Com o aumento expressivo e trágico de casos da Covid-19 nos primeiros dois meses de 2022, parte do mercado internacional amargou quedas generalizadas. Segundo especialistas, o cenário drástico da nova onda da Ômicron não deve ser tão nocivo para a economia.
“Não devemos ter oscilações no mercado financeiro semelhantes às de 2020”, afirma o Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. Para o especialista, apesar de o cenário não servir de driver de longo prazo para companhias aéreas ou do setor de turismo, ainda há um risco maior associado à pandemia – mas o abalo vem dos dois anos anteriores.
“No caso das aéreas, as empresas sofrem mais por causa da alta do dólar e do cenário de juros nos EUA. E há o recuo da taxa de ocupação. O setor depende muito de crédito, o que pode impactar ações. A Ômicron, no mercado internacional, já foi digerida, passou; o que manda agora é a inflação com a expansão monetária feita em resposta à Covid-19″, analisa.
Acumulado de queda em ações de aéreas e de turismo nos últimos seis meses:
A tese é de que as aéreas da bolsa brasileira, como outras companhias, estão descontadas, mas ainda não se destacam. Isso porque o cenário de política monetária adotado para conter a pandemia alterou o panorama de juros e câmbio, dois fatores de relevância para as empresas do segmento.
Em suma, o dólar alto pressiona muito as demandas de companhias aéreas, diminuindo o interesse de viagens ao exterior. Além disso, a alavancagem sofre com o câmbio e com o cenário de crédito e custo de capital elevados.
Dentro do mesmo cenário, a alta do petróleo, em função das tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia, impacta diretamente a querosene de aviação – o combustível das aeronaves e, de longe, um dos principais insumos.
Ômicron pressiona o ambiente internacional
Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, acredita que o impacto direto da Ômicron deve se traduzir já neste primeiro trimestre de 2022, considerando uma alta da infecção de funcionários.
“Isso nos causa preocupação porque existe o contágio de funcionários. As empresas estavam recuperando clientes e passageiros, afetando a parte financeira, e voltam a ter problemas na operação”, afirma.
Ainda na primeira semana de janeiro, a Azul (AZUL4) já sentiu os impactos da alta de casos de Covid-19 e de H3N2, variante do vírus da influenza A, em seus voos, e emitiu um comunicado sobre o tema aos seus funcionários. Questionada pelo Suno Notícias, a aérea confirmou que o comunicado interno foi enviado.
“Nos últimos dias, começamos a ser afetados por um alto número de dispensas médicas, tanto no grupo de voo quanto em nossos times de solo. Por esse motivo, nossos próximos dias serão mais desafiadores”, diz o trecho do documento enviado aos funcionários da Azul e obtido originalmente pelo G1.
O comunicado é da autoria do presidente da empresa, John Rodgerson.
As dispensas vêm ocorrendo em paralelo às medidas sanitárias, que exigem que funcionários com sintomas de gripe fiquem isolados. A cautela por parte da companhia vem em meio a uma alta de casos que se iniciou na Europa, que teve os primeiros lockdowns desta onda, conforme reportado pelo Suno Notícias.
O texto da Azul também destaca que o número alto de dispensas médicas “está afetando diversos setores da economia, não só no Brasil, mas em outros países”.
Além disso, recentemente a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou a companhia, em conjunto com a concorrente Gol (GOLL4) a voarem com menos comissários de bordo nas aeronaves, reduzindo de quatro para três funcionários.
A iniciativa autorizada pela Anac, se adotada, impõe que as companhias diminuam também a capacidade de passageiros em cada voo, para até 150 assentos no caso de aviões com 186 vagas disponíveis. A solução, portanto, pode provocar a reacomodação de passageiros da Azul e da Gol em outros voos.
“Já estávamos discutindo o impacto da mão de obra aérea, pressionada desde o ano passado. Com esses anúncios, a preocupação aumenta. Ano passado houve enxugamento dos quadros: as empresas estavam bem enxutas na mão de obra e na capacidade”, destaca Jacomassi.
Covid-19 avança
Nesta sexta (4) o Brasil registrou, nas últimas 24 horas, 219.298 casos de Covid-19 — mais um recorde na pandemia. Os números são do Consórcio de Veículos de Imprensa (G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL), com dados das secretarias estaduais de saúde. O Brasil teve ainda 1.074 mortes, maior número desde 23 de agosto de 2021.
Com o avanço da Ômicron, o país ultrapassa a marca dos 26,3 milhões de casos registrados de infecções confirmadas desde o início da pandemia.
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