Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, faleceu nesta quinta-feira (29), aos 82 anos, em decorrência de um câncer de intestino. Em setembro de 2021, o maior jogador da história do futebol foi diagnosticado com câncer no cólon, apresentando tumores no intestino, fígado e no pulmão.
Pelé deu entrada no hospital Albert Einstein, em 29 de novembro, para fazer uma reavaliação do câncer no cólon. Ele também chegou a ser diagnosticado com infecção respiratória, na ocasião. Além disso, recentemente, a quimioterapia não apresentava mais respostas no quadro clínico do ex-jogador.
Antes de morrer, Pelé teve diagnóstico de câncer no cólon
Em setembro de 2021, ao realizar exames de rotina, Pelé descobriu um tumor no cólon, na região do intestino grosso. Com o diagnóstico, a equipe médica do ex-jogador decidiu submetê-lo a uma cirurgia para a retirada.
Ele chegou a ficar internado, mas foi liberado após o procedimento. Depois desse episódio, o ídolo do futebol teria iniciado o tratamento de quimioterapia no hospital Albert Einstein. Em dezembro do mesmo ano, chegou a ser hospitalizado, mas foi liberado novamente.
Antes do diagnóstico de câncer, Pelé já havia passado por cirurgias no quadril, o dificultando principalmente sua locomoção. Além disso, enfrentou problemas no trato urinário. Sem o rim direito, que foi retirado nos anos 1970 quando jogava pelos Cosmos, Pelé passou por hospitalizações devido a cálculos renais e infecções urinárias.
Pelé, maior ídolo da história do futebol
Nascido em 23 de outubro de 1940, em Três Corações (MG), Edson recebeu o apelido “Pelé” quando ainda era criança, em homenagem ao seu jogador favorito, o goleiro Bilé do Vasco da Gama de São Lourenço de Minas Gerais.
“Meu nome verdadeiro é Edson. Eu não inventei Pelé. Eu não queria esse nome. Pelé soa infantil em português. Edson é mais como Thomas Edison, o homem que inventou a lâmpada”, afirmou o jogador em sua biografia.
Ainda na infância, o ex-jogador se mudou para Bauru (SP) e foi lá que iniciou a sua carreira no futebol. Em 1954, no Bauru Atlético Clube, estrou na segunda divisão infanto-juvenil do Campeonato Paulista. Após receber propostas de times como Bangu e Noroeste, em 1956, o jovem aceitou ir para o Santos Futebol Clube.
No ano seguinte, Pelé era titular do time e artilheiro do Campeonato Paulista, tendo marcado 36 gols na temporada. Maior artilheiro do Santos, teve destaque ao ajudar o time a ser campeão de duas Libertadores da América e dois Mundiais Interclubes, respectivamente em 1962 e 1963. Ainda no clube santista, Pelé marcou seu milésimo gol em 1969 em um jogo numa cobrança de pênalti contra o Vaso, no estádio do Maracanã.
Em 1972, despediu-se do Santos e aceitou a proposta de jogar no New York Cosmos, nos Estados Unidos, com o objetivo de promover o esporte no país. Cinco anos depois, em 1977, numa disputa contra o Santos, Pelé encerrou a sua carreira como jogador profissional. Em 1981, ele se despediu de vez dos gramados ao um jogo entre a seleção brasileira e uma seleção composta pelos melhores jogadores do mundo.
Tricampeão em quatro Copas do Mundo
Além do destaque no Santos, Pelé brilhou na seleção brasileira — sendo, inclusive, o jogador mais novo a vencer uma Copa do Mundo, aos 17 anos. Além disso, fez parte da chamada “Era de Ouro da Seleção Brasileira”, entre 1958 a 1970.
No período, Edson Arantes do Nascimento, junto com outras estrelas, como Nílton Santos, Didi, Zagallo, Vavá e Garrincha, conquistou três títulos em quatro Copas. O último jogo de Pelé com a seleção brasileira aconteceu em 1971, contra a Iugoslávia no estádio do Maracanã. Ao todo, foram 95 gols — marca que ainda faz de Pelé o maior artilheiro da seleção brasileira.
Porém, o sucesso de Pelé não se deve apenas à seleção. Foi pelo Santos que ele marcou a maior parte dos seus 1281 gols (em 1363 jogos), que o transformaram no maior goleador da história do futebol mundial. O tipo de feito que fez com que o público o tratasse de uma forma especial.
“O Pelé foi o único jogador, pelo menos que eu saiba, que fazia uma boa jogada contra um time, ou um gol de placa, e a torcida adversária aplaudia, às vezes, de pé”, diz Helal.
E um destes gols mobilizou a atenção do público de forma especial, o de número mil, alcançado no dia 19 de novembro de 1969 em vitória de 2 a 1 do Santos sobre o Vasco no estádio do Maracanã. Pelé tinha apenas 29 anos ao alcançar esta marca.
A morte de Pelé foi lamentada pelos jogadores que brilharam na última edição da Copa do Mundo, que chegou ao final há pouco mais de uma semana no Catar. “Diria que, antes de Pelé, o futebol era apenas um esporte. Pelé mudou tudo. Transformou o futebol em arte, em entretenimento”, afirmou o atacante Neymar, nesta quinta-feira (29), em publicação em seu perfil em uma rede social.
Tantos feitos levam à pergunta, como um menino comum, nascido em Minas, se transformou no rei do futebol? “O destaque na história do futebol vem de seu talento e sua técnica, por ter sido o único a fazer excepcionalmente bem, dentro de campo, tudo o que um jogador de futebol pode fazer. Selecione um atributo, e Pelé foi um dos melhores”, afirma Saturnino.
O ex-jogador Pepe, companheiro de Santos e da seleção do eterno camisa 10, defende que um jogador com estas características surge apenas uma vez na história.
“No futebol atual têm aparecido grandes jogadores. Porém, igual a Pelé não aparece. Completo, perna direita, perna esquerda, impulsão, chute, cabeceio, corrida, gols, maior artilheiro do futebol mundial de todos os tempos. Penso que seu Dondinho e dona Celeste rasgaram a fórmula e não aparece mais um jogador igual a Pelé”.
Rei desde jovem
A qualidade de Pelé era tamanha que a ideia de que ele era o rei do futebol surgiu antes mesmo da conquista de um título de expressão pela seleção. Jovem ainda, aos 17 anos, meses antes da disputa da Copa de 1958, o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues se referiu ao jogador em uma crônica sobre o jogo entre América e Santos, em mar4ço de 1958.
“O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: – a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento.”
A coroação definitiva veio com a conquista dos títulos das Copas do Mundo. “Em 1957, o futebol brasileiro estava por baixo, com a derrota para a seleção uruguaia em 1950, a apenas regular participação na Copa de 1954, os resultados fracos durante uma excursão à Europa em 1956 e o fraco desempenho no Campeonato Sul-Americano de 1957. E surge Pelé, com 17 anos”, relembra o pesquisador Rodrigo Saturnino.
“Com Pelé e Garrincha, a seleção nunca perdeu. Foram três títulos mundiais em quatro Copas. Pelé foi o principal responsável por esse desempenho. A identificação da seleção com o povo brasileiro atingiu seu ponto máximo. Pelé se transformou na face do Brasil bem sucedido, o brasileiro mais reconhecido da história, em todo o mundo”, afirma Saturnino, pesquisador do Grupo Literatura e Memória do Futebol (Memofut).
O sociólogo e professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) Ronaldo Helal afirma que Pelé foi fundamental para a seleção acabar com a história de que teria um complexo de vira-latas (expressão de Nelson Rodrigues) que a impediria de conquistar títulos.
“Em 1958, o Brasil ganha a Copa do Mundo, e Pelé foi marcante, se tornando o rei do futebol com 17 anos de idade.”
Políticos fazem homenagens; Lula diz que Pelé levou nome do país longe
Diversos políticos brasileiros prestaram homenagens a Pelé, por meio de suas redes sociais, após a notícia da morte do Rei do Futebol ocorrida hoje (29), aos 82 anos. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que tomará posse no próximo domingo (1º), enalteceu o jogador em uma série de quatro postagens.
“Poucos brasileiros levaram o nome do nosso país tão longe feito ele. Por mais diferente do português que fosse o idioma, os estrangeiros dos quatros cantos do planeta logo davam um jeito de pronunciar a palavra mágica: ‘Pelé'”, escreveu em uma delas.
Lula disse que teve o privilégio que brasileiros mais jovens não tiveram: ver Pelé ao vivo no estádio, tanto no Pacaembu como no Maracanã. E brincou que o jogador lhe fazia raiva quando enfrentava o Corinthians.
O presidente eleito também manifestou sua admiração e lembrou outros atletas que já morreram. “Foi fazer tabelinha no céu com Coutinho, seu grande parceiro no Santos. Tem agora a companhia de tantos craques eternos: Didi, Garrincha, Nilton Santos, Sócrates, Maradona. Deixou uma certeza: nunca houve um camisa 10 como ele. Obrigado, Pelé”, concluiu.
A reverência ao atleta mobilizou outras lideranças da política brasileira. O presidente do Congresso e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), afirmou que ele “foi mais magistral jogador de futebol que o mundo viu nos gramados e que elevou o nome do Brasil por onde passou”. Destacou ainda que ele “interrompeu guerras e conflitos com a bola nos pés e a mensagem da paz”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), disse que o jogador dignificou o Brasil e seu povo e que “o homem Pelé nos deixa, mas que o eterno Pelé viverá para sempre”.
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, publicou nota em nome da Corte prestando homenagem. Ela classificou o jogador como “um artista da bola, que encantou gerações e gerações com seu talento”. Ela desejou conforto aos familiares e amigos e afirmou que Pelé continuará sendo referência mundial.
O presidente Jair Bolsonaro não se manifestou por meio de suas redes, mas o governo federal publicou uma nota. “Pelé, o Rei do Futebol, foi um dos maiores atletas de todos os tempos. O único tricampeão mundial demonstrou por suas ações que, além de grande atleta, foi também um grande cidadão e patriota, elevando o nome do Brasil por onde passou. O presidente da República, Jair Bolsonaro, roga a Deus que o receba em Seus braços e dê força e fé a toda a sua família e amigos para superar esse difícil momento”.
O governador eleito de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou que Pelé reinou como o maior de todos os tempos. “Está eternizado nas minha melhores lembranças e na camisa autografada que eu tive a honra de receber. Descanse em paz”.
Indicada para assumir o Ministério do Esporte no próximo governo, a ex-jogadora de vôlei e medalhista olímpica Ana Moser lembrou que Pelé foi o primeiro a comandar a pasta, criada em 1995 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ela manifestou sua tristeza, acrescentando que fica sua admiração e respeito. Segundo Ana Moser, Pelé representou a qualidade e a força do povo brasileiro. “Quis o destino que no mesmo dia em que fui anunciada para o Ministério do Esporte, cadeira que primeiramente foi dele, há 24 anos, Pelé nos deixa”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também prestou suas homenagens. “Além de ter sido consagrado como uma lenda do esporte mundial, Pelé foi homem público exemplar, leal a seus princípios, valores e ao nosso país. Perdemos todos com sua partida”, escreveu, acrescentando que o atleta é motivo de orgulho e símbolo incontestável da nação.
A prefeitura de Santos, cidade do clube em que o jogador se consagrou, decretou luto oficial de três dias. “Pelé, você é eterno e sua história de amor com a cidade vai continuar! Santos será eternamente grata a essa figura incomparável, que proporcionou tantas alegrias em campo! Descanse em paz, Sua Majestade”, publicou o perfil oficial do município ao anunciar a medida.
Velório será realizado na Vila Belmiro
O Santos informou no início da noite desta quinta-feira (29) que o velório aberto ao público de Pelé será realizado no Estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro, a partir das 10h (horário de Brasília) da próxima segunda-feira (2).
“O corpo seguirá do Hospital Albert Einstein direto para o estádio na madrugada de segunda-feira (2) e o caixão será posicionado no centro do gramado”, diz a nota do Peixe. Segundo o Santos, o acesso de populares ao velório será feito pelos portões 2 e 3, enquanto as autoridades terão acesso pelo portão 10.
A cerimônia seguirá até as 10h de terça-feira (3), quando será realizado o cortejo pelas ruas de Santos, que passará pelo Canal 6, onde mora a mãe de Pelé, dona Celeste, seguindo até a Memorial Necrópole Ecumênica, para o sepultamento reservado aos familiares.
Com Agência Brasil