Com a guerra na Ucrânia e o cenário mundial volátil, os preços do petróleo encaram uma instabilidade atípica em 2022. Em 7 de março, apenas 11 dias após o início da guerra, os contratos da commodity atingiram a maior alta em 14 anos, com o Brent – que é referência para a Petrobras (PETR4) – chegando a US$ 139,13. Para entender os fenômenos que atingem o setor, é preciso observar suas tendências e preço de maneira estrutural, explica Vitor Sousa, head de Energia Elétrica, Petróleo e Saneamento Básico na Genial Investimentos, ao Suno Notícias.
Segundo o especialista, a questão estrutural que abrange o petróleo hoje é a oferta. “Nos últimos cinco anos, houve pouco investimento em relação à exploração, e a oferta não acompanhou a demanda. O preço do petróleo na casa dos US$ 100 é muito acima da média histórica”, observa na segunda edição do Raio-X do Setor.
Durante a pandemia de Covid-19, que atingiu seu pico pouco antes da metade de 2020, houve um alívio na demanda da commodity, com mais pessoas tendo de ficar em casa para evitar a disseminação da doença. No entanto, dois anos depois, o fluxo se normaliza cada vez mais. “Nesse exato momento, há uma demanda pré-pandemia, normalizada, nada extraordinária. Por isso também vemos os preços altos hoje”, analisa.
Para as petrolíferas, a questão dos preços não costuma ser tão predominante para o desempenho. Segundo Vitor Sousa, as companhias do setor de petróleo e gás foram feitas para serem lucrativas com o petróleo a US$ 50.
“No final, o que importa para uma empresa é a média do preço, não uma alta ou queda específica em um dia. Há muitos fatores já precificados. Uma possível recessão nos Estados Unidos, por exemplo, já está nas capas dos jornais há semanas”, diz o especialista. O que poderia impactar de maneira estrutural, de fato, é a questão econômica na China ou a bolha imobiliária. O país asiático encara uma desaceleração de sua economia, impactada principalmente pela política de Covid-19 zero. “Mesmo assim, se os preços caírem, por quanto tempo ficarão em baixa?”, Sousa questiona.
Petrobras lidera setor e é bom case para dividendos
Em cerca de três anos o patamar de preços do petróleo deve voltar ao normal, se nada grandioso acontecer no mundo, projeta Vitor Sousa, da Genial Investimentos.
No Brasil e no resto do mundo, a Petrobras é um dos primeiros nomes ao se pensar no setor de petróleo. Ao investir na companhia, no entanto, é preciso considerar os fatores inerentes à estatal. “Estamos em uma corrida eleitoral em que ambos candidatos, o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), têm um viés claro do que deve ser feito na estatal. É uma empresa muito interessante no quesito de dividendos, mas à medida que volta às políticas antigas, de investir em setores não estratégicos e negócios não tão interessantes, isso pode se dissipar”, analisa o especialista.
Mais do que a maior pagadora de dividendos do mundo, a Petrobras, que tem a União como acionista majoritário, é um instrumento de política fiscal e monetária para o Brasil. “Quando precisarmos de um ajuste no PIB, o governo vai considerar um projeto envolvendo a Petrobras”, diz.
Ainda assim, o analista vê a estatal como um ‘case’ barato em relação a outros ‘players’ do setor, com preço operacional bom e favorecida pelo petróleo em alta, o que gera muito caixa. Mas pensando em uma maior posição, uma de maior confiança, Vitor “não julgaria a melhor escolha. Falando da Petrobras, com um piscar de olhos as coisas mudam”.
Atualmente, outras no setor passam a chamar a atenção do investidor também, como PetroRio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3), Petroreconcavo (RECV3). Segundo Sousa, o Brasil sempre precisou de uma empresa privada de petróleo para não ficar exposto às questões da Petrobras, como a política. Atualmente, quem preenche essas lacunas são as empresas redesenvolvimento, focadas em campos maduros. “Elas compram ativos que já produzem petróleo, que passaram de seu pico de produção. A vantagem disso é não correr o risco da exploração, que tem um custo mas também traz um retorno muito grande.” Esse é o objetivo dessas companhias.
“São empresas privadas. Se o petróleo estiver a US$ 100, elas venderão pelo mesmo preço e se apropriarão de todos os recursos. Há uma clareza em relação à orientação estratégica, em termos de aquisições e produção”, avalia.
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