Petrobras (PETR4): com deságio de 18% no preço da gasolina, política de preços corre riscos?

Faltando pouco mais de um mês para completar um ano em ação, a atual política de preços da Petrobras (PETR4) encara o seu primeiro grande teste de fogo — um deságio de 18% (R$ 0,63) no preço da gasolina e de 8% (R$ 0,30) no diesel, e isso em meio a uma grande crise política ao redor da sua decisão de não distribuir dividendos extraordinários. Em paralelo, há uma queda de 6% nos papéis no último mês.

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Cotação PETR4

Gráfico gerado em: 01/04/2024
1 Mês

Para Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, e Thiago Pedroso, chefe de renda variável da Criteria Investimentos, o primeiro ano da política de preços da Petrobras — alterada em maio de 2023 para permitir um espaçamento maior nos reajustes feitos pela estatal — pode ser considerado melhor do que o inicialmente esperado pelo mercado. Até o início de 2024, a companhia vinha conseguindo repassar as oscilações no preço do petróleo de forma consistente até mesmo durante um momento de estresse no mercado da commodity.

O mesmo não vem acontecendo agora. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), já são 164 dias sem novos reajustes nos preços da gasolina e 97 no caso do diesel. A companhia já chegou a ver deságios semelhantes no passado recente, mas o contexto político atual acende um sinal amarelo para o mercado.

Uma nova mudança na política de preços da Petrobras não parece estar na mesa, mas há uma preocupação latente, principalmente com a questão do diesel, por testar até onde o governo pode ir com a sua interferência dentro da empresa.

Como a Petrobras não é autossuficiente e depende da importação para o abastecimento interno, a leitura é de que ela precisará repassar os valores para não se ver diante de um risco de desabastecimento e disrupção de cadeias produtivas. Existe também a questão inflacionária a ser levada em conta. Se houver uma disparada no petróleo, os repasses podem acabar prejudicando a política monetária atualmente em vigor, freando a queda da Selic em meio a uma alta da inflação, puxada pelos combustíveis.

Apesar de significativo e um importante teste para a política de preços da Petrobras, o atual deságio no preço da gasolina e do diesel não é o único vilão responsável pela queda dos papéis PETR4. O problema da companhia, no momento, parece estar mais ligado ao conjunto da obra — a decisão de reter os dividendos extraordinários para investimentos ainda incertos e, claro, a falta de reajustes que, no longo prazo, podem machucar as receitas da empresa.

O consenso é de que um reajuste nos preços será uma sinalização positiva da administração, mas insuficiente para tirar a companhia do furacão político em que se encontra. Para os especialistas, uma sinalização mais clara sobre como os dividendos retidos serão investidos e a não interferência estatal na administração da companhia são o que a Petrobras precisa para reconquistar a confiança dos investidores e o seu valor de mercado perdido nas últimas semanas.

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Petrobras: como ficam as empresas juniores do setor de petróleo

Com a crisa na Petrobras, as empresas juniores de petróleo herdam parte do fluxo local de investidores, mas são incapazes de absorver todo o volume de migração da estatal, diz Pedroso, da Criteria. Nesse contexto, o movimento de alta apresentado por essas empresas tende a ser apenas marginal e de curto prazo.

Segundo ele, a movimentação em direção a companhias como PRIO (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e PetroRecôncavo (RECV3) é, em sua maioria, feita por players locais. “O investidor estrangeiro, que é um dos grandes investidores da Petrobras, dificilmente vai entrar nessas empresas. O que pode trazer valorização para esses ativos está mais relacionado à performance da commodity e o operacional dessas companhias”, explica.

Para a Toro, as petroleiras internacionais levam a melhor ao se comparar o porte das companhias — e empresas como British Petroleum (BP), ExxonMobil e ConocoPhilipps acabam se beneficiando do fluxo de saída da Petrobras.

Com o petróleo em um patamar de US$ 87,90, possibilidade de um aumento nas margens de receita e lucro e boas entregas operacionais, os especialistas veem a PRIO como a melhor colocada para absorver parte do fluxo no Brasil, por estar exposta ao mercado internacional com 100% da sua produção exportada.

Já a 3R, que também vende para o mercado interno, pode acabar prejudicada por um eventual prolongamento da interferência negativa nos preços domésticos.

Simone Tebet diz que não vê interferência do governo na estatal

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse não ver interferência do governo na Petrobras e afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exerceu o seu direito quando tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega na Vale (VALE3).

As duas ofensivas citadas por Tebet foram mal recebidas por investidores e analistas do mercado financeiro, que viram nelas tentativas do governo de intervir nas empresas, para subordiná-las aos interesses de Brasília. As declarações da ministra foram dadas no sábado, em entrevista à CNN.

“Não vejo (interferência na Petrobras). Falou-se muito que a Petrobras perdeu R$ 50 bilhões, o que se recupera em 15 dias, mas ninguém viu que ela teve o segundo maior valor histórico da série dos últimos anos”, disse Tebet. “Não tenho visto isso (interferência)”. As informações são do jornal O Estado de S. Paul

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Jasmine Olga

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