Paulo Guedes: mercado do crédito será “desestatizado”
O ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que o governo “desestatizará o mercado de crédito”.
A afirmação de Paulo Guedes foi realizada durante um discurso na cerimônia de posse, em Brasília. Durante toda sua fala, o novo ministro da Economia salientou a importância de uma guinada liberal para o Brasil após décadas de gestão econômica social-democrática e petista. Além disso, o ministro criticou a política de concessão de crédito praticada por bancos públicos até 2015.
“Os bancos se perderam nos grandes programas em que piratas privados,
burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o
povo brasileiro”, afirmou Guedes. Segundo o ministro, o aumento das despesas públicas e a centralização do poder do estatal levara à corrupção e ao baixo crescimento econômico dos últimos anos.
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Guedes questionou a real necessidade de haver crédito público. Entretanto, o ministro apontou que, dada a realidade de que o Brasil dispõe
dessas instituições, elas deveriam priorizar o financiamento para pequenas e médias empresas, deixando as grandes companhias buscarem o mercado privado.
BNDES terá que devolver o dinheiro
O ministro apontou que pretende retomar todos os recursos que o Tesouro emprestou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para Guedes, essa política expulsou investimentos e premiou rentistas. Eu acho que não há motivo nenhum para dúvidas, angústias, incertezas a respeito de alguma coisa”, afirmou Guedes.
“No BNDES, queremos o dinheiro da União de volta. Queremos despedalar. queremos os quinhentos e tantos bilhões de volta. R$ 300 bilhões já voltaram, só faltam R$ 200 bilhões”, disse Guedes, “Por uma razão muito simples. São dois mercados diferentes. O livre, com juros lá em cima, e o crédito dos amigos. Na hora em que você emite dívida, empurra o juro pra cima e dá credito do lado de lá, você está expulsando os investimentos privados e premiando os rentistas. Devolve o dinheiro, BNDES, encolhe um pouco seu balanço”.
O BNDES já tem um cronograma de devolução para a União estabelecido durante a gestão do presidente Michel Temer.
Entretanto, a intenção da nova equipe econômica é acelerar esse processo, o que levaria a uma redução do poderio do banco estatal e a um recuo da dívida pública, que hoje é uma das preocupações centrais do novo time que dirige a economia brasileira.
Mais concorrência na economia
Guedes criticou o fato de haver pouca competição no Brasil, tanto no sistema bancário como em outros setores, como de empreiteiras. “Tudo no Brasil é meia dúzia”, afirmou o ministro.
Guedes também anunciou medidas em outras áreas, como desburocratização e desregulamentação, além de simplificações. O ministro citou como exemplo iniciativas de simplificação que têm efeitos concretos para a população. Entre elas, a ideia defendida pelo presidente Jair Bolsonaro de aumentar de cinco para dez anos o prazo de validade das carteiras de habilitação.
Mas o ponto central do discurso do ministro foi na necessidade de se avançar de forma decisiva na agenda do ajuste fiscal. Por isso, Guedes defendeu o teto de gastos, ressaltando, porém, que ele precisa de sustentação. No caso, a realização de reformas – em primeiro lugar a da Previdência, que, na visão dele, vai garantir dez anos de crescimento para o país.
“Teto, sem paredes de sustentação, cai”, afirmou o ministro, que também defendeu separar a parte de assistência social da de Previdência propriamente dita. Para ele, se essa reforma não avançar, será necessária fazer uma mudança na Constituição desvinculando e desindexando todas as receitas e despesas, para viabilizar o ajuste.
Guedes afirmou que a agenda fiscal não envolve cortes drásticos de despesas. Entretanto, tudo depende da reforma da Previdência e também de um controle do crescimento dos demais gastos em termos nominais.
O ministro lembrou que, durante quatro décadas, a despesa subiu de forma ininterrupta. Por isso, segundo ele, o Brasil experimentou todas as disfunções financeiras.
Agora, o País estaria respirando. Mas seria uma falsa tranquilidade, decorrente da estagnação da economia. Já que o problema fiscal não está definitivamente resolvido.
Para o ministro, graças ao programa de privatizações e ao controle nominal de despesas, o País poderia voltar a crescer entre 3% e 3,5% ao ano. Nesse caso, em dois anos a crise fiscal estaria resolvida.
Segundo o ministro da Economia, o ideal seria o Brasil ter uma carga tributária de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), o que só será possível com uma redução das despesas ao longo do tempo. Entretanto, Paulo Guedes não indicou prazos para esse objetivo.