A Petrobras (PETR4) reportou na noite de ontem (1°) um lucro de R$ 43,3 bilhões e a distribuição de dividendos na ordem dos R$ 35,7 bilhões. Embora tenha entregado resultados em linha e proventos bilionários, os números se referem ao quarto trimestre de 2022 e, a partir de agora, o mercado se pergunta sobre o que esperar da estatal com o novo comando.
Em relatório publicado hoje, a XP Investimentos destaca que a Petrobras continua sendo uma das majors de petróleo e gás mais baratas do mundo. No entanto, “o saldo de riscos políticos parece estar crescendo contra os acionistas minoritários” nas últimas semanas.
Andre Vidal, Guilherme Nippes e Helena Kelm, que assinam o documento, reforçam que, apesar do anúncio de dividendos bilionários, aproximadamente 20% deles serão decididos pela próxima Assembleia Geral da Petrobras, em 27 de abril, se serão pagos ou não.
“Como o valor proposto supera os dividendos mínimos pela fórmula de cerca de R$ 0,50 por ação, o Conselho de Administração sugeriu que o pagamento desse valor seja deliberado na próxima assembleia. Mesmo que esse dividendo acabe não sendo pago, o yield seria de 8% no trimestre”, comentam.
Diante disso, a XP projeta três possibilidades para esses 20% dos dividendos da Petrobras:
- serem pagos junto com as outras duas parcelas;
- serem pagos no final de 2023;
- não serem pagos.
“Por enquanto, mantemos nossa recomendação de compra da Petrobras, mas reconhecemos que este é uma tese de investimento de alto risco e preferimos operacionalizar nossa visão positiva sobre os preços do petróleo por meio de outros mecanismos”, finalizam o relatório.
Sob gestão antiga, dividendos acima do projetado
Outra casa que destaca os dividendos bilionários da Petrobras foi o BTG Pactual (BPAC11): o valor anunciado, de R$ 35,8 bilhões (US$ 6,9 bilhões), foi além das projeções, lembram os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte. No entanto, ponderam que o movimento reforça o foco da gestão atual, que será substituída em breve.
O Conselho de Administração da Petrobras recomendou a criação de uma reserva estatutária usando R$ 6,5 bilhões (US$ 1,3 bilhão) do valor total de R$ 35,8 bilhões.
“Caso a constituição da reserva não seja aceita, o pagamento será feito, possivelmente, apenas em dezembro. Mas, como o governo controla a Petrobras, é possível que esse valor não seja pago, levando a uma redução no pagamento total para ‘apenas’ R$ 29 bilhões (US$ 5,7 bilhões), ou 9% de rendimento”, frisam.
“A Petrobras reportou resultados neutros no 4T22, com Ebitda ajustado recorrente de R$ 75,5 bilhões (US$ 14,4 bilhões), 6% abaixo da nossa estimativa”, observa o Itaú BBA. “A distribuição de dividendos no trimestre foi de R$ 2,75/ação, o que implica um dividend yield de aproximadamente 11%”, acrescenta. Desse valor, o conselho de administração propôs a criação de reserva estatutária para reter R$ 0,50/ação – o excedente sobre o valor do dividendo calculado na fórmula da política, segundo a empresa.
“O dividend yield foi de 11% no 4T22, acima da nossa faixa estimada para o trimestre, de 8%-10”, nota a analista Monique Greco, do BBA, que assina o relatório.
Petrobras tem lucro recorde de R$ 188,3 bi e pagará R$ 215,7 bi em dividendos
A Petrobras fechou 2022 contabilizando recordes de lucros e dividendos, mas sob forte pressão de políticos ligados ao PT em função do pagamento bilionário a acionistas. A estatal vai distribuir uma cifra total recorde de R$ 215,7 bilhões, referente a 2022, mais do que o dobro do que foi pago em 2021. Para se ter dimensão dos valores envolvidos, com esse montante é possível bancar três vezes o orçamento atual do Bolsa Família. O valor dos dividendos supera o lucro da empresa.
A estatal anunciou no período da noite da quarta-feira, 1º de março, um lucro histórico de R$ 188,3 bilhões, sendo 76,6% superior ao apurado no ano anterior. O desempenho foi puxado pelos altos preços do petróleo e derivados no mercado internacional como desdobramento da guerra na Ucrânia.
No caso dos dividendos, o cenário futuro, porém, deve ser de valores mais modestos. O quarto trimestre de 2022 pode ser o último com pagamentos tão elevados durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na reunião desta quarta-feira, segundo fontes, o Conselho de Administração concordou em não frustrar expectativas do mercado financeiro criadas pela administração anterior. Ficou acertado um desembolso de R$ 35,7 bilhões em dividendos referentes ao quarto trimestre, sendo que R$ 6,5 bilhões desse total formará uma reserva estatutária que poderá ser usada para investimentos, caso a medida seja aprovada na próxima assembleia de acionistas, prevista para 27 de abril.
Como a União é acionista majoritária da estatal, essa aprovação não seria difícil. Na prática, segundo fontes, o conselho de administração deu um tempo para que a atual direção, sob o comando do presidente Jean Paul Prates, encontre bons investimentos que justifiquem a retenção desses valores em caixa.
A Petrobras vai distribuir R$ 2,74573369 por ação preferencial e ordinária na forma de dividendos relativos ao quarto trimestre de 2022. Como a companhia tem pouco mais de 13,044 bilhões de ações, esse valor perfaz, aproximadamente, os R$ 35,7 bilhões a serem desembolsados a acionistas no trimestre.
Apesar de criticada, a forte distribuição de dividendos tem como principal beneficiado o próprio governo. Com uma fatia de 36,6% no capital da petroleira, o governo vai receber R$ 78,9 bilhões em dividendos referentes ao desempenho da estatal em todo o ano passado.
Festejados pelo mercado, os resultados robustos têm sido duramente criticados pelo governo federal. Os ataques já aconteciam ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL) e, agora, se repetem na boca de integrantes do grupo político do presidente Lula.
Maior crítica da Petrobras dentro do PT, a presidente da legenda, Gleisi Hoffman, definiu os dividendos como “indecentes” em postagem nas redes sociais na terça-feira, 28. “Agora é (hora de) rever a indecente distribuição de dividendos da empresa para ela voltar a investir e fazer o Brasil crescer”, escreveu.
Gleisi já tinha se manifestado no ano passado contra a política de dividendos da estatal. “Passada a eleição, volta a sangria na Petrobras. Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro”, disse ela em novembro, na rede social.
A reclamação vem pelo fato do lucro e dividendos recordes se escorarem nos altos preços cobrados aos consumidores, fator de impopularidade e que pressiona a inflação, corroborando os apertos de política monetária que o Planalto têm atacado. Além disso, os membros do PT também defendem a redução da distribuição de proventos para que a Petrobras acumule caixa e faça frente aos investimentos pretendidos nos próximos anos.
Ainda que mais comedido, outro crítico da gestão da companhia é o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que anunciou um grupo de trabalho com o objetivo de dar maior transparência à política de preços da companhia, que deve mudar a partir de abril, quando o conselho de administração será reformado com a entrada de novos representantes do governo federal.
O próprio presidente Lula passou a campanha prometendo “abrasileirar” os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha. Prates, por sua vez, já indicou que pretende mudar o PPI e a política de dividendos, mas garante que vai perseguir preços competitivos e observar as flutuações internacionais.
Recorde ‘superlativo’
O diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Rodrigo Araújo, definiu os resultados da empresa no quarto trimestre do ano como “recorde superlativo”. Em carta que consta do balanço, Araújo destacou que, em 2022, a Petrobras recolheu um montante recorde de R$ 279 bilhões em tributos e participações governamentais, superando a marca de R$ 1 trilhão na soma dos últimos cinco anos.
Araújo deve permanecer no cargo somente até abril, quando deve ser substituído pelo indicado do presidente Jean Paul Prates para CFO da Petrobras, o gestor Sérgio Caetano Leite. O currículo de Caetano Leite está em avaliação pela governança interna da empresa e ainda deve ser aprovado pelo comitê de pessoas do conselho de administração e pelo pleno do colegiado formado por 11 membros.
De acordo com Araújo, a empresa gerou riqueza para a sociedade e, além disso, gerou retorno para os acionistas. “O conselho de administração aprovou dividendos de R$ 2,751 (R$ 2,74573369, segundo fato relevante) por ação ordinária e preferencial, relativos ao resultado do quarto trimestre de 2022.”
Segundo ele, a estatal “pode continuar a entregar muito mais”. “Com as perspectivas de maiores volumes de produção de óleo e gás, com maior rentabilidade devido ao pré-sal, e a capacitação da nossa empresa para encarar os desafios impostos pela inevitável transição energética estaremos em uma posição ímpar para continuar a gerar valor a longo prazo”, escreveu.
Araújo definiu o ano de 2022 como “desafiador”, em função da limitação de oferta internacional causada pelo conflito na Ucrânia. “Nossa cobertura global de mercado e desenvolvimento de novos clientes foram determinantes para alteração do fluxo das nossas exportações em busca de geração de valor e aproveitamento de novas arbitragens. Fomos capazes de diversificar os destinos das nossas exportações e praticar preços competitivos, ao mesmo tempo em que reduzimos a volatilidade para nossos consumidores”, continuou.
Os resultados do quarto trimestre
A Petrobras fechou o quarto trimestre de 2022 com lucro de R$ 43,3 bilhões, 37,6% a mais do que há um ano, e 6% menor do que o registrado no terceiro trimestre de 2022, segundo informou a companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A queda na margem, ou seja, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, se deve à redução no preço médio do barril de petróleo no período, que caiu de US$ 100,85 no terceiro trimestre do ano para US$ 88,71 nos últimos três meses de 2022.
O Ebitda, que mede a capacidade de geração de caixa da companhia, ficou em R$ 73 bilhões no quarto trimestre, alta de 16,1% contra o quarto trimestre do ano passado, mas recuo 20,1% em relação ao trimestre anterior.
A receita de vendas no período subiu 18,2%, para R$ 158,5 bilhões, frente ao quarto trimestre de 2021, e recuou 6,8% em relação ao terceiro trimestre deste ano.
A Petrobras informou que a receita com a venda de derivados atingiu R$ 99,2 bilhões no quarto trimestre, 21,3% acima do registrado no mesmo período de 2021. As exportações da companhia foram de R$ 36,1 bilhões, alta de 20,1% contra o quarto trimestre de 2021.
Com Estadão Conteúdo