O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que o Brasil deveria ter realizado estudos mais robustos antes de conceder à Petrobras (PETR4) os direitos de exploração de uma região ecologicamente sensível em alto-mar, que é parte fundamental do plano de negócios da estatal.
Em entrevista à Bloomberg News, Agostinho informou que a autoridade ambiental já bloqueou a perfuração de um poço da estatal na bacia da Foz do Amazonas, na área conhecida como Margem Equatorial Brasileira, e não tem pressa em decidir sobre um recurso apresentado pela Petrobras.
Ainda de acordo com o presidente do Ibama, o Ministério de Minas e Energia (MME) pode ter de publicar estudos de impacto mais detalhados para a Margem Equatorial antes que as empresas petrolíferas possam perfurar. Para Agostinho, foi um ‘equívoco’ conceder blocos em novas fronteiras exploratórias sem essas avaliações.
“O que está em discussão é toda a exploração de petróleo em uma região pouco conhecida. Não é um único poço. É isso que estamos gritando em voz alta”, disse Agostinho em entrevista.
Petrobras cogita retomar exploração na África
No fim de junho, a Petrobras informou que planeja voltar para a África, sobretudo se o licenciamento ambiental para explorar a Margem Equatorial for novamente negado.
De momento, há uma aposta firme na exploração de reservas ricas em gás descobertas em blocos da companhia na Colômbia. A Petrobras também não descarta ir à Guiana e ao Suriname para explorar a Margem fora do país com sócias.
A intensidade dessa ida ao exterior vai depender da evolução da licença para explorar a bacia da Foz do Amazonas, hoje travada pelo Ibama. O movimento da Petrobras tem por objetivo aumentar as reservas da empresa, e assim garantir a continuidade da produção em bom nível na próxima década.
Em entrevista ao Estadão, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes, disse que a produção dos reservatórios gigantes do pré-sal vai declinar a partir do pico da produção, em 2032.
Segundo Mendes, se novas reservas não forem descobertas o Brasil começará a importar petróleo a partir de 2040, o que considera retrocesso num contexto de preocupação global com segurança energética, sobretudo para um País que atingiu a autossuficiência no setor.
Novo Plano Estratégico da Petrobras conterá a internacionalização
O novo Plano Estratégico da companhia para o período 2024-2028, a ser divulgado em novembro, já terá novamente a internacionalização presente, ainda que de maneira apenas indicativa. Será o pontapé inicial para recompor uma área que foi abandonada pela gestão anterior. Em janeiro de 2020, com a venda de ativos na Nigéria, a Petrobras saiu do continente africano, conhecido por ter geologia similar à da costa brasileira.
“A gente vai colocar de uma forma macro (no plano estratégico) a internacionalização. Há descobertas no mundo importantes, como na Nigéria, Angola, Namíbia. A Petrobras saiu, mas pode voltar. Sim, a gente quer voltar”, afirma Mendes.
A presença da Petrobras na África começou ainda nos anos 1970, nos governos militares. Depois, somente nos anos 2000, sob os governos Lula e Dilma Rousseff, é que a área de E&P da estatal entrou mais decididamente na África.
Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, partindo de Angola e Nigéria, a Petrobras chegou gradativamente a outros oito países, lista que inclui Líbia, Moçambique, Senegal e Namí.
Com informações de Estadão Conteúdo