O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira (7) os dados de criação de emprego do país, conhecido como payroll.
No total, foram 199 mil empregos em dezembro, em termos líquidos. O mercado aguardava um resultado bem mais alto, com geração de 422 mil vagas, de acordo com o The Wall Street Journal.
Por outro lado, a taxa de desemprego dos EUA recuou de 4,2% em novembro para 3,9% em dezembro, ficando abaixo do consenso do mercado, de 4,1%. Além disso, o Departamento do Trabalho revisou para cima os números de geração de postos de trabalho de novembro, de 210 mil para 249 mil, e também de outubro, de 546 mil para 648 mil.
De acordo com os dados do payroll, o salário médio por hora aumentou 0,61% em relação a novembro, ou US$ 0,19, a US$ 31,31, superando o consenso de alta de 0,40%. Na comparação anual, houve acréscimo salarial de 4,68% no último mês, acima da projeção de 4,20%.
Payroll reforça falas hawkish do Federal Reserve
Os dados do Payroll, que influenciam diretamente as decisões de política monetária do Fed, vieram mistos, segundo analistas. Enquanto a criação de vagas veio menor do que a esperada, os salários avançaram, o que corrobora com o aquecimento da economia e da inflação e o plano de voo da política monetária do Fed, acrescentam.
Para o Credit Suisse, o relatório mostra mais progresso para o pleno emprego, o que apoia a guinada “hawkish” do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
“Nós continuamos a esperar uma elevação de juros em junho e um ritmo de altas trimestrais até pelo menos o fim de 2023″, diz o banco.
O Citi agora aposta em quatro altas de juros ao longo de 2022, a primeira delas em março. Antes, o banco projetava três elevações, a primeira apenas em junho.
“Tudo que está acontecendo nos mercados esta semana tem a ver com as expectativas de quão rápido o Fed vai endurecer a política”, afirma Fahad Kamal, diretor de investimentos da Kleinwort Hambros.
“Entendemos que este resultado negativo do payroll não deve reverter a discussão de aperto monetário (elevação da taxa de juros) antecipadamente e de maneira mais célere, com 75% de probabilidade da primeira alta em março e seguimos com cenário de quatro elevações em 2022″, resumiu a equipe de análise o BTG Pactual.
“Embora o dado de geração tenha ficado baixo, a taxa de desemprego veio melhor do que as estimativas, caminhando para o pleno emprego”, concorda André Rolha, líder de Renda Fixa e Produtos de Câmbio da Venice Investimentos. “Não deve alterar a postura hawkish do Fed, mantendo a política monetária com duas altas de juros já previstas para 2022 com início em março”, complementa, seguindo o tom da percepção do mercado.
“Infelizmente, por ora, os dados não mudam a ideia do Fed. E se os juros sobem por lá, basicamente há migração de recursos daqui para os EUA”, avalia Carlos Duarte, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Presidente do Fed em São Francisco: “Correr para uma conclusão pode ser arriscado”
A Presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de São Francisco, Mary Daly comentou que a espiral de alta nos salários nos EUA é algo a se ter em mente, mas que ainda não a vê presente de maneira consistente nos dados. De acordo com Daly, a estabilidade das expectativas para inflação no longo prazo atenua as preocupações. A dirigente não vota nas decisões monetárias deste ano.
Segundo a consultoria britânica Capital Economics, a criação fraca de empregos e o aumento nulo na participação da força de trabalho em dezembro nos EUA sugerem que a escassez de trabalhadores afetou ainda mais a abertura de vagas. A avaliação lembra que a diminuição veio antes do surto da variante Ômicron.
A consultoria afirma que o Fed deve atentar para o fato de que a taxa de desemprego abaixo de 4% deve sustentar mais ganhos salariais ao longo de 2022. A expectativa aponta que o mercado de trabalho americano apresenta poucos sinais de que a oferta se recuperará em breve. Portanto, a Capital projeta que o Fed deve focar suas decisões na pressão de alta sobre os salários, que em dezembro subiram acima do previsto.
Daly afirmou que há muita incerteza no cenário econômico nos EUA, mas ponderou. “Correr para uma conclusão pode ser muito debilitante”, disse nesta sexta, em evento online da Associação Americana de Economia. A avaliação da dirigente é de que a comunicação do Fed tem sido “razoavelmente boa”. “Acho que não muitas pessoas previram que poderíamos acelerar o tapering“, ponderou.
A dirigente afirmou ainda que a alta na inflação não é temporária nos EUA porque a Covid-19 também não é temporária, como foi pensado a princípio.
Durante o dia, os juros dos Treasuries reagiram com forte alta aos dados do payroll. Além disso, as apostas na trajetória da política monetária do Fed monitoradas pelo CME Group passaram a mostrar maior chance de uma elevação de juros em março no país.
Outra avaliação, feita pelo BMO, banco de investimentos, mostra que não há nada nos dados do payroll de hoje que possa dissuadir o Fed em relação aos planos para elevar os juros e reduzir o programa de relaxamento quantitativo.
(Com informações do Estadão Conteúdo)