A primeira reunião do Conselho de Administração da Petrobras (PETR4) em 2025 vai ser dominada pela avaliação trimestral da política de preços dos combustíveis da estatal, segundo pessoas próximas ao assunto.
O encontro nesta quarta-feira, 29, acontece em momento de pressão de investidores privados por um reajuste que equipare ou ao menos aproxime os preços da estatal do preço de importação.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, teria sinalizado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião na segunda-feira, 27, no Palácio do Planalto, que o reajuste nos preços dos combustíveis, em avaliação pela companhia, deve se limitar ao diesel e não alcançará a gasolina.
Nos bastidores, a direção da empresa admite estudar a situação, mas não dá sinais claros de que vai mudar seus preços nos próximos dias, o que tem feito aumentar a divergência entre os representantes dos minoritários e do governo federal no Conselho.
Os conselheiros já teriam, inclusive, recebido um relatório da diretoria da empresa, informando que os preços estão aderentes à política atual, implantada em maio de 2023. Esse diagnóstico, porém, não foi acolhido de forma unânime entre os conselheiros. Uma ala defende que a estatal precisa reajustar o preço do diesel, que está há um ano e um mês sem alteração.
Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) apontam que a defasagem do diesel frente às cotações praticadas no mercado internacional está em 16% – ante 28% na semana passada. Já a defasagem da gasolina subiu para 8%, ante 7% da véspera.
A Petrobras não mexe no diesel há 399 dias. Segundo a Abicom, são 91 dias de janela fechada para importação do combustível.
A queda da defasagem sofre a influência do dólar, cuja cotação vem recuando nos últimos dias. Na terça, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,89, enquanto o petróleo recuou para US$ 76,49 o barril. Nesta quarta-feira, a commodity registrava cotação de US$ 75,98 o barril. Pelos cálculos da Abicom, para atingir a paridade com os preços internacionais a Petrobras poderia aumentar o diesel em R$ 0,55 por litro e a gasolina em R$ 0,24 por litro.
Uma pessoa ligada a investidores privados afirmou à reportagem que a política não está sendo cumprida e que a Petrobras precisa corrigi-la.
Ela diz ver a necessidade da estatal informar ao mercado sobre o impacto da condução dos preços no faturamento da companhia. Uma segunda pessoa próxima às discussões do conselho afirma que a política de preços foi respeitada até dezembro do ano passado e também enxerga a necessidade do reajuste.
Já a diretoria da Petrobras sustenta que a política de preços mantém uma margem positiva de ganho para a estatal, posição bem aceita pela maioria de representantes do governo no conselho.
Em entrevista exclusiva ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) na semana passada, a presidente da Petrobras afirmou que os preços do diesel e da gasolina não estão congelados, e que a estratégia de preços da companhia tem sido bem sucedida.
“Não estamos congelando nada. Estamos absolutamente dentro da nossa estratégia, a qual não posso contar. Se dissesse, estaria lesando o meu acionista”, disse Magda. “A gente acompanha o mercado e evita a volatilidade de olho em market share“, copletou Chambriard.
Ela afirmou ainda que os meses de janeiro e fevereiro tradicionalmente registram uma demanda menor por diesel, que volta a se recuperar em março. O Brasil importa entre 20% e 30% do diesel que consome. Sem importação pelos agentes privados, a Petrobras importa esse volume quando há maior demanda pelo combustível.
Na reunião desta quarta do Conselho, o relatório sobre a aplicação da política de preços será apresentado pela área técnica. Essa política considera o menor preço que a Petrobras aceita receber pelo valor máximo que o cliente quer pagar. O método usa uma banda entre o preço de custo da companhia e o preço alternativo da concorrência. Se os preços praticados nas refinarias estiverem dentro dessa faixa, a companhia dificilmente reajusta.
Responsabilidade
Apesar da divergência, o fato é que o Conselho de Administração pode fazer apenas recomendações e discutir o método de precificação, mas não tem mandato para alterar os preços, tarefa do trio formado pela presidente, Magda Chambriard, e os diretores financeiro, Fernando Melgarejo, e de distribuição e logística, Carlos Schlosser.
Os dois últimos, apurou o Broadcast, estão em férias e só voltam à companhia na próxima semana, o que dificulta um reajuste nos próximos dias.
Uma pessoa a par do tema na Petrobras define como “improvável” um reajuste nos próximos dias, porque a companhia não quer perder mercado nesse momento para produto mais barato vindo da Rússia. Além disso, em fevereiro, os combustíveis já terão aumento por conta do reajuste do ICMS.
Segundo essa pessoa, o espaço para mudanças viria mais perto ou, idealmente, a partir de março. Essa visão é reforçada por declarações da própria presidente da Petrobras ao Broadcast na semana passada, sobre a queda das vendas de combustíveis em todo mês de janeiro e fevereiro.
Com Estadão Conteúdo