleiros, que têm direito a um assento no conselho de administração da Petrobras.