Petrobras (PETR4) muda política de preços, mas desperta dúvidas no mercado; entenda por que as ações subiram
A Petrobras (PETR4) informou nesta terça-feira (16) qual será a nova estratégia comercial para definir preços de diesel e gasolina, em substituição à política atual de preços, chamada de PPI ou política de paridade de importação. A falta de detalhes do comunicado (um texto praticamente de uma página), contudo, trouxe dúvidas ao mercado.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, inclusive, foi convidado a explicar o fim da paridade de preços com o dólar e o mercado internacional mencionada no comunicado à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
De acordo com analistas do Bradesco BBI, a nova política de preços é subjetiva, construída sobre uma tese microeconômica por ponto de entrega que impossibilita o rastreamento do mercado. Para eles, é provável que os aumentos sejam arbitrários e potencialmente justificados pela busca de paridade de exportação de longo prazo.
“Se as variáveis macro atuais, como câmbio, preços do petróleo e ‘crack spreads’ permanecerem como estão, esperamos poucas mudanças nos preços atuais”, disseram os analistas do Bradesco BBI.
No Morning call do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de RV e derivativos da empresa, comentou que a estratégia apresentada no comunicado foi “ampla, sem muito detalhes” e o olhar, assim, volta-se para o comportamento dos preços daqui para frente.
Em relatório do BTG, os analistas apontam que, apesar do sentimento ter melhorado, permanecem neutros “até que a administração dê mais informações relacionadas à política de dividendos”. “Negociando com um dividend yield de 8% para 2023 (ex-anúncio do 1T23, que vemos como um pagamento antecipado) e 13% em 2024, achamos que há um potencial limitado no preço atual das ações”, afirmam.
É possível estimar alguma impacto com a mudança?
Também em relatório, o Goldman Sachs entende que a política não inclui uma referência (benchmark) específica para os preços, o que impede o banco de fazer uma estimativa do impacto da mudança nos resultados financeiros da Petrobras. O banco, assim, manteve a recomendação neutra da Petrobras.
Contudo, o banco disse que a nova política de preços procura manter o mercado em equilíbrio, seguindo algumas orientações aprovadas pelo conselho anterior, em julho de 2022.
Com segmentos mais dependentes de importação em equilíbrio (como o norte do país), o banco acredita que devem ocorrer mudanças limitadas na dinâmica de preços nestes segmentos. Já nos segmentos de mercado mais dependente da Petrobras (como o sul do país), a empresa deve ter mais flexibilidade para mudar os preços se necessário.
Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, destacou que a decisão não surpreendeu.
“Nenhuma novidade em relação ao nosso cenário base, que previa alteração da PPI em maio e continuidade da precificação lastreada em referências externas, aliada à questões regionais. A Petrobras segue com uma política de mercado e entendemos que a reação deve ser positiva, uma vez que havia muita desconfiança pairando sobre esse anúncio”, afirma.
A recomendação da casa é de compra, com preço-alvo de R$ 34,50.
Por que as ações da Petrobras subiram hoje?
O comunicado da Petrobras sobre a nova política de preços foi o assunto do dia no mercado. As ações fecharam em forte alta. Especialistas temiam intervenção do governo federal, avaliação que em tese, com a decisão da empresa, poderia levar os papéis ladeira abaixo – mas não foi o que ocorreu. Qual o motivo?
A Petrobras (PETR4 ganhou 2,24%, e PETR4, +2,49%) foi a surpresa positiva da sessão entre as ações de maior peso e liquidez na B3, com a reação favorável do mercado à mudança na política de precificação dos combustíveis. Apesar da quebra de frequência em relação à referência externa, o desdobramento foi interpretado pelo lado positivo, de que contribuirá para a redução da volatilidade nos preços domésticos. “O mercado talvez estivesse se preparando para receber algo pior do que veio”, diz Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos da Alphatree Capital.
“A mudança na política de preços da Petrobras já era algo dado, mas não se sabia qual seria o novo modelo a ser adotado. Já se sabia do abandono da política de paridade internacional. O que se propõe agora é que a Petrobras seja competitiva, mas, ao mesmo tempo, que os preços sejam bons para os compradores, os refinadores e distribuidores de combustíveis. A queda para os preços pode não ser tão relevante, porque não há um abandono do preço externo, mas sim uma abordagem mais subjetiva, que pretende ser criteriosa para a formação de preços ainda que sem frequência específica, evitando altas repentinas como no início da guerra Rússia-Ucrânia”, diz Paulo Luives, economista da Valor Investimentos.
“Há espaço no preço do petróleo que favorece esse corte de preços dos combustíveis no Brasil, em conjunto com a apreciação do real, da taxa de câmbio, nessas últimas semanas. Mas a nova regra para os preços da Petrobras precisa ser melhor compreendida, especialmente em contexto de eventual forte depreciação do câmbio ou de repique nos preços do petróleo no mercado internacional”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, referindo-se à possibilidade, em conjunturas externas menos propícias, de “internalização de prejuízos”, prejudicando a saúde financeira da Petrobras.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse nesta terça-feira, 16, à CNN, que a nova política de preços da companhia não vai se afastar dos preços internacionais, mas dará maior flexibilidade para administrar as altas e baixas da gasolina e do diesel, reduzindo a volatilidade no mercado interno.
“Quando subir (o preço do petróleo), o nosso preço vai subir, mas não com a volatilidade que ocorreu em 2021 e 2022”, disse o executivo, referindo-se ao governo Bolsonaro, que manteve a política de paridade de preços de importação (PPI), implantada em 2016, durante o governo Temer.
Qual será a nova estratégia de preços da Petrobras?
O sistema anterior levava em conta os preços do petróleo no mercado internacional, enquanto o novo modelo vai levar em consideração também o mercado interno.
Com a mudança na política de preços dos combustíveis, a Petrobras (PETR4) acredita que terá mais flexibilidade para praticar preços competitivos.
Conforme comunicado divulgado pela empresa na manhã de hoje, a estratégia usa referências de mercado como:
- custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação;
- custo marginal
A estatal explica que o custo alternativo do cliente contempla as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos.
O valor marginal para a Petrobras, por sua vez, é baseado no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia dentre elas, produção, importação e exportação do referido produto e dos petróleos utilizados no refino.
Qual será a periodicidade dos reajustes de preço dos combustíveis?
Os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, assim, a Petrobras pode evitar repassar para os preços internos a volatilidade internacional.
“A estratégia comercial tem como premissa preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes. Essa estratégia permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável”, aponta a Petrobras no comunicado.
Como estão as ações PETR4?
Após a notícia, as ações PETR4 subiram durante a abertura de mercado desta terça (16). Os papéis chegaram a registrar cerca de 5% de valorização no intradia.
Por volta das 11h30, sobem 3,1%, cotadas na casa dos R$ 26 por papel.
Cotação PETR4
O que disse o presidente da Petrobras?
Também nesta terça (16) o presidente da estatal, Jean Paul Prates, se reuniu com jornalistas para falar sobre a decisão.
Segundo o CEO da Petrobras, a medida serve para “garantir menos volatilidade” e “garantir um filtro para amortecer preços”.
Prates também disse que a decisão “não é uma volta ao passado” e que não há nenhuma intervenção direta do governo na empresa.
“Com essa estratégia comercial, a Petrobras vai ser mais eficiente e competitiva, atuando com mais flexibilidade para disputar mercados com seus concorrentes. Vamos continuar seguindo as referências de mercado, sem abdicar das vantagens competitivas de ser uma empresa com grande capacidade de produção e estrutura de escoamento e transporte em todo o país”, disse.
O mercado já esperava esta mudança?
No último domingo, a Petrobras havia confirmado, em comunicado publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que faria discussões internas para fazer mudanças na política de preços da companhia.
Essa divulgação veio após o CEO Jean Paul Prates ter afirmado na sexta anterior que a companhia iria “reavaliar” o preço dos combustíveis nesta semana.
“O critério dos preços da Petrobras vai ser de estabilidade versus volatilidade. Não precisamos voltar ao tempo em que não houve nenhum reajuste, como em 2006 e 2007, mas também não precisamos voltar à maratona de 118 reajustes no ano em um único combustível, como em 2017, o que levou à greve dos caminhoneiros”, disse durante entrevista coletiva sobre os resultados na empresa, que lucrou R$ 38,1 bilhões, como mostrou o Estadão na ocasião.
Com Estadão Conteúdo