Entenda a ‘novela’ sobre o novo CEO da Petrobras (PETR4), que deve terminar nesta quarta (13)

Com uma série de intempéries, pagamento de dividendos polpudos e demissões em ano de eleição, a Petrobras (PETR4) foi o grande destaque do trimestre. Uma sucessão de mudanças bruscas no corpo administrativo da estatal se iniciou com uma insatisfação do Palácio do Planalto se arrastou por todo o mês de março e, ao que tudo indica, acaba nesta quarta-feira (13) com a ratificação do novo presidente da empresa e do comando do Conselho de Administração.

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A história da sucessão no alto escalão da Petrobras começou quando, em consequência da guerra da Ucrânia e das sanções econômicas ao governo russo, os preços do barril de petróleo dispararam. Sem reajustar o preço da gasolina havia 50 dias, a Petrobras se viu na necessidade de ter de mudar a cobrança às refinarias.

Com o barril do Brent chegando a beirar US$ 140, a estatal anunciou o reajuste — a alta foi de 19% na gasolina e de 25% no diesel, maior aumento em duas décadas.

A gasolina já era um dos vilões da inflação, acima de R$ 6 na maioria dos estados. À época, diversas pesquisas já apontavam a defasagem gigantesca em relação aos preços internacionais – que norteiam a política de preços da Petrobras desde o governo Michel Temer, baseando as cobranças no que é chamada de paridade internacional.

Gasolina cara em tempos de eleição, indiscutivelmente, é sinônimo de perda de capital político.

Com memes inundando as redes sociais, críticas de analistas e políticos, mais o anseio grande no Planalto para amenizar a situação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) rotulou o preço da gasolina como “crime contra o povo” e fez diversas declarações negativas sobre a Petrobras – ainda que com algumas ressalvas de que não faria interferências na política de preços, um dos maiores temores do mercado.

Em um primeiro momento, em um arrefecimento da cotação do petróleo, ainda acima de US$ 100, Bolsonaro disse que, diante da queda no preço do barril do petróleo no mercado internacional, “tudo indicava” que os combustíveis ficariam mais baratos no Brasil.

“Ao que tudo indica, os números lá fora, sobretudo o preço do barril de petróleo, sinalizam para uma normalidade no mundo. Espero que assim seja. E espero que a nossa querida Petrobras, que teve muita sensibilidade ao não nos dar um dia, retorne aos níveis da semana passada os preços dos combustíveis no Brasil”, disse, em crítica velada.

No dia seguinte, o presidente sancionou uma lei que unificou o valor do ICMS dos combustíveis. Segundo ele, isso traria um desconto de R$ 0,60 por litro de diesel. Como o reajuste da Petrobras deixou o litro do combustível R$ 0,90 mais caro, a queda no preço foi menor e ainda não chegou aos postos, disse.

Na ocasião, aos solavancos, Bolsonaro reclamou de um suposto ‘adiantamento’ no reajuste.

“Se a empresa tivesse esperado um dia a mais, poderíamos, ao anunciar o reajuste da Petrobras, que não é de responsabilidade nossa, é exclusiva da companhia, de 90 centavos no litro do diesel. Poderia ter anunciado também a diminuição de 60 centavos no litro do diesel – o reajuste seria de 30 centavos”, declarou.

Iniciou-se então um processo de mudanças no tabuleiro.

A fritura de Silva e Luna na Petrobras

O general Joaquim Silva e Luna teve uma das entradas mais conturbadas da história da Petrobras. Mudanças de executivos da estatal, quase que tradicionalmente, aumentam muito a volatilidade dos papéis – dado o ceticismo dos investidores quanto à capacidade de governança do Governo Federal, acionista majoritário da companhia. Foi indicado pelo governo para substituir Roberto Castello Branco — que permaneceu no cargo de CEO por dois anos e três meses –, também em meio a críticas sobre reajustes de combustíveis.

Com entrada em meados de abril de 2021 e ficando cerca de um ano à frente da companhia, o general começou a enfrentar algumas críticas e boatos.

Em entrevista à TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte, Bolsonaro disse que todo mundo pode ser substituído se não estiver fazendo seu trabalho da melhor forma.

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“Existe a possibilidade, todo mundo pode ser substituído se não estiver fazendo trabalho a contento. (…) Todos podem ser trocados por falha ou omissão”, declarou Jair Bolsonaro, em entrevista.

“Para mim, é uma empresa que poderia ser privatizada hoje”, acrescentou Bolsonaro, reassumindo a tentativa de livrar o governo do ônus político do reajuste. “Não posso interferir. Se pudesse, as decisões seriam outras”, disse, em outra ocasião.

A imprensa divulgou que o presidente Jair Bolsonaro avaliava a demissão de 2 a 3 diretores da Petrobras, mas que o general ficaria no encargo da presidência da estatal.

No fim de março, no dia 28, contudo, Silva e Luna foi comunicado que seria substituído no cargo.

O imbróglio e a busca por um novo nome

Em meio a falas de que que iria interferir na política de preços e culpando a corrupção na estatal pela alta no preço dos combustíveis, Bolsonaro nomeou Adriano Pires para assumir a Petrobras.

O Ministério das Minas e Energia confirmou a indicação do economista de 64 anos, do CBIE, o Centro Brasileiro de Infraestrutura, especialista no setor de óleo e gás, para a presidência da estatal.

Na mesma toada, o presidente do Flamengo Rodolfo Landim foi indicado para a presidência do conselho de Administração da estatal.

Em entrevistas como representante do CBIE, Pires contrapõe visões do liberal Paulo Guedes, ministro da Economia brasileiro. Ao G1, Adriano Pires defendeu a criação de fundo de estabilização para evitar repasses pela Petrobras da volatilidade no preço do petróleo aos consumidores.

Segundo o BTG, a nomeação de Pires reforçava “as preocupações sociais do governo federal e as tentativas de reduzir as pressões inflacionárias devido à disparada dos preços dos combustíveis e em meio a expectativas de crescimento econômico mais baixas”, especialmente em ano eleitoral.

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O jogo mudou quanto começaram a aparecer obstáculos por seu cargo na CBIE – que acarretaria conflito de interesses.

O Ministério Público, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), chegou a ingressar com pedido para que Pires não assumisse a presidência da Petrobras antes de uma investigação do governo e da estatal sobre eventual conflito de interesse.

O subprocurador-geral do MP-TCU Lucas Rocha Furtado disse, à época, ter identificado o conflito de Adriano Pires “tendo em vista sua atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras”.

Muito provavelmente tendo que abrir mão da empresa, fechando-a ou vendendo-a, Pires desistiu de assumir o cargo.

Pires atende, entre os clientes, o empresário e sócio de distribuidoras de gás Carlos Suarez, que é também amigo de décadas de Rodolfo Landim. O indicado do governo para a presidência da estatal também atende a Abegás, associação do setor, e a Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e de diversas outras empresas do setor.

No documento, Pires agradeceu a indicação e reafirmou o “compromisso de continuar nessa luta” pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás. Disse que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha, atualmente, para empresas do setor.

Um dia antes, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, desistiu de concorrer à presidência do Conselho de Administração da companhia.

Em nota publicada no site do Flamengo após o time perder a final do Campeonato Carioca para o Fluminense, Landim afirmou que, “apesar do tamanho e da importância da Petrobras para o nosso país, e da enorme honra para mim em exercer este cargo, […] resolvi abrir mão desta indicação, concentrando todo meu tempo e dedicação para o ainda maior fortalecimento do nosso Flamengo.”

Secretário de Guedes passa a ser cotado

Com a desistência de Adriano Pires para assumir o comando após a demissão de Silva e Luna, o nome de Caio Mario Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, voltou a ser cotado para o cargo.

Quando Silva e Luna foi demitido, em 28 de março, Paes já estava entre os cotados para ser Presidente da Petrobras, tendo sido entrevistado por Bento Albuquerque, Ministro de Minas e Energia.

O secretário é um dos funcionários de Guedes mais bem avaliados na pasta com a implementação do “gov.br”, a plataforma pela qual a maioria dos serviços do governo é utilizada no meio digital.

Caio Mario Paes de Andrade tem formação em Comunicação Social pela Universidade Paulista, pós-graduação em Administração e Gestão pela Harvard University e Mestre em Administração de Empresas pela Duke University.

Guedes já havia indicado seu nome para o comando da Petrobras, mas Paes afirmava ‘que não queria se envolver no assunto’.

secretário de Guedes foi presidente do Serpro (estatal de dados do governo), o que o tornava mais ‘viável’ ao cargo, desvinculado do investimento e da participação em empresas – um dos motivos pelos quais Adriano Pires desistiu do cargo.

Seu nome, contudo, teve alguma rejeição.

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A principal oposição foi de lideranças do setor de óleo e gás, segundo um empresário ouvido pela Bloomberg Línea sob a condição de não ser identificado.

A fonte participou de um encontro entre empresários e executivos do setor no Rio de Janeiro e um dos problemas apontados foi a falta de experiência de Paes de Andrade na área. Alguns dos presentes na reunião questionaram o fato de Paes de Andrade nunca ter trabalhado em nenhuma empresa de óleo e gás e não ter comandado uma companhia de grande porte, com milhares de funcionários e uma rotina de contratos bilionários.

A fonte disse que a indicação de Paes de Andrade estava sendo encarada como um remendo político até terminar o mandato, no fim do ano. Para pessoas próximas à gestão da companhia, o receio era de que a indicação de Paes de Andrade se tornasse ‘munição contra a empresa’.

Na mesma época, o jornal O Estado de S. Paulo apurou que ganhava tração a indicação do conselheiro da empresa Márcio Weber para a presidência da Petrobras e de Sonia Villalobos para o Conselho de Administração.

Os dois já são conselheiros e passaram pelo teste de governança da estatal, que na prática acabou inviabilizando os nomes de Adriano Pires e Rodolfo Landim, presidente do Flamengo que recusou a indicação.

Márcio Weber é atual conselheiro da empresa. Foi membro da Diretoria de Serviços da Petrobras Internacional (Braspetro) e diretor da Petroserv S.A.

Um a um, os nomes foram derrubados, apesar de ventilados nos corretores do Palácio do Planalto.

Assembleia da Petrobras pode definir último presidente

Faltando menos de um ano do fim do seu mandato, Bolsonaro terá enfim o nome do novo presidente da Petrobras nesta quarta-feira (12), em assembleia geral extraordinária. A indicação, após a derrubada dos nomes citados, foi de José Mauro Ferreira Coelho, que preside o Conselho de Administração da PPSA (estatal responsável pela exploração do pré-sal) e foi secretário de Petróleo e Gás do MME.

Ex-militar, Coelho é nome de confiança do ministro Bento Albuquerque. É técnico da área e executivo ligado ao setor de petróleo. O nome dele ainda precisa passar pelo crivo dos acionistas na Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária, no próximo dia 13 de abril.

O ministério das Minas e Energia também anunciou a indicação de Márcio Weber à Presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Weber é atual conselheiro da empresa. Foi membro da Diretoria de Serviços da Petrobras Internacional (Braspetro) e diretor da Petroserv S.A. Ele chegou a ser cotado para indicação a CEO da companhia.

Os demais nomes indicados para serem votados na próxima Assembleia Geral Ordinária (AGO) no dia 13 de abril permanecem os mesmo da primeira lista, com a inclusão dos novos indicados: Marcio Andrade Weber; Jose Mauro Ferreira Coelho; Sonia Julia Sulzbeck Villalobos; Ruy Flaks Schneider; Luiz Henrique Caroli; Murilo Marroquim de Souza; Carlos Eduardo Lessa Brandão e Eduardo Karrer.

Abaixo, a nota do Ministério das Minas e Energia sobre a indicação:

O Ministério de Minas e Energia informa que consolidou a relação de indicados do Acionista Controlador  para compor o Conselho de Administração da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, a ter efeito a partir da confirmação pela Assembleia Geral Ordinária, que ocorrerá em 13 de abril de 2022.

A relação apresenta o Sr. Marcio Andrade Weber para o exercício da Presidência do Conselho de Administração e o Sr. José Mauro Ferreira Coelho para o exercício da Presidência da Empresa.

O Governo renova o seu compromisso de respeito a sólida governança da Petrobras, mantendo a observância dos preceitos normativos e legais que regem a Empresa.”

Segundo o parecer do Goldman Sachs sobre a nomeação do novo CEO da Petrobras,a escolha é boa e deve manter a estatal alinhada com o ritmo de crescimento visto nos últimos meses.

O mercado, da mesma forma, parece ter avaliado bem o nome – já que as ações da Petrobras sobem 4,82% no intradia, na direção contrária dos pregões em que os investidores temiam uma intervenção na política de preços da estatal.

A expectativa é de que Coelho passe pela votação de acionistas e faça bem para a saúde financeira da companhia, segundo o Goldman Sachs.

“A experiência anterior do Sr. Ferreira Coelho no sector da energia inclui ter foi Secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME) entre 2020 e 2021. Acreditamos que este anúncio deve agora reduzir a volatilidade em torno do estoque após a recusa de Adriano Pires em aceitar o papel e o fluxo de notícias sobre o incerteza de quem seria o novo CEO da empresa”, diz o banco de investimento,

Além disso, o GS acredita que, no curto prazo, os estatutos da Petrobras e a lei brasileira reduzam a probabilidade de intervenção do governo nas políticas da empresa.

O banco segue com recomendação de compra, mirando um preço-alvo de R$ 36,90 nas preferenciais da Pertrobras.

“Permanecemos com rating de compra na Petrobras, pois, apesar do fluxo de notícias anterior em torno do ações, vemos uma atraente continuação do ritmo de crescimento, com um dividend yield previsto de cerca de 35% em relação a 2022 com espaço limitado para intervenção do governo nas política da empresa em um período de curto prazo”, dizem os analistas Bruno Amorim (CFA), Joao Frizo (CFA) e Guilherme Costa Martins.

No meio da tormenta, PETR4 sobe

Como uma das ações mais líquidas da bolsa, os papéis PETR4 tiveram alta de 6,7% nos últimos 30 dias, considerando uma janela que contempla semanas anteriores à demissão de Silva e Luna.

Desde o início do ano as ações subiram 16%, estando cotadas a R$ 34.

Apesar da alta, um dos maiores atrativos são os dividendos da Petrobras. No ano passado, os dividendos da Petrobras somaram R$ 72,72 bilhões.

A companhia foi a segunda maior pagadora de dividendos do ano e, segundo levantamento da Economatica, junto coma a Vale (VALE3), a empresa distribuiu R$ 146,01 bilhões em dividendos – cifra maior do que todos os proventos de todas as demais empresas da bolsa juntas.

Para chegar a esse número, o levantamento considerou todas as empresas de capital aberto com dados disponíveis entre 2010 e 2021. A amostra contou com 226 empresas listadas.

A Petrobras e a Vale chegaram a esse patamar, enquanto as demais 226 empresas listadas, juntas, retornaram R$ 145 bilhões aos seus acionistas.

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Eduardo Vargas

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