O balanço da Petrobras (PETR4) será divulgado nesta quarta-feira (23), após o fechamento do mercado às 18h. A petroleira é hoje a segunda maior empresa aberta do Brasil e responde por uma participação de 11,54% no Ibovespa, somadas as ações ordinárias e preferenciais. Por isso, o mercado financeiro está de olho: o que esperar do balanço da Petrobras no quarto trimestre de 2021?
Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep) o resultado da Petrobras no 4T21 deve marcar, com folga, novo recorde do lucro líquido anual em 2021.
No cenário-base, a instituição projeta lucro líquido da Petrobras de R$ 27,7 bilhões no quarto trimestre de 2021, podendo variar entre R$ 24,2 bilhões e R$ 29,9 bilhões. Este resultado elevaria o acumulado no ano para 103,3 bilhões, no cenário-base, com margens entre R$ 99,7 bilhões e R$ 105,5 bilhões.
Caso se confirme, seria um recorde na história da estatal, quase duas vezes e meia o maior lucro líquido anual da Petrobras já registrado, de R$ 40,14 bilhões, em 2019.
Considerando trimestre a trimestre, entretanto, o lucro líquido do 4T21 deve ficar abaixo da máxima história e do comparativo anual: em 2020, após registrar prejuízo nos três primeiros trimestres do ano, a Petrobras auferiu lucro de R$ 59,89 bilhões no 4T20, quase o dobro das expectativas para o balanço desta quarta-feira.
Balanços anteriores | 3Q21 | 2Q21 | 1Q21 | 4Q20 | 3Q20 | 2Q20 | 1Q20 | 4Q19 | 3Q19 | 2Q19 | 1Q19 |
Net Income (R$ bilhões) | 31,142 | 42,855 | 1,167 | 59,890 | -1,546 | -2,713 | -48,523 | 8,153 | 9,087 | 18,866 | 4,031 |
Gross profit (R$ bilhões) | 59,552 | 57,005 | 44,033 | 40,360 | 33,769 | 18,218 | 31,615 | 37,056 | 30,006 | 30,210 | 24,833 |
Net Debt (US$ bilhões) | 48,132 | 53,262 | 58,424 | 63,168 | 66,218 | 71,222 | 73,131 | 78,861 | 75,419 | 83,674 | 95,525 |
O Ineep também estimou o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado no valor de R$ 60,0 bilhões e o fluxo de caixa livre de R$ 45,6 bilhões para o quarto trimestre de 2021.
Conforme destaca, os resultados positivos estimados para a companhia em 2021 são fruto de três fatores principais:
- aumento das receitas de vendas no mercado interno, decorrente da alta do volume de vendas e, sobretudo, dos preços dos derivados, que seguem a atual política de preços de paridade de importação (PPI) da Petrobras;
- redução do custo de produção da companhia; e
- entrada de caixa com a venda de ativos de cerca de R$ 30 bilhões no ano.
Apesar de alta, há espaço para ações da Petrobras subirem mais
Às vésperas da divulgação do balanço, o Bank of America informou que havia elevado em mais de 10% o preço-alvo dos papéis da petroleira por causa da alta dos combustíveis, resultados operacionais positivos e valuation atrativo.
O banco reforçou a recomendação de compra e estima um valor justo de R$ 46,50 para as ações preferenciais da Petrobras, antes de R$ 40,50, o que representaria um potencial de valorização de 41,8%.
Para as ADRs, recibos negociados em Nova York, o BofA projeta preço-alvo de US$ 16,50, antes de 14,50, upside de 18,1%.
“Nós reiteramos a nossa recomendação de compra, considerando o cenário de preços fortes do petróleo e valuation ainda atraente, apesar da valorização das ações de 42% nos últimos três meses”, informou em relatório assinado pelos analistas Frank McGann e Isabel Saffioti.
“Ao mesmo tempo, permanecem as preocupações relacionadas à incerteza de políticas energéticas (especialmente, sobre o preço da gasolina e diesel) após as eleições presidenciais de 22 de outubro e durante a retórica de campanha”, completa.
Segundo o BofA, a expectativa é de que a Petrobras entregue no quatro trimestre de 2021 um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 61,10, ou US$ 12 bilhões.
O valor se escora mais nos resultados positivos da extração de petróleo do que no refino. O banco também destaca que o balanço financeiro deve ser impactado pela desvalorização do real ante o dólar, e as receitas líquidas devem se beneficiar da venda de ativos, entre eles a Refinaria Landulpho Alves (RLAM).
“Nós também esperamos o anúncio possível de dividendos. A partir do segundo trimestre de 2022, esperamos que a Petrobras comece a pagar proventos trimestrais com base na sua política da distribuir 60% do fluxo de caixa livre [quantia disponível à empresa para credores e acionistas]“, completou.
No terceiro trimestre do ano passado, a companhia atingiu antecipadamente a meta de redução do endividamento bruto para abaixo de R$ 60 bilhões, o que impulsiona as expectativas de distribuição maior de proventos.
Desinvestimentos impulsionam resultado do 4T21
Para a XP Investimentos, o aumento do preço médio do Brent no trimestre em conjunto a desvalorização do real resultou em forte aumento dos preços do petróleo denominados em moeda local e isso pode impulsionar os resultados das empresas brasileiras de Óleo e Gás.
Segundo relatório, a Petrobras deve entregar mais um trimestre de forte geração de caixa aliada aos recebíveis dos desinvestimentos, com destaque para a venda da RLAM.
“A empresa também começará a pagar dividendos trimestrais, e acreditamos que isso deve estar no centro das atenções durante a teleconferência de resultados”, destaca.
Para a XP, outros temas importantes que devem ser explorados pelos investidores durante a teleconferência de resultados são:
- novidades sobre vendas de ativos;
- atualizações dos planos de investimentos;
- sinais de inflação de custos; e
- negociações dos preços de gás.
A corretora reforçou a visão positiva para o papel, bem como a orientação de compra, ao preço-alvo de R$ 45,30, tanto para as ações ordinárias (PETR3) quanto as preferenciais (PETR4).
“Atualmente, a Petrobras é negociada a 2,8 vezes a relação valor da empresa por Lajida 12 meses à frente, bem abaixo dos 3-4,8x EV/LAJIDA dos seus pares globais”, informa.
“Em um cenário mais estressado (que inclui 15% de desconto nos preços de paridade internacional para derivados de petróleo), chegamos a um preço justo de R$ 33,30 para PETR3/PETR4, mostrando que muito de um potencial cenário negativo já está embutido nos preços atuais.
‘Venda de ativos? Menos é mais’
Já o BTG Pactual, no último relatório sobre a empresa, destaca o papel positivo que a política de desinvestimentos deve trazer para os resultados da empresa.
“A ideia de focar nos ativos principais permitiu que a empresa reduzisse o débito em mais de US$ 40 bilhões, e aumentasse a taxa de alavancagem em 400 pontos percentuais”, reforçou.
Para o banco, a atual gestão da estatal deve empreender um último empurrão para finalizar o plano de desinvestimento o quanto antes, “ainda que alguns ativos essenciais irão provavelmente ficar para 2023, reduzindo o apetite dos investidores de pagar por todos os pagamentos potenciais que sairão do caixa da Petrobras”.
Em 2021, o banco disse esperar um lucro líquido ajustado da Petrobras de US$ 17,7 bilhões, ou R$ 90,27 bilhões segundo cotação atual. O banco não divulgou recomendação para as ações da empresa, mas disse que mantém orientação neutra para os papéis negociados em Nova York.