Apenas em 2022 os papéis da Petrobras (PETR4) já valorizaram mais de 16%. Apesar do cenário de volatilidade esperado para o ano, com as eleições à presidência da República no radar do mercado, a estatal ainda brilha os olhos dos investidores, inclusive com sua política de dividendos. “O melhor retorno para o acionista são os dividendos, que são o dinheiro no bolso, a forma de materializar a margem de segurança”, observa Rodrigo Boselli, sócio e gestor da 3R Investimentos. Mas vale a pena entrar na estatal agora, com o cenário eleitoral à vista?
A Petrobras conquistou o posto de maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre de 2022, após distribuir US$ 9,7 bilhões em proventos e superar gigantes como Nestlé, Rio Tinto, China Mobile e Microsoft (MSFT34). Por volta das 12h40 desta quarta-feira (24), as ações eram negociadas a R$ 33,80, em alta de 1,08%.
“A política é o grande risco envolvendo investimentos na Petrobras hoje. É algo inerente a uma empresa estatal, não tem jeito. Em um ano eleitoral, isso se agrava, principalmente com os líderes da pesquisa de intenção de voto em lados opostos da condução da empresa”, diz Boselli. No último levantamento do Instituto FSB Pesquisa, encomendado pelo BTG Pactual (BPAC11), divulgado na segunda-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (PL) subiu dois pontos percentuais nas intenções de voto e reduziu para nove pontos a vantagem do ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno.
“Com Lula, já vimos o que foi feito com a companhia em seus governos. No outro extremo, o presidente Jair Bolsonaro promete a privatização da Petrobras”, pondera.
Alta nos preços dos combustíveis e PPI: o que deve mudar na Petrobras com eleições?
O gestor lembra que o preço do combustível sempre é um tema sensível para políticos, não só no Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos isso também é observado. “O assunto gera uma comoção da população, que culpa os chefes do Executivo pela alta dos preços. As falas dos políticos são em um contexto de dar uma resposta à opinião pública. E, aqui no Brasil, o Preço de Paridade Internacional (PPI) obriga a Petrobras a subir os preços de acordo com as movimentações do petróleo e da taxa de câmbio”, explica Rodrigo Boselli.
Nos últimos dois anos, o especialista nota que as duas coisas aconteceram simultaneamente, o que amplificou esse movimento de alta da gasolina e pesou no bolso do consumidor.
Hoje, a Lei das Estatais, sancionada em 2016 pelo então presidente Michel Temer como instrumento de caráter “moralizador” das empresas públicas, não permite que o presidente peça para mudarem os preços para baixo, entrando em uma chamada ‘sinuca de bico’, como avalia o gestor.
“Se houvesse uma ‘canetada do governo’, para mudar a política de preços da Petrobras, veríamos graves consequências para a vida do brasileiro e para a economia. O Brasil não é autossuficiente na produção de combustível, então precisa importar. Se não houver a paridade, quem vai importar para ter prejuízo?”, questiona.
Petróleo ou política: qual é o maior risco para a Petrobras?
Atualmente, na visão dos gestores do mercado financeiro, as eleições afligem mais os que têm receio de investir na Petrobras. “Se o petróleo valorizar no curto prazo, não vejo a estatal repassando imediatamente para o consumidor. Não é essa a missão agora, nem do CEO Caio Paes de Andrade ou do Conselho recém eleito”, aponta Boselli, em relação às indicações do governo ao comando da companhia.
O cenário eleitoral é uma preocupação para o gestor, no entanto, independentemente do vencedor da eleição para presidente. “Acho muito difícil a interferência na política de preços da Petrobras, seja Lula ou Bolsonaro. Se for o caso do presidente Jair Bolsonaro, pode haver um ‘upside’, já que ele fala da questão da privatização. A Petrobras, em função de todo o arcabouço legal que está inserida, desde o Estatuto Social, Lei das Estatais, o próprio TCU, tem muita dificuldade em mudar essa política de preços hoje”, avalia.
A 3R Investimentos, que possui um fundo com uma posição atual em 8% na estatal, resolveu diminuir recentemente seu aporte na empresa, diante do cenário eleitoral. O gestor Rodrigo Boselli afirma que sua vontade era aumentar a posição, principalmente pela geração de caixa da Petrobras, que protege o investidor.
O risco maior hoje está no CAPEX: o que fazer com o dinheiro. “Talvez a solução da Petrobras seja pagar menos dividendos e investir mais, o que não é bom, mas não é algo que acaba com o case do investimento. Dependendo do que for feito, a empresa continua muito atrativa”, aponta.