Petrobras (PETR4) afunda 20,71% no pior dia desde março; entenda o que aconteceu

A ação da Petrobras (PETR4) encerrou nesta segunda-feira (22) em forte queda de 20,71%, recuando a R$ 21,67, em seu pior dia desde 9 de março do ano passado, quando afundou 29,7% em um pregão. O mercado reage aos acontecimentos da última semana, quando na sexta-feira (19) o presidente da república, Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu Roberto Castello Branco e indicou o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal petrolífera.

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Os investidores precificaram a Petrobras a partir de uma nova perspectiva de maior intervenção estatal do governo Jair Bolsonaro. O presidente já tinha se mostrado avesso a algumas mudanças corporativas e liberais, mas rompeu uma linha importante ao indicar a demissão do presidente da Petrobras (PETR4), Roberto Castello Branco, na última quinta-feira (18) e confirmar o fato em rede social no dia seguinte.

O movimento pegou o mercado de surpresa. Apesar de Bolsonaro já ter se indisposto publicamente com o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, havia a percepção no mercado de que a Petrobras estaria blindada de interferência política com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo.

Agora, ao digerir a notícia, especialistas acreditam que o movimento pode ter enterrado para valer a crença que restava no mercado sobre um viés liberal do governo. Veja mais aqui sobre a visão dos analistas.

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Veja abaixo a cronologia dos fatos:

Antes de quinta-feira

No último mês, a companhia foi criticada pelos caminhoneiros por supostamente reajustar demais o preço do diesel. Ao mesmo tempo, um grupo de importadores reclama que a empresa está vendendo gasolina e diesel a preços muito baixos se comparado aos do mercado internacional, o que estaria comprometendo a concorrência.

Na imprensa corria a informação de que Bolsonaro teria ficado irritado com a declaração de Castello Branco de que ele não tinha “nada a ver” com a greve. Apesar de amigo de décadas de Guedes, o presidente da Petrobras não nutria boa relação com Bolsonaro, que criticava a sua decisão pelo home-office e uso de equipamentos de proteção como máscara e óculos contra o vírus da covid-19 em reunião no Planalto.

Quinta-feira, 18

Em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que tinha se incomodado com a fala de Roberto Castello Branco. Ele disse “Você vai em cima da Petrobras, ela fala ‘opa, não é obrigação minha’. Ou como disse o presidente da Petrobras, há questão de poucos dias, ‘eu não tenho nada a ver com caminhoneiros, eu aumento preço aqui e não tenho nada a ver com caminhoneiro’. Foi o que ele falou [e] isso vai ter uma consequência, obviamente”.

No mesmo dia, a Petrobras havia anunciado um reajuste de 14,7% no diesel e de 10% na gasolina, aumentando a pressão dos caminhoneiros, base de apoio do presidente Bolsonaro. Os preços que ficaram R$ 0,23 e R$ 0,34 mais caros já no dia seguinte.

A empresa enfatizou que mantém os seus preços alinhados aos do mercado internacional, o que, segundo a estatal, “é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”.

Bolsonaro, então, criticou o reajuste de preço nas refinarias da empresa e prometeu zerar os tributos envolvendo o gás de cozinha, dizendo que alguma coisa aconteceria na companhia. No entanto, o político não deu maiores detalhes sobre o que poderia mudar na petrolífera, até aquele momento.

Sexta-feira, 19

O mercado entendeu que ele trocaria o presidente da Petrobras e o papel preferencial da empresa recuou 6,7% no pregão.

Ao longo do dia, Bolsonaro garantiu que não interferiria na política de preços da petroleira. “Mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes”, completou.

Naquela noite, o chefe do Executivo anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da empresa no lugar de Castello Branco.

O presidente da República não pode, contudo, demitir sumariamente Castello Branco. A decisão ainda tem de passar por deliberação do conselho de administração da Petrobras, que tem reunião agendada para amanhã.

Sábado, 20, e domingo, 21

Já no sábado (20), a  Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo administrativo envolvendo a Petrobras após  indicação do general Silva e Luna para assumir a presidência da estatal.

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O processo trata da supervisão de notícias, fatos relevantes e comunicados e foi iniciado pela Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da autarquia, que deve analisar os fatos recentes envolvendo a companhia.

Ao longo do final de semana, Bolsonaro voltou a reafirmar que não mexeria na política de preços e surgiu na imprensa a informação de que os diretores e conselheiros da Petrobras consideravam uma demissão em massa como uma resposta à interferência do Executivo.

Os bancos e investidores não acreditaram na versão de Bolsonaro. A XP colocou os papéis como “Venda”, enquanto o UBS e BTG falaram em “perda de credibilidade”. Moody’s falou que a decisão tinha impacto negativo.

Segunda-feira, 22

Com o mercado arisco, as ações das estatais abriram o dia amargando fortes perdas. Ações do Banco do Brasil, Eletrobras e da Petrobras afundavam entre 10%-20%, enquanto os juros e o dólar disparavam.

O silêncio de Paulo Guedes também pesou sobre os investidores, que tem — ou tinham — no ministro um fiador das políticas econômicas do governo. Desta vez, o “Posto Ipiranga” sumiu.

O mau humor provocou uma perda de mais de 20% nos papéis da Petrobras, no pior pregão em quase um ano.

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Laura Moutinho

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