O susto com a interferência política na Petrobras (PETR4) derrubou a ação na última segunda-feira (22). Os papéis da petroleira tombaram mais de 21%. Nesta terça-feira (23), por mais que os papéis tenham demonstrado certa recuperação, abrindo o pregão em forte alta, especialistas ainda enxergam a empresa com um pé atrás.
Com um histórico de inteferências políticas em sua governança, a Petrobras foi penalizada por grandes investidores, que preferiram “não pagar pra ver”, e desfizeram suas posições na empresa. Ontem foi o segundo pior pregão da companhia nos últimos 20 anos.
Para Maurício Pedrosa, gestor da Arena Investimentos, a derrocada tem justificativa: os problemas da empresa são estruturais, e não conjunturais. “Com a Petrobras, o Brasil tem um problema raiz que ainda não foi solucionado: a governança”, afirma o gestor.
Para ele, é completamente legítimo que o governo procure atender às políticas públicas que julgar necessárias, que muitas vezes se encontram com os anseios da população. O aumento no preço dos combustíveis, por exemplo, é sensível à inflação e à situação dos caminhoneiros.
Contudo, a forma de se fazer isso não é por meio de uma empresa listada em Bolsa, diz o especialista.
Empresa de capital aberto não serve para políticas públicas, diz gestor
“Nos últimos anos, houve uma confusão no País. O governo precisa entender que uma empresa que tem suas ações listadas em Bolsa, ou seja, pediu dinheiro emprestado ao mercado em algum momento, deve satisfações aos seus investidores”, afirma Pedrosa.
“A Petrobras deve dar lucro. A partir do momento em que há uma inteferência na liderança da companhia, está sendo ferida a governança de um negócio onde o governo possui sócios.” “Caso seja do interesse do governo utilizar companhias dessa natureza para políticas públicas, basta fechar o capital”, afirma o gestor.
Esse cenário já foi visto diversas vezes nas últimas décadas — a Petrobras caminha para ter seu 39º presidente desde 1953. Pedrosa, que já foi investidor da companhia anteriormente, agora não vê mais como uma boa oportunidade no longo prazo.
“Para o curto prazo, com o intuito de surfar a onda da alta do petróleo e a correção dos preços das ações, até pode ser um bom negócio. Para o longo prazo, o problema é estrutural, e não conjuntural. Por ora, ficamos de fora”.
Para Alexandre Prado, sócio fundador do escritório RJ Investimentos, a situação é similar. As inteferências na Petrobras vieram em um momento em que a companhia surfava o bom cenário internacional, com liquidez abundante e disparada do preço do petróleo.
“Contudo, os investidores odeiam incertezas, exigindo um prêmio maior quando um risco se torna mais aparente. É possível ganhar dinheiro dessa forma: especulando o risco. No entanto, para o investidor de longo prazo, o cenário é diferente. Rebaixamos as ações da Petrobras, de neutro para venda, com um preço-alvo de R$ 24″, diz o especialista.
Mesmo assim, Prado salienta que por conta das incertezas que circundam as ações, é difícil atribuir um preço justo. O comportamento reflete a atuação dos grandes investidores no pregão de ontem, que não “fizeram conta” e preferiram se desfazer dos papéis a qualquer custo.
Pessimismo com a Petrobras não é consenso no mercado
Mesmo que para o longo prazo, a visão pessimista com a Petrobras não é consenso entre os integrantes do mercado.
Para Vitor Miziara, responsável pela área de renda variável da Criteria Investimentos, o movimento de ontem — que já é parcialmente reposto hoje — foi um reflexo dos traumas anteriores.
“Os investidores ainda têm muito frescas na memória as interferências do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, período em que a Petrobras acumulou prejuízos por não ter uma política de preços. Com isso, na dúvida de que esse cenário possa voltar, houve uma pressão vendedora”, afirma o especialista.
Miziara, entretanto, ainda vê uma janela de oportunidade para entrada na empresa. Ele lembra que mesmo as casas que reajustaram os preços da Petrobras atribuem um preço-teto com upside sobre a cotação atual.
O UBS, por exemplo, reiterou nesta manhã a recomendação de compra para os papéis da Petrobras, com um preço-alvo de R$ 31, uma potencial valorização de 33% sobre o preço atual das ações preferenciais da petroleira.
Em relatório, a instituição suíça relembra que os “fantasmas do passado” tem assombrado os investidores, mas sem muita razão. “A estrutura regulatória é muito diferente em comparação com 5 a 10 anos atrás. Hoje vemos uma reação imediata da CVM e escritórios de advocacia manifestando o direito de ajuizar uma ação coletiva contra o governo brasileiro, por exemplo.”
Rodrigo Zauner, sócio da SVN Investimentos, compartilha da mesma opinião. “O caso é delicado. Interferências estatais sempre são vista com maus olhos, e devemos ficar de olho. Porém, pode ser interessante para o longo prazo, sim.”
Por volta das 12h40 desta terça, os papéis preferenciais da Petrobras subiam 9,32%, para R$ 23,46. O Ibovespa, contudo, é puxado pelo cenário exterior no vermelho e sobe menos, 1,46%, a 114.313 pontos.
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