A Petrobras (PETR4; PETR3) tem o objetivo de se desfazer de alguns ativos para redirecionar o crescimento da companhia. A estatal petrolífera, que viveu o auge do seu papel entre 2006 a 2008 com a descoberta do pré-sal, também experimentou momentos de turbulência com a corrupção e com a interferência do governo nos preços dos combustíveis.
Nos últimos anos, as vendas de ativos têm sido destaque no mercado. Com isso, os investidores querem saber se ainda vale a pena investir na Petrobras. Para responder essa pergunta, nós, do SUNO Notícias, conversamos e analisamos relatórios de especialistas que nos trouxeram suas perspectivas.
Do auge ao declínio
No período de 10 anos, as ações da Petrobras apresentaram oscilações expressivas. Para base de comparação, o papel preferencial da estatal (PETR4) em 29 de maio de 2008 era cotado a R$ 50,56. Já na mesma data em 2018, a ação encerrou negociada a R$ 13,68.
Em 2008, a Petrobras investiu um recorde para a época, de R$ 53,4 bilhões. Até aquele momento, tudo ia bem. Os projetos de investimento eram considerados audaciosos e no ano seguinte a estatal anunciou um investimento de US$ 550 bilhões pelos 10 anos seguintes. A fronteira do pré-sal estava em pleno desenvolvimento e os preços do petróleo eram favoráveis. A companhia decidiu então fazer dívidas em dólares. Em 2009, o déficit era de R$ 60 bilhões. No entanto, em 2015 essa dívida aumentou mais de sete vezes e alcançou R$ 460 bilhões.
O declínio dos tempos áureos da Petrobras se explica a uma somatória de fatores. Entre eles, estão o aumento de variação cambial, a forte concorrência que derrubou os preços do petróleo, os investimentos não rentáveis e a corrupção da empresa.
Recuperação com projetos de desinvestimentos
A Petrobras vem se desfazendo de ativos para redirecionar os esforços para o crescimento da companhia. Isso porque, ao longo das últimas décadas, diversas empresas subsidiárias como a Liquigás (distribuição) e Braskem (petroquímica), entre outras, dividiram as atenções e os investimentos da companhia.
Na análise do especialista da Planner Corretora, Luiz Francisco Caetano, o desinvestimento é benéfico para estatal porque induz a companhia a redirecionar o foco naquilo que é lucrativo.
“Sem dúvida, ficar mais enxuta e focar no pré-sal é muito positivo. A empresa está vendendo ativos de baixa rentabilidade (refinarias, campos em águas rasas e terrestres, etc) e focando onde ela consegue melhor retorno. Por exemplo, no pré-sal, onde os custos de exploração são menores”, analisou Caetano.
Segundo o analista da SUNO Research, Felipe Tadewald, “o foco no pré-sal reduz o lifting cost (custo de extração do petróleo) e a venda de ativos “non core” (não central, em inglês) gera caixa para a empresa poder se desalavancar ainda mais e investir nos segmentos mais rentáveis e centrais”.
O banco UBS também avalia a estratégia de desinvestimento como benéfica à empresa. “Apoiamos uma visão positiva para o caso de investimento da Petrobras desde o início da estratégia da nova administração de focar no core business da empresa e de aumentar a lucratividade.”
As influências nas ações da petrolífera
Outro fator que impacta as ações da estatal petrolífera é o petróleo, mas os especialistas explicam que também há outros fatores que influenciam. “A Petrobras é uma companhia que opera commodity, e portanto é muito sensível à flutuação desta commodity, no caso, o petróleo Brent”, analisou Tadewald.
Dentre os principais riscos para o preço dos papéis da estatal, segundo o UBS, está o “preço das commodities e o preço doméstico de refino”. Em seguida, o banco lista uma série de outras influências, como o risco de execução de E&P (Exploração de Petróleo); disciplina de capex; retornos de novos projetos e as perspectivas da política brasileira.
Por ser uma companhia de economia mista, sociedade na qual há participação de iniciativa pública e privada, a política interna do País e até mesmo as eleições presidenciais podem influenciar os ativos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
“Por ser uma estatal, a eleição com mudança de governo e uma mudança da política de preços da empresa poderia afetar bastante as ações”, disse o analista da SUNO Research.
Na análise de Caetano, os seguintes itens impactam positivamente para a cotação da ação:
- Crescimento da produção;
- Ganhos de produtividade com o foco na exploração do pré-sal e em campos com elevada produção;
- Venda de ativos;
- Redução da dívida (conseguida com a venda de ativos e melhor geração de caixa).
Por sua vez, esses são os pontos, na opinião do analista, que podem impactar negativamente os papéis da Petrobras:
- Um eventual controle dos preços no mercado;
- Queda das cotações do petróleo;
- Frustração na venda de ativos.
Vale a pena investir na Petrobras?
Devido aos desinvestimentos e à estratégia de redirecionar o foco para aquilo que é rentável, a Petrobras “carrega uma combinação de características interessantes para os investidores”, analisou Tadewald.
“Temos apoiado uma abordagem positiva ao caso de investimento na Petrobras, com base na estratégia de focar no negócio principal, que é competitivo em escala global e reduz sua exposição a linhas de negócios de menor retorno”, analisou o UBS.
Além dos fatores acima mencionados, a nova política de dividendos torna a empresa mais atrativa para o investidor.
Na semana passada, a estatal informou ao mercado que seu conselho aprovou uma revisão da política de remuneração aos acionistas. A medida tem o objetivo de permitir que a administração da companhia proponha pagamento de dividendos mesmo em exercícios em que não for apurado lucro contábil.
“A Petrobras reúne a possibilidade de bons dividendos, junto com crescimento dos resultados e valorização. Por estar reduzindo seu custo de extração e elevando sua eficiência, a empresa deve gerar robustos volumes de caixa em 2021, o que pode se traduzir em dividendos atrativos”, disse o analista da SUNO Research.
Para o banco, “a nova política de dividendos é uma boa notícia na forma de devolver capital aos investidores”.
“A política de dividendos acredito que faz ainda mais sentido para o acionista. De modo geral, gostamos da Petrobras e vemos com bons olhos os planos de desinvestimentos”, disse o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter.
Esta matéria da não é uma recomendação de investimento de ações.