Desde o início do ano, a Petrobras (PETR4) passou a ocupar manchetes em função de investimentos mais sustentáveis e voltados para descarbonização, tanto por sinalizações diretas de executivos quanto por movimentos de alocações de capital.
As últimas novidades sobre o tema descarbonização incluem um aumento de cerca de 160% no orçamento direcionado pela Petrobras para investimentos de baixo carbono, conforme o plano estratégico mais recente da companhia.
Além disso, na toada da COP28, a petroleira estatal assinou juntamente com outras gigantes globais do setor um acordo para reduzir as emissões de carbono das suas próprias operações.
O próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendeu substituição gradual dos combustíveis e fontes de energia fósseis rumo à descarbonização.
“Temos a obrigação de nos reunir sobre essa bandeira, para melhorar o planeta passo a passo, sem soluções mágicas, com base na necessidade do mundo real e das pessoas reais. Precisamos nos preocupar com as pessoas, porque a transição energética só será válida se for justa”, declarou o CEO da estatal em Dubai, durante a COP28.
O que causa dúvidas no mercado é o futuro da rentabilidade da companhia. Isso porque mais recursos direcionados a investimentos em projetos de baixo carbono podem significar menos lucro, e consequentemente menos dividendos da Petrobras.
Atualmente a produção de petróleo é extremamente rentável para a companhia – como exemplo, o petróleo produzido no pré-sal custa cerca de US$ 5 por barril para a PETR4.
Frederico Nobre, líder da área de analise de ações da Warren Investimentos, aponta que “as empresas estão seguindo esse mantra” de redução de emissões, mas o mercado segue atento à rentabilidade.
O especialista relata, inclusive, que muito recentemente a casa zerou a posição em ações da Petrobras.
“Todas as grandes petroleiras, as global majors, incluindo Shell e Chevron, estão direcionando mais investimentos para iniciativa ESG. Não à toa, o Capex para exploração e produção de petróleo está nas mínimas dos últimos anos”, explica.
“Isso tem impacto na rentabilidade, porque quando se olha para essa iniciativa tem-se um retorno mais baixo do que exploração e produção de petróleo. Existe muita novidade no que tange à tecnologia e ainda pouca previsibilidade. Não sabemos a taxa de retorno exata, mas com certeza ela é menor do que exploração e produção de petróleo”, completa.
Analistas da XP, da mesma forma, destacam que a nova dinâmica de alocação de capital da Petrobras – que vai além do aumento de investimentos em iniciativas de descarbonização – deve impactar os proventos da companhia.
Segundo André Vidal, Head de Óleo, Gás e Petroquímicos da research da XP, e Helena Kelm, Analista da casa de Óleo, Gás e Petroquímicos, “os dividendos não são mais como costumavam ser”.
“Considerando suas premissas macroeconômicas, com preços do Brent superiores ao SP anterior, a empresa espera que os pagamentos de dividendos nos próximos anos totalizem US$ 40-45 bilhões (em comparação com US$ 65-70 bilhões do SP anterior), o que pode incluir recompra de ações, com potencial para mais US$ 5-10 bilhões de dividendos extraordinários”, dizem os especialistas.
“Os valores implicam em um dividend yield de aproximadamente 8%-9% em relação ao market cap atual e 9%-11% incluindo dividendos extraordinários, em comparação com 13%-14% no mínimo e 15%-17% incluindo dividendos extraordinários do plano anterior”, completam.
Petrobras é ‘mais sustentável’ do que petroleiras globais
Nobre, da Warren, observa que apesar dessas mudanças, a companhia deve ainda manter um investimento relevante em produção de petróleo.
“A Petrobras, diferentemente mente das global majors, ainda irá incrementar mais sua produção e exploração de petróleo nos próximos anos, já que temos uma alavanca muito grande no pré-sal, e a margem equatorial que ela começará a explorar”.
Além disso, observa que a Petrobras é uma petroleira ‘mais sustentável’ do que seus pares globais, dado que o petróleo brasileiro emite menos CO2 por barril do que a média global.
“Isso por si só já torna o petróleo brasileiro mais sustentável, de uma certa forma”, conclui.
Desempenho de PETR4
Conforme dados do Status Invest, as ações da Petrobras acumulam alta de cerca de 46% em 2023. O dividend yield (DY) da companhia é de 21%, com R$ 7,25 pagos por ação preferencial nos últimos 12 meses.