Após a demissão do general Joaquim Silva e Luna da posição de CEO da Petrobras (PETR4) pelo presidente Jair Bolsonaro, o Ministério de Minas e Energia confirmou a nomeação do economista Adriano Pires como presidente da estatal.
Embora a mudança signifique intervenção do Estado na empresa, os especialistas do mercado permanecem com a recomendação de compra das ações da Petrobras e avaliam que o novo nome pode ser favorável para a gestão da companhia. Por volta das 11h55, os papéis subiam 2,56%, negociados a R$ 32,41.
“Observamos que a decisão de substituir o CEO da Petrobras vem na esteira de notícias negativas. No entanto, a atual governança corporativa da Petrobras e as leis brasileiras limitam a intervenção governamental no curto prazo“, informou os analistas do Goldman Sachs em relatório.
Histórico de Pires é favorável para especialistas
O histórico de Pires parece agradar os especialistas do mercado. O novo CEO da Petrobras, que deverá assumir o cargo após a votação na assembleia geral ordinária em 13 de abril, trabalha como consultor para o setor de energia desde 2000 e foi assessor do chefe da ANP, bem como professor do Programa de Planejamento Energético da UFRJ.
Também ocupou os cargos de superintendente de abastecimento e de importação, e também de exportação de petróleo, derivados e gás natural na ANP.
Em entrevistas divulgadas na imprensa no passado, Pires expressou uma opinião favorável à Petrobras sobre manter os preços dos combustíveis domésticos em linha com os internacionais e que quaisquer iniciativas para mitigar o impacto dos altos preços dos combustíveis para os consumidores finais devem ser custeadas pelo governo e não apoiadas com recursos da Petrobras.
Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, ao Suno Notícias, a indicação de Pires afasta a preocupação de interferência direta nos preços. O especialista também destaca que Pires tem mais experiência no setor de energia, óleo e gás que o antecessor.
“Pode ser uma visão um pouco ingênua – já que o nome foi escolhido pelo presidente -, mas o que se espera pelas falas e pelo posicionamento que ele vem tendo é de que ele mantenha trajetória de política de preços“, afirmou.
Ainda assim, Mercadante defendeu paciência para entender como Pires, se confirmado, conduzirá a estatal, uma vez que a Petrobras vive sob pressão de uso político. “Mas acho que, pelo cenário e pelo que Pires vinha comentando, deve se manter o que vinha sendo feito”, concluiu.
Para Cesar Frade, sócio da Quantzed, a mudança na Petrobras não deve alterar o preço dos combustíveis na bomba, e, mais ainda, não deve afetar – substancialmente – o interesse do mercado na companhia.
“Na verdade o que o mercado acha de mais importante é a manutenção da paridade do preço dos combustíveis à cotação internacional. Não se vê um controle de preços em que a Petrobras vá arcar com a diferença. O que se enxerga é um fundo estabilizador para que as diferenças [entre o preço praticado e cotação internacional] não sejam tão extensas”, defendeu.
Já o Banco Safra, em relatório, destaca: “Em nossa opinião, apesar da incerteza sobre o real curso de ação a ser adotado pela nova administração, a nomeação tende a ser bem recebida, dadas as opiniões conhecidas do nomeado sobre preços de combustível, e aliviar parte do recente desempenho inferior das ações da Petrobras, que acreditamos ter sido devido à possível interferência do governo na política de preços”.
Já o Goldman destaca como positiva a defesa que Adriano Pires fez sobre a permanência do programa de desinvestimentos da Petrobras. Além disso, Pires defendeu a necessidade um fundo de estabilização de combustível para cobrir o conflito Ucrânia e Rússia sobre os preços do petróleo. “Ele também observou que tal fundo poderia ser criado com os dividendos e royalties do petróleo da Petrobras, além de mencionar a necessidade de o governo não interferir na política de preços de combustíveis da empresa.”
Os especialistas do UBS também destacam como favorável o apoio de Pires para a privatização da Petrobras.
“Sinalizamos que o Sr. Pires tem um histórico estabelecido no setor de energia e emitiu declarações no passado que sugerem um mandato potencialmente favorável em sua nova função, como sugerindo a privatização da empresa”, informou o relatório do UBS.
Dança das cadeiras não tem interferido diretamente na Petrobras
O economista Adriano Pires será o 40º CEO da Petrobras em 68 anos, a média de tempo que o presidente da estatal fica na cadeira é de 1,7 anos. Trata-se da segunda troca na presidência em um ano, o motivo o mesmo: Bolsonaro não concorda com aumento no preço dos combustíveis.
Após a última mudança de CEO, quando Silva e Luna assumiu em abril de 2021, as ações da Petrobras chegaram a cair 20%, devido a preocupação de que o novo presidente interferisse na política de preço.
No entanto, como visto, Silva e Luna não interferiu e ainda comentou “você não muda uma rota de voo após a decolagem”. E, desde essa queda, a ação PETR4 acumula alta de 79%, com resultados e dividendos que surpreenderam positivamente o mercado, atingindo um dividend yield (rentabilidade do dividendo) de 33% em 2021.
“Olhando para o futuro continuamos reiterando nossa visão de que a Petrobras manterá sua política de precificação de combustíveis, mesmo que ligeiramente abaixo da paridade por algum tempo”, informou os especialistas do UBS.
Assim destaca também o banco Safra, de que o histórico já aponta que essas interferências do governo não devem gerar grandes impactos para companhia.
“Como afirmamos em ocasiões anteriores, a Petrobras não está apenas em boa situação financeira, mas também de alguma forma protegida por uma estrutura legal que acaba tornando o controle dos preços dos combustíveis domésticos mais difícil do que antes”
Dessa forma, a recomendação do UBS é de compra das ações da Petrobras com o preço-alvo de R$ 44,00. Já o Goldman Sachs também recomenda a compra dos papéis da estatal petrolífera com o preço-alvo de R$ 39,80. O banco Safra e a XP recomendam compra pelo valor de R$ 38 e R$ 45,30, respectivamente.
(Colaborou o repórter Pedro Caramuru.)