As ações da Petrobras (PETR4), que abriram em queda e depois retomaram o viés de alta com o rumor de uma possível decisão sobre a revisão do pagamentos dos dividendos extraordinários, fecharam em queda nesta segunda (11). Pesaram na reta final do Ibovespa declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticando a distribuição de dividendos da Petrobras.
As ações preferenciais PETR4 fecharam em queda de 1,30, a R$ R$ 35,65. E as ordinárias, PETR3, encerram a sessão com queda de 1,92%, a R$ 36,27.
Cotação PETR4
Lula disse que não é possível atender “apenas à choradeira do mercado”. Ele deu as declarações em entrevista ao SBT gravada na manhã desta segunda-feira, 11. O canal de TV divulgou trecho da entrevista, que vai ao ar na íntegra às 19h45.
Lula disse que a Petrobras não serve só para pensar nos acionistas, e que precisa pensar em fazer investimentos. Afirmou que a empresa tinha que distribuir R$ 45 bilhões em dividendos da Petrobras, mas queria distribuir R$ 80 bilhões.
O assunto está quente porque, na sexta-feira, 8, a Petrobras perdeu R$ 56 bilhões em valor de mercado depois de frustrar a expectativa de distribuição de dividendos extraordinários. Lula está reunido com o presidente da estatal nesse momento, no Planalto.
“Tivemos uma conversa séria com a direção da Petrobras“, disse o presidente da República.
Ele afirmou que é preciso a empresa “pensar no povo”.
Lula também disse que tem compromisso com a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. “Não tem por que ter preço equiparado ao internacional”, comentou.
E destacou: “Se for atender apenas à choradeira do mercado, não faz nada. O mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo.”
Para depois acrescentar com várias indagações: “Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome? Será que as pessoas não têm pena de 735 milhões de pessoas que não têm o que comer? Será que o mercado não tem pena das pessoas que dormem na sarjeta no centro de São Paulo, no Rio de Janeiro? Será que o mercado não tem pena das meninas com 12 ou 13 anos que às vezes vendem o corpo por causa de comida?”
Em entrevista, Lula fala em trabalhar para melhorar a economia e baratear alimentos
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse em entrevista concedida ao STB nesta segunda-feira, 11, que o governo precisa baratear alimentos. O canal divulgou em seu site de notícias parte da entrevista, que vai ser transmitida às 19h45.
“Temos que baratear produtos e temos que baratear os alimentos. A economia cresceu melhor do que aquilo que o FMI previa, ou que os pessimistas previam, mas ainda está muito longe de ser a economia que eu pretendo”, afirmou o presidente da República.
E declarou: “A economia está bem, mas está tão bem quanto a gente espera que ele esteja porque vamos trabalhar para a economia ficar muito melhor.”
Popularidade
Na mesma entrevista, Lula disse que seu governo ainda está aquém do que prometeu. Pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias mostram o governo em um momento de baixa na popularidade.
“Você utiliza a pesquisa como instrumento de ação e mudança da sua estratégia de governo”, declarou o Lula. “Eu tenho certeza absoluta que não tem nenhuma razão para o povo brasileiro me dar 100% de popularidade porque ainda estamos muito aquém daquilo que prometemos”, disse.
Ele voltou a dizer que ao longo deste ano ações de seu governo iniciadas em 2023 começarão a dar resultado.
Petrobras (PETR4): decisão sobre dividendos pode mudar?
As ações da Petrobras (PETR4) operam com volatilidade nesta segunda-feira, 11, depois do enorme tombo registrado na sexta-feira, 8, em meio aos ruídos provocados pela decisão da empresa de não distribuir dividendos extraordinários, como era esperado pelo mercado financeiro. Há uma expectativa também relacionada a uma reunião entre o presidente da estatal, Jean Paul Prates, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, às 15 horas. Nesta segunda, no intradia, as ações PETR4 sobem 1,25%. PETR3 avança 0,16%.
Os investidores da Petrobras há tempos vêm manifestando temor pela ingerência política na empresa, que vem derrubando seu valor de mercado.
No período da manhã, os papéis da Petrobras abriram em queda em torno de 2%. Mas, no início da tarde, às 12h15 os papéis preferenciais viraram e subiam 2,05%. Na sexta-feira, as ações fecharam em queda de 10,5%, o que significou uma perda de valor de mercado de R$ 55 bilhões em apenas um dia.
O Broadcast, serviço de notícias do Estadão, informou que membros do conselho da estatal ligados ao governo Lula poderiam mudar seus votos contra o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas. Na versão dessas fontes do Broadcast, o presidente Lula não gostou da repercussão negativa da decisão sobre dividendos e da queda dos papéis.
O pano de fundo para a baixa das ações da Petrobras de 10% na última sexta (8) foi a decisão da companhia de não distribuir dividendos extraordinários avaliados em R$ 43,9 bilhões, o que provocou um enorme ruído no mercado.
A decisão de reter os recursos foi uma orientação do próprio governo, como demonstra a decisão, dividida, do Conselho de Administração. Votaram contra a distribuição cinco conselheiros indicados pelo governo e a representante dos trabalhadores. Os quatro representantes de acionistas minoritários votaram a favor da distribuição de 100%.
Segundo Prates, inicialmente, a diretoria da Petrobras propôs 50% dos dividendos extraordinários para reserva e 50% para pagamento agora. Mas, diante da resistência dos representantes do governo, ele se absteve de votar na reunião. “Essa novela (dos dividendos) continua, não acabou.”
Os diretores da empresa fizeram questão de dizer, ao longo da sexta-feira, que, mesmo sendo retido, esse dinheiro acabará voltando para o bolso dos acionistas, já que não pode ser usado para outra coisa – como investimento ou pagamento de dívida.
Petrobras: ingerência política pesa nas açõess
Mas, no mercado, mais uma demonstração de ingerência política na empresa acabou pesando.
O presidente Lula tem dado mostras ininterruptas de que pretende usar as empresas estatais diretamente dentro do seu plano de governo – mesmo sendo, no caso da Petrobras, uma empresa aberta, com ações em bolsa e sócios minoritários. “O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos”, disse Lula recentemente, em entrevista à RedeTV.
Uma das frentes desses investimentos, no caso da Petrobras, é a volta dos recursos para refinarias da Petrobras. O governo já anunciou, por exemplo, a retomada das obras de Abreu e Lima, em Pernambuco, refinaria que se tornou um dos principais símbolos da corrupção nos governos petistas anteriores.
Com um custo inicial estimado em R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento – tocadas pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão – consumiram quase R$ 60 bilhões, sem terem sido concluídas. De acordo com a delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, as obras na refinaria teriam rendido R$ 90 milhões em propinas a ex-executivos da estatal ligados ao PP, ao PT e ao PSB.
Ministério da Fazenda
No caso dos dividendos extras da Petrobras, porém, integrantes da própria equipe econômica defenderam o pagamento em conversas com Prates durante a semana passada. Esses recursos ajudariam o Ministério da Fazenda no esforço fiscal para alcançar a meta de déficit zero.
A União é o principal acionista da empresa e, portanto, seria a maior beneficiária desses recursos.
Para membros da Fazenda, a proposta de Prates, de distribuir 50% dos valores extraordinários apurados em 2023, “era bem razoável”. A ideia, porém, não teve o apoio necessário no Conselho de Administração, que decidiu por restringir a distribuição apenas aos dividendos ordinários, retendo o restante.
Risco político na Petrobras
O Goldman Sachs avalia que o risco de uma intervenção governamental na Petrobras cresceu após a estatal decidir não pagar dividendos extraordinários com o lucro remanescente no quarto trimestre de 2023.
Por outro lado, o banco vê que isso já está parcialmente refletido no preço das ações, com o American Depositary Receipt (ADR) fechando em baixa de 11,5% na sexta-feira, 8.
“Historicamente houve vários casos em que as manchetes aumentaram a percepção de risco, o que não levou a uma mudança de fundamentos significativos o suficiente para evitar a valorização do preço das ações no longo prazo“, disseram os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo, e Guilherme Costa Martins, em relatório sobre a Petrobras enviado a clientes.
Entenda a disputa por dividendos da Petrobras que derrubou ações
A Petrobras anunciou, na última semana, o resultado financeiro da companhia em 2023 com um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, segundo maior valor da história. Ainda assim, as ações da petroleira caíram cerca de 10% na sexta-feira (8).
Analistas da imprensa especializada em mercado financeiro atribuíram a queda à decisão da companhia de reter os dividendos extraordinários, avaliados R$ 43,9 bilhões, adiando o pagamento desses recursos para o futuro. Os dividendos são a parte do lucro que é repassada para os acionistas da empresa.
Para entender esse movimento, a Agência Brasil ouviu três especialistas em economia e mercado de petróleo. Eles avaliaram que a reação do mercado financeiro à retenção dos dividendos foi uma resposta às mudanças na gestão da Petrobras em relação ao governo anterior, que dava maior prioridade ao pagamento dos acionistas.
O economista do Observatório Social do Petróleo, Eric Gil Dantas, avaliou que a reação negativa do mercado é um movimento especulativo com objetivo de pressionar a empresa a pagar os dividendos de forma imediata.
“Há uma pressão para que a Petrobras pague ainda mais dividendos. Mesmo ela sendo a maior pagadora de dividendos do Brasil, o mercado sempre vai querer que a Petrobras pague mais, mesmo que isso prejudique o caixa da empresa”, destacou.
“Não parece ter base na realidade uma chantagem de desvalorização da companhia. Primeiro, porque ela é a segunda maior geradora de caixa entre as petrolíferas do Ocidente e também porque ela já é a maior pagadora de dividendos do Brasil”, completou Dantas.
O especialista destacou ainda que a estatal brasileira ficou atrás apenas da petroleira estadunidense Exxon em volume de fluxo de caixa livre em 2023, que é o dinheiro líquido à disposição da companhia.
Para o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos, a reação do mercado é a expressão do descontentamento de alguns atores. “Em especial, aqueles acionistas que têm interesses de curto prazo, que ficaram insatisfeitos com a proposta de distribuição do volume de dividendos”, destacou.
Mahatma defendeu que esse descontentamento é desmedido, uma vez que os R$ 43 bilhões retidos devem ficar em uma reserva que é usada para remuneração de acionistas.
“A Petrobras segue como uma empresa resiliente, lucrativa, com solidez financeira e pagando robustos dividendos, o que, em certa medida, não casa com o descontentamento desses atores de mercado que têm uma visão de que a Petrobras é uma empresa que deve apenas gerar lucratividade e distribuir dividendos no curto prazo, ao invés de pensar num plano de desenvolvimento energético sustentável de longo prazo para o país”, comentou.
Para o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a queda no preço das ações é um movimento localizado e circunstancial.
“A tendência é que, conforme a Petrobras vá se reconsolidando como empresa de energia orientada para a transição verde, esse planejamento estratégico leve os agentes de mercado a mudar sua visão, a mudar a forma como esperam que o valor da empresa deva ser tratado no preço da ação. E aí ela volta a subir”, destacou.
Roncaglia argumentou que a reação do mercado tem relação com o fato da empresa agora está atuando mais condizente sua natureza mista, que busca objetivos privados, mas também precisa atender a interesses públicos.
“A frustração do mercado é porque ele estava acostumado a Petrobras ter uma natureza extrativista, ou seja, pegar o dinheiro e repassar na forma de dividendos. A nova gestão está olhando mais para o longo prazo, então está retendo mais lucros para poder investir”, destacou.
Justificativa
A diretoria da empresa, dirigida pelo presidente Jean Paul Patres, enviou ao Conselho de Administração proposta para pagar 50% dos dividendos extraordinários e reter os demais 50%.
Porém, o Conselho decidiu propor reter todo o valor dos dividendos extraordinários em um fundo de reserva que, segundo o estatuto da própria companhia, deve ser usado para remunerar os acionistas ou, caso necessário, cobrir possíveis prejuízos. Tal proposta ainda precisa ser aprovada pela Assembleia Geral Ordinária, que reúne os acionistas da Petrobras e se reúne no próximo dia 25 de abril.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Sérgio Caetano Leite, justificou que o Conselho decidiu reter todo o valor para analisar melhor os cenários, levando em conta que estão previstos maiores investimentos.
“Olhando para os dois anos de forte investimento, 2024 e 2025, o conselho pede mais análise. Ele está no papel dele, no direito, talvez até no dever dele, de pedir essas análises. Essas análises vão ser feitas, vão ser levadas para o Conselho”, afirmou Sérgio, que disse saber que a decisão “frustra alguns investidores, mas, na prática, é uma decisão tomada pela alta gestão e que a diretoria vai acompanhar”.
Colchão de liquidez
A direção da empresa sustenta que, como não há previsão de prejuízo no médio ou curto prazo, a reserva para onde devem ir os R$ 43 bilhões de dividendos extraordinários será usada para a remuneração dos acionistas.
Mesmo que não possa usar esses R$ 43 bilhões para outras finalidades, o professor André Roncaglia destacou que a retenção desse dinheiro tem o efeito positivo para empresa de aumentar o “colchão de liquidez”, ou seja, o dinheiro à disposição da Petrobras, reduzindo incertezas do mercado.
“O colchão de liquidez permite a ela acessar juros mais baixos e diminui a incerteza nos contratos da empresa porque ela tem mais dinheiro em caixa”, comentou.
Dividendos e investimentos: Petrobras
A Petrobras foi a petroleira que mais pagou dividendos aos acionistas em 2023 quando comparado com outras cinco grandes companhias do setor: Chevron, BP, Total, Shell e Exxon Mobil, segundo levantamento da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET). Enquanto a Petrobras pagou US$ 20,28 bilhões, a 2ª colocada, que foi a Exxon, pagou U$S 14,95 bilhões em dividendos.
“Em 2023, a Petrobras, apesar de ter a menor receita entre as seis empresas, pagou o maior montante em dividendos. Além disso, foi a petrolífera que realizou o menor investimento líquido”, afirmou o presidente da AEPET, Felipe Coutinho.
Em 2023, a Petrobras investiu US$ 12,7 bilhões, um crescimento de 29% em relação ao ano anterior. Apesar do aumento nos investimentos, o economista do Observatório Social do Petróleo, Eric Gil Dantas, avaliou que eles ainda são baixos de considerados os planos da companhia. “Não faltam projetos que estão sendo tocados, são refinarias, eólicas, novas fronteiras exploratórias, novos produtos ligados à transição energética. Se a Petrobras não controlar o pagamento dos seus dividendos, ela terá que se endividar para fazer esses investimentos”, avaliou o economista.
Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil