O avanço das pessoas físicas na Bolsa de Valores vai continuar?

Mesmo em meio à alta volatilidade na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o número de pessoas físicas que aderiram ao investimento em renda variável cresceu exponencialmente em 2020.

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No fim de 2019, segundo informações da B3 (B3SA3), a Bolsa de Valores brasileira possuía 1.681.033 investidores pessoa física. Em novembro deste ano, o número era de 3.173.411, quase o dobro.

O movimento demonstra uma quebra de paradigma entre a população brasileira, que viu alguns de seus dogmas mais tradicionais, como a caderneta de poupança, passar a ser questionada, assim como outros investimentos em renda fixa.

Entretanto, embora o movimento tenha fundamentos enraizados na nova geração de investidores, também se explica por aspectos conjunturais do País.

A pergunta que fica é: o avanço das pessoas físicas na B3 continuará em 2021 ou é fogo de palha?

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O que explica a adesão à Bolsa de Valores

Em primeiro lugar, é necessário explicar o que provocou a adesão à Bolsa de Valores no Brasil.

Esse processo teve início em 2016, quando 564.024 CPFs estavam cadastrados na B3. Esse foi um ano importante, pois marcou o começo de um processo de cortes da Selic. Naquele ano, a taxa de juros no Brasil, que estava em 14,25%, passou para 14%.

Em menos de dois anos, a taxa já estava em 6%. Essa sequência de cortes, utilizada para retomar o crescimento da economia depois do período de recessão entre 2015 e 2016, também fez com que os investimentos em renda fixa se tornassem menos atrativos.

Tradicionalmente, o Brasil sempre foi o país do rentismo — o que também ajudou o dólar a se manter em patamares baixos durante parte das últimas duas décadas –, esse isso passou a ser questionado nos últimos anos.

Com o fim do alto retorno e baixo risco dos títulos públicos, os investidores foram à procura de novos investimentos que pudessem remunerar seu capital de forma satisfatória.

Selic e Taxa de Juros de Longo Prazo desde 2008. Fonte/Reprodução: Goldman Sachs

Atualmente, com a Selic na mínima histórica de 2%, o retorno médio anual do Ibovespa nos últimos 20 anos, de 10,6% (segundo dados históricos da B3), chama atenção dos investidores brasileiros.

Outro aspecto importante nesse processo é a ascensão da disseminação de informações e alcance da internet à maior parte da população.

Hoje, diversas corretoras de valores, casas de análise de investimentos, como a SUNO Research, além de influenciadores digitais sobre finanças, bombardeiam os usuários acerca do assunto.

O SUNO Notícias conversou com diferentes especialistas sobre as expectativas para 2021. Confira!

Crescimento da Bolsa de Valores no Brasil pode ser permanente, diz especialista

Segundo André Massaro, planejador financeiro, especializado em finanças, investimentos e economia, o crescimento da Bolsa de Valores no Brasil pode ser um processo permanente, dependendo que ocorrer com a renda fixa

“Se a atratividade da renda fixa continuar em baixa, este movimento pode se tornar permanente. Em economias desenvolvidas, onde a Bolsa é mais popular, o mercado de renda variável é grande porque a renda fixa é ruim”.

Para Massaro, se a Selic voltar a subir, e a renda fixa se tornar novamente atrativa, “com certeza os investidores voltarão aos investimentos mais rentáveis”.

Além da taxa de juros, outro fator que vai influenciar a presença da pessoa física na bolsa é o endividamento da população. Isso porque a população brasileira é muito endividada, e possui dívidas caras, como cheque especial e cartão de crédito“.

“A maior parte dos brasileiros não só não tem dinheiro guardado, como fazem dívidas. Ou seja, possuem um patrimônio negativo”, diz o especialista.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em 1º de dezembro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias brasileiras envididadas chegou a 66% em novembro.

O cartão de crédito é o principal fator de endividamento, aparecendo em 77,8% das respostas dessas famílias.

Para Massaro, essa é a maior limitação para que o número de investidores brasileiros continue crescendo.

Brasil deve tirar a diferença dos pares em número de investidores

Para Murilo Breder, analista de renda variável da corretora Easynvest, o número de investidores em bolsa de valores deve continuar crescendo no Brasil, já que a Selic deve ir a até 3%, no máximo, em 2021.

O analista cita que o Brasil ainda é defasado em relação aos seus pares, como a Colômbia, onde 3% da população investe. Para ele, os investidores têm chegado à Bolsa de valores com “maior arsenal de informações e maior suporte” do que antigamente.

“Os influenciadores digitais, por exemplo, têm ajudado mais do que atrapalhado, fazendo um trabalho inicial muito bom, sobretudo na educação financeira.”

Com o advento das informações e o acesso ao mercado de capitais, o analista prevê um longo caminho pela frente. Mas acredita “que logo devemos chegar a 5 milhões ou 10 milhões de investidores no Brasil, estando mais próximo da realidade norte-americana do que do rentismo“.

Nesse sentido, Breder recomenda que os novos investidores sigam as estratégias dos melhores investidores de todos os tempos.

“Não há uma receita de bolo pronta. Mas o que há em comum é: uma carteira de ações lucrativa e diversificada pensando no longo prazo, como fizeram Warren Buffett e Peter Lynch, por exemplo.”

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Nova geração tem mais interesse pela Bolsa de Valores

As pessoas estão cada vez mais interessadas em aprender sobre o mercado de renda variável, segundo Fernando Rodrigues da Silva, professor de Extensão Universitária nos cursos de Educação Financeira do Senac.

Ele conta que tem recebido dos alunos diversas perguntas sobre a bolsa de valores. Silva acredita que a menor atratividade da renda fixa e o aumento de informações disponíveis explicam o movimento visto nos últimos anos.

No entanto, ele destaca que os investidores devem buscar fontes confiáveis de informação e estudar os conceitos básicos dos investimentos antes de colocar em risco seu patrimônio.

Silva, no entanto, relembra que nossa realidade ainda está muito distante da norte-americana. Questões a serem resolvidas, como a grande desigualdade social e de educação financeira, devem estar na pauta para os próximos anos.

Segundo dados da B3, o desequilíbrio da participação de investidores ao redor do Brasil também chama atenção. Cerca de 70% das pessoas físicas na Bolsa de valores estão concentradas em apenas três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A população desses estados, no entanto, corresponde a aproximadamente 39% da população do País.

Ele enxerga um longo caminho pela frente, mas se mantém otimista. “A possibilidade que a Bolsa de Valores oferece à pessoa física de se tornar sócia de grandes empresas, e participar do sucesso delas, é um atrativo que por si só pode incentivar muitas pessoas a não mais abrir mão desse mercado.”

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Jader Lazarini

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