A Petrobras (PETR4) foi a que mais pagou dividendos aos acionistas no primeiro semestre de 2023, mesmo com a menor receita entre seis das maiores petroleiras do mundo com ações negociadas em bolsas de valores. O levantamento foi realizado pelo vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho.
Com receita de US$ 52,48 bilhões, a Petrobras pagou US$ 10,92 bilhões em dividendos referentes aos meses de janeiro a junho deste ano.
A segunda petroleira que mais pagou dividendos nesse período foi a Exxon Mobil (EXXO34) que distribuiu US$ 7,44 bilhões aos acionistas, tendo registrado uma receita no período mais de três vezes superior à da Petrobras (US$ 169,48 bilhões).
Segundo Coutinho, a manutenção desse nível de distribuição de dividendos é insustentável e coloca em risco o futuro da companhia.
A distribuição de dividendos da Petrobras no primeiro semestre de 2023 foi feita com base na política anterior da companhia. No dia 28 de julho, a Petrobras anunciou novas regras, que reduziram de 60% para 45% o percentual do fluxo de caixa livre (dinheiro à disposição no caixa) que deve ser repassado aos acionistas.
A pesquisa do vice-presidente da Aepet mostrou ainda que a relação entre investimentos líquidos e dividendos pagos pela Petrobras no segundo trimestre de 2023 foi 10 vezes superior à média das cinco grandes petroleiras analisadas.
Enquanto a estatal brasileira pagou de dividendos um montante mais de cinco vezes superior ao que realizou em investimentos líquidos, a estadunidense Exxon Mobil pagou de dividendos 80% do total dos investimentos realizados. A petroleira inglesa BP foi a que menos pagou dividendos em relação aos investimentos líquidos realizados, conforme detalhado na tabela a seguir:
Coutinho concluiu que “a relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobras são discrepantes em relação à gestão das grandes petrolíferas mundiais”.
A pesquisa ainda comparou o nível de investimento do segundo trimestre com os últimos 17 anos da Petrobras, concluindo que “os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas”.
Apesar de ter diminuído o volume de dividendos pagos aos acionistas, quando comparado a 2021 e 2022, a proporção de dividendos pagos em comparação aos investimentos líquidos é bem superior à média do período analisado. “Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido do último trimestre foi 44 vezes mais alta, se comparada com a média de 2005 a 2020”, afirmou Coutinho.
Felipe Coutinho diz acreditar que o novo plano estratégico da Petrobras (2023-2027), apresentado pelo presidente da empresa, Jean Paul Prates está com um investimento projetado relativamente baixo, em torno de US$ 78 bilhões (R$ 400 bilhões) em cinco anos.
“É 30% menor, se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobras, desde 1965, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 71% menor, se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões em valores atualizados”, destacou o engenheiro químico.
“Melhorou, mas pouco”
Em entrevista à Agência Brasil, o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras, opinou que a mudança na política de distribuição de dividendos da petroleira brasileira vai possibilitar ampliar os investimentos da empresa, mas que a porcentagem de 45% ainda é conservadora.
“É um ganho, com certeza, porque o que a Petrobras estava pagando de dividendos era algo totalmente surreal. A Petrobras estava pagando mais dividendos do que tinha de lucro. Nenhuma empresa faz isso, acho que só empresa familiar”, destacou.
Porém, como a mudança ainda é pequena, Dantas entende que a empresa vai precisar alterar a nova política para cumprir planos já anunciados, como a retomada das obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, a reabertura da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), além do possível investimento para exploração na margem equatorial brasileira ou para novos gasodutos e refinarias.
“Se for levar a cabo de fato as necessidades e o que está prometido de investimento para Petrobras, vai precisar ter uma nova mudança, sim. 45% de dividendos é conservador, é muito pró-mercado”, concluiu Eric, que também é do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).
Já Felipe Coutinho diz que a mudança será pequena em relação à política de distribuição de dividendos da gestão anterior. “Não à toa, a política de remuneração dos acionistas foi bem recebida por agentes do sistema financeiro”, argumentou.
Questionada sobre o levantamento da Aepet, a assessoria de imprensa da Petrobras disse que a nova política de distribuição de dividendos permitirá manter o objetivo da empresa “de promover a previsibilidade do fluxo de pagamentos de proventos aos acionistas, ao mesmo tempo em que garante a perenidade e a sustentabilidade financeira de curto, médio e longo prazos da Petrobras, sem comprometer a capacidade de crescimento da companhia”.
Petrobras pode pagar até R$ 19,6 bi em dividendos extraordinários, projeta Goldman Sachs
A Petrobras pode pagar o total de dividendos extraordinários avaliado em até US$ 4 bilhões (R$ 19,6 bi) no final deste ano, projetaram analistas do Goldman Sachs em relatório divulgado no início desta semana, em linha com a nova política de proventos anunciada recentemente e comentários sobre a teleconferência de resultados do segundo trimestre.
Segundo os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, caso a Petrobras decida pagar 100% da geração de fluxo de caixa de financiamento (FCF) em 2023, haveria espaço para um anúncio de dividendo extraordinário no valor de aproximadamente US$ 4 bilhões, para um rendimento adicional de cerca de 5%.
Em teleconferência de resultados do segundo trimestre, realizada na última sexta-feira (4), o diretor-financeiro da Petrobras, Sérgio Caetano Leite, disse que a atual política de dividendos da Petrobras prevê o pagamento de dividendos extraordinários, mas que a decisão vai depender da análise das finanças da companhia no curto, médio e longo prazo.
Assim, segundo o Goldman, a medida levaria à disposição de quase US$ 24 bilhões (R$ 117,6 bi) em dividendos neste ano – divididos em torno de US$ 20 bilhões (R$ 98 bi), ou 23% de rendimento no cenário-base), enquanto o dividendo adicional de US$ 4 bilhões implicaria em mais um rendimento de 5%.
Entre os motivos elencados para uma possível distribuição de dividendos da Petrobras, o Goldman destacou que a administração reconheceu a possibilidade de dividendos extraordinários e observou que o atual nível de endividamento da empresa é confortável e em linha com as expectativas do plano estratégico em vigor.
Além disso, segundo o Goldman, o governo, acionista majoritário da Petrobras, tem procurado alternativas para aumentar as receitas da companhia.
O Goldman Sachs tem recomendação de “compra” para as ações da Petrobras, com preço-alvo a US$ 18,30 para as ADRs.
Com informações da Agência Brasil