Em coletiva na segunda-feira (27), a primeira após assumir a cadeira de presidente da Petrobras (PETR4), a engenheira Magda Chambriard foi vaga quando questionada sobre a política de dividendos da estatal, afirma o BB Investimentos (BB-BI) em relatório divulgado ao mercado nesta terça-feira (28).
O analista Daniel Cobucci disse que a executiva afirmou apenas que a empresa continuará lucrativa e pagando dividendos conforme a “lógica empresarial”. Para ele, a falta de clareza nessa área gera incertezas para os investidores. Isso porque uma mudança na política de distribuição de dividendos da Petrobras poderia reduzir o montante pago aos acionistas neste ano.
A previsão atual é de uma distribuição de R$ 3,09 por ação da Petrobras, mas esse valor poderia cair para R$ 2,11 caso a empresa opte pelo pagamento do mínimo obrigatório.
“Em nosso entendimento, seria importante ter maior clareza nessa dimensão, já que a diferença, caso seja adotado o pagamento do mínimo obrigatório (25% do lucro líquido) em relação à regra atual (45% do fluxo de caixa menos investimentos), ocasionaria uma redução próxima a 32% no montante”, analisa Cobucci.
“Foco no pré-sal e busca por eficiência”: mensagem principal da nova CEO da Petrobras, diz o BB-BI
Mesmo com essas incertezas, o estrategista diz que a mensagem principal da executiva foi a continuidade do foco no pré-sal, busca por eficiência e reposição de reservas. Apesar da cautela do banco, a análise mantém um otimismo moderado em relação à empresa, recomendando uma posição neutra com um preço-alvo da Petrobras de R$ 47 para este ano.
Os debates em torno dos dividendos extraordinários se arrastam desde abril deste ano, após serem ligados a uma crise na Petrobras que, a partir daí, levantou a possibilidade de demissão de Prates. À época, aliados do presidente Lula afirmaram que Prates cometeu uma série de erros e consideraram irreversível o desgaste de sua liderança na Petrobras.
Em março, a Petrobras optou por reter R$ 49,3 bilhões em dividendos extraordinários que seriam destinados aos acionistas. Essa medida resultou em uma queda de R$ 55,3 bilhões no valor de mercado da empresa, além de criar dificuldades para o governo federal, principal acionista da petroleira.
Magda Chambriard: “Petrobras precisa zelar pela produtividade e acelerar a atividades de exploração”
O discurso de Chambriard aconteceu em meio a especulações sobre possíveis alterações na diretoria da estatal, quando falou sobre a necessidade de a empresa ser rentável e acelerar atividades de exploração de petróleo. Ela confirmou ainda a possibilidade de realizar mudanças na diretoria, sugerindo uma revisão na estrutura interna da empresa para melhor atender às demandas do mercado e aos interesses dos acionistas, sejam eles privados ou governamentais.
A executiva destacou a importância de buscar novas reservas de petróleo, apesar das preocupações levantadas por organizações ambientalistas diante da crise climática e desastres naturais recentes, como as cheias no Rio Grande do Sul.
Além de ter ressaltado que a Petrobras é uma empresa de “economia mista“, o que significa que possui capital aberto na Bolsa de Valores, com acionistas privados, mas é controlada pelo governo federal, assim como outras estatais.
“Gerir essa empresa para dar lucro é muito fácil. E colocar a empresa à disposição dos acionistas dentro da lógica empresarial”, disse.
Chambriard afirmou que ainda não tomou decisões sobre mudanças na diretoria da Petrobras, mas reconhece que é natural que novos gestores busquem profissionais mais alinhados com sua visão.
Presidente quer acelerar produção de petróleo e diz que é injusto culpar pré-sal por desastres climáticos
Magda Chambriard fez uma vigorosa argumentação em favor da ampliação da produção de petróleo pela Petrobras e do aumento das atividades de exploração para expandir as reservas. De acordo com ela, a exploração de petróleo no pré-sal representa 26% da balança comercial do Brasil.
No entanto, ela observou que o pico de produção dessas reservas é previsto para ocorrer por volta de 2030. Portanto, ela defendeu veementemente a expansão das atividades de exploração para possibilitar a produção em novas áreas. Além disso, Chambriard defendeu a exploração da Margem Equatorial, localizada no litoral norte do país, apesar das questões ambientais que cercam essa região.
“Temos de tomar cuidado com as reposições da reserva. E está fora de cogitação a importação. É trazer a necessidade de explorar novas fronteiras, como a questão do Amapá, na Margem Equatorial, e Pelotas, no Sul do Brasil”, pontuou.
Questionada sobre os impactos da produção de petróleo no clima e, mais especificamente, sobre as cheias ocorridas no Sul do país, Magda Chambriard defendeu que desastres naturais como esse podem ser resultado de uma combinação de diversos fatores. Entre eles, ela mencionou a prática de aterrar áreas que anteriormente eram alagadas.
A presidente da Petrobras enfatizou que não é justo culpar exclusivamente a produção de petróleo no pré-sal por eventos climáticos extremos como as cheias. Segundo ela, é importante considerar todos os aspectos envolvidos e buscar soluções integradas para mitigar os impactos ambientais e prevenir futuros desastres.
Política de preços da estatal deve ser mantida
A executiva reiterou o compromisso de dar continuidade à política de preços dos combustíveis, seguindo a linha de “abrasileiramento” implementada por seu antecessor, Jean Paul Prates, em cumprimento à promessa de campanha do presidente Lula. Essa política, segundo ela, resultou na redução dos preços internos e proporcionou estabilidade ao consumidor, sem prejudicar a Petrobras.
Na coletiva da segunda, Chambriard indicou uma possível mudança de abordagem em relação à transição energética, um dos principais focos da gestão de seu antecessor. Ela abordou pouco o tema e, quando questionada, mencionou iniciativas como a captura de carbono.
O governo espera que a presidente priorize uma série de projetos, incluindo a recompra de refinarias, encomendas a estaleiros nacionais e o apoio à criação de um polo gás-químico em Minas Gerais, estado de origem do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia). Chambriard afirmou estar ciente das promessas de campanha do presidente e se comprometeu a tentar cumpri-las, mas sempre mantendo o foco na saúde financeira da companhia.
“Recentemente, tivemos um cenário com preços de gasolina, de diesel e dos derivados em geral elevadíssimos. O presidente Lula, em sua campanha eleitoral, prometeu abrasileirar os preços. E como isso foi feito? Ora, é justo eu cobrar de um produto que eu não importo o mesmo preço de um produto do mercado internacional que paga preço de frete, de seguro, de risco de importação, de ganho de importador? Tudo isso está presente em uma grande formulação que abrasileirou o preço dos combustíveis”, acrescentou.
A atual política de preços dos combustíveis da Petrobras foi adotada em maio do ano passado e representou o fim do Preço de Paridade Internacional (PPI), que vinha sendo adotado há mais de seis anos. Desde 2016, os preços praticados no país se vinculavam aos valores no mercado internacional tendo como referência o preço do barril de petróleo tipo brent, que é calculado em dólar. Essa prática gerou distribuição de dividendos recordes aos acionistas da empresa. No atual modelo, a Petrobras não deixa de levar em conta o mercado internacional, mas incorpora referências do mercado interno.
Entre as prioridades destacadas pela nova presidente estão a busca por novos mercados para o gás natural e a garantia de “igualdade de condições” para fornecedores nacionais de equipamentos. A gestão anterior da Petrobras foi criticada por optar pelo arrendamento de plataformas, serviço majoritariamente oferecido por empresas estrangeiras.