Indicado a presidente da Petrobras (PETR4) pelo governo, Caio Paes de Andrade teria negado a interlocutores que pretende mudar a política de preços de combustíveis da estatal, informou a jornalista Bela Megale, em sua coluna de O Globo. Andrade ainda precisa ser aprovado pelo conselho de administração da companhia.
Segundo relataram fontes da colunista do jornal do Rio de Janeiro, o atual secretário especial de desburocratização do Ministério da Economia avalia que a mudança na política poderia desorganizar a economia, num efeito cascata, e piorar ainda mais o cenário. A alta dos preços do diesel foi um dos motivos que levaram à demissão do CEO da Petrobras, José Mauro Coelho, na noite desta segunda (23). O executivo ficou 40 dias no cargo antes de receber a notícia de sua saída do comando da estatal.
A análise de Andrade, lembra Megale, está em linha com o da equipe econômica. O argumento é de que os principais culpados pelo aumento dos combustíveis são os governadores, dizendo que o ICMS pesa em grande parte do preço. Dizem ainda os integrantes da equipe econômica que os chefes dos executivos dos Estados não aplicaram as regras do projeto de lei complementar aprovado no Congresso, o que altera as alíquotas do ICMS dos combustíveis para diminuir os preços, com menor arrecadação estadual.
A colunista de O Globo escreve que o principal padrinho de Paes de Andrade como CEO na Petrobras é o ministro Paulo Guedes. No entanto, o mercado, lembra Megale, teme que Andrade mude a política de preços dos combustíveis para agradar o presidente Jair Bolsonaro.
A substituição na Petrobras – a terceira no governo Bolsonaro – ocorreu 11 dias após o almirante Bento Albuquerque ser demitido do Ministério de Minas e Energia, que passou a ser comandado por Adolfo Sachsida. Ao escolher o ex-secretário do ministro da Economia, Bolsonaro cobrou mudanças na postura da empresa. O presidente não se conforma que a petroleira tenha um lucro bilionário e não possa dar uma “trégua” nos reajustes durante a guerra da Rússia com a Ucrânia, período de alta volatilidade dos preços internacionais. Bolsonaro quer que as movimentações sejam feitas em espaço de tempo maior.
Nesta terça, em Davos, Guedes tentou mandar um recado ao mercado: “O presidente Jair Bolsonaro escolhe o ministro Adolfo Sachsida (das Minas e Energia), que escolhe o presidente da Petrobras (PETR4)“, resumiu, Paulo Guedes, em conversa com jornalistas, nesta terça-feira (24). Ele evitou falar sobre a nova mudança de comando da Petrobras nos corredores do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Mas comentou, tentando indicar que o governo não quer interferir na estatal: “Quem define política de preço da Petrobras são Conselho (de Administração) e diretoria da Petrobras.”
Mais cedo, o blog da jornalista Ana Flor, no G1, disse que Bolsonaro pretende congelar os preços dos combustíveis até a eleição presidencial. A sinalização de interferência do governo na Petrobras manteve as ações da estatal em forte queda nesta terça: PETR3 caiu 2,85% (a R$ 34,40) e PETR4 cedeu 2,92% (R$ 31,60). Chegaram a cair até 5% no intradia.
Analistas políticos e jornalistas também falaram sobre reajustes de preços da gasolina e do diesel com espaços maiores entre eles — a cada 90 ou 100 dias, por exemplo, para diminuir o impacto dos aumentos dos aumentos até as eleições presidenciais.
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Demissão de Coelho foi ‘intempestiva’, diz conselheiro da Petrobras
Um dos conselheiros da Petrobras eleito com voto dos acionistas minoritários disse na noite desta segunda-feira que a demissão de José Mauro Ferreira Coelho da presidência da estatal foi recebida como “intempestiva”, mas não com surpresa, visto o acúmulo recente de manifestações do presidente Jair Bolsonaro, insatisfeito com a política de preços de derivados da empresa. O conselheiro falou sob a condição de anonimato.
A fonte informou que a convocação de uma assembleia extraordinária de acionistas deverá ser formalizada na quinta-feira, 26. Assim, a assembleia capaz de ratificar a indicação poderá acontecer 30 dias depois, a partir de 26 de junho.
O conselheiro informou que os minoritários entendem se tratar de uma decisão “tomada dentro do Gabinete do Ministro da Economia” e que não se levanta suspeitas sobre o currículo de Paes de Andrade, com carreira no setor de informática. Por ora, portanto, não há costura de estratégia para obstruir ou limitar a mudança da vez.
Ele disse acreditar em diálogo com o novo indicado, sobretudo na manutenção da política de paridade de preços internacionais, ainda que em intervalos maiores de tempo, conforme vem sinalizando o Planalto.
Mourão diz que governo quer dar ‘previsibilidade’ a reajustes da Petrobras
Um dia após a nova troca de comando na Petrobras, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o governo federal deseja dar “previsibilidade” aos reajustes dos combustíveis anunciados pela Petrobras – aumentando o temor pela interferência do governo na estatal.
Coelho estava no posto de CEO da estatal foi demitido em meio à pressão de Bolsonaro por uma contenção no aumento dos combustíveis em ano eleitoral. O mesmo aconteceu com o antecessor, Joaquim Silva e Luna.
De acordo com o vice-presidente, o governo quer evitar flutuações nos preços. A estatal define os preços dos combustíveis com base na variação do petróleo no mercado internacional, política criticada por Bolsonaro, mas também por outros pré-candidatos nestas eleições, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
“O que eu tenho visto é que querem dar uma certa previsibilidade. Em uma análise, vamos dizer, prospectiva do momento, aquelas flutuações que têm ocorrido semanalmente, você aguardar para ver qual é a diferença do vento mesmo. Eu acho que é isso que eles estão querendo fazer”, afirmou o vice-presidente a jornalistas no Palácio do Planalto. “Não vou dizer que é prazo de 100 dias, mas aguardar o momento. Numa semana, o barril vai para 112 (dólares), na semana seguinte vai para 98. Se ficar nesse zigue-zague, fica ruim”, acrescentou.
Mourão ainda confirmou que a troca foi ordem de Bolsonaro. “Isso aí é decisão tomada pelo presidente. Ele sabe as pressões que está sofrendo. Então, segue o baile. Vamos aguardar o que o Caio (Paes de Andrade, indicado pelo governo para assumir a presidência da estatal) pode fazer. O que eu vejo no Caio é que ele é um cara competente. É um cara que foi muito bem-sucedido na iniciativa privada, veio para o governo”, afirmou o general, que lembrou, no entanto, que o nome do braço-direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, terá de passar pelo crivo do conselho de administração da Petrobras.
“Está dentro da atribuição do presidente. Ele tem a prerrogativa de nomear o presidente da Petrobras. É óbvio que vai passar lá pelo conselho de acionistas, vai ter uma reunião do conselho de administração, não é de hoje para amanhã que isso vai acontecer… Vai levar aí, na minha visão, 30 ou 40 dias para isso acontecer”, disse Mourão aos jornalistas.
Com Estadão Conteúdo