Quando a pandemia de covid vai acabar? Veja o que dizem especialistas
Países como a Inglaterra encerraram quase completamente as restrições devido à covid-19. Dois anos após a declaração da pandemia de covid-19 pela Organização Mundial da Saúde, especialistas já debatem em que termos e condições a emergência sanitária terminaria. No entanto, ainda existem países que registram níveis recordes de infecções – como a China – mesmo com altas taxas de vacinação.
Recentemente, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, disse que a pandemia “está longe de terminar”, alertando que a desaceleração das infecções e mortes deve ser alcançada “em todos os lugares” ou a pandemia não terminará.
Mas mesmo com essas declarações, grande parte dos países do mundo está relaxando suas medidas de proteção e biossegurança com base na diminuição de casos e na eficácia da vacinação.
Além disso, dentro da própria OMS existe um grupo de especialistas que já está avaliando como e quando encerrar essa emergência. “O Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional sobre a covid-19 vem estudando os critérios necessários para declarar encerrada a emergência de saúde pública”, explicou a organização. “No momento, ainda não chegamos a esse ponto”.
No mundo, foram registrados 458.320.227 casos de infecções por SARS-CoV-2 e 6.046.011 óbitos pela doença, segundo dados coletados pela Universidade Johns Hopkins.
Este é o panorama da pandemia na América Latina:
A Bloomberg Línea consultou três especialistas em infectologia e epidemiologia da região para responder a cinco perguntas sobre a pandemia e seu possível fim.
Uma das teorias mais explicadas nas últimas semanas, tanto pela OMS quanto pelas autoridades de saúde de diferentes países, é a possibilidade de que a covid-19 se torne endêmica.
Nesse sentido, Claudia Cortés, médica infectologista e pesquisadora da Universidade do Chile, ressaltou que “endemia” significa casos mantidos ao longo do tempo e que um erro conceitual de muitas pessoas é acreditarem que endemia significa uma doença menos grave. “Endemia significa que se atinge uma espécie de platô no número de casos e eles não diminuem. Provavelmente estamos chegando a uma endemia global e a crise não vai diminuir até que todos, literalmente todos, sejam vacinados”, disse.
Por sua vez, Carlos Álvarez, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia e coordenador nacional de estudos clínicos de Covid-19 perante a OMS, explicou que é evidente que “estamos a caminho de uma endemia, ou seja, vamos passar de uma pandemia em que todos somos suscetíveis nos cinco continentes para uma situação em que haverá um percentual da população que será suscetível ao longo do tempo. Endemia não significa que o vírus não seja mais letal ou pare de circular. Mesmo dentro de uma epidemia endêmica podem surgir picos, como acontece com a dengue”.
Sob esse mesmo questionamento, Percy Mayta-Tristán, Diretor de Pesquisa da Universidade Científica do Sul do Peru, destacou que a transição para uma endemia “é o que todos esperamos”. Ele acrescentou que isso acontecerá quando os picos de contágio sejam cada vez menos letais. “Poderíamos dizer que a covid-19 deixará de ser um problema quando cada nova onda não saturar o sistema de saúde”.
Em linha com a transição para uma endemia, há quem tenha sugerido que a pandemia de SARS-CoV-2 possa acabar por completo, fato que “deve ser visto com cautela”, uma vez que o vírus não acabou, e ele destaca que “isto não é verdade, e os números reais neste momento mostram isso. O fato de termos baixa circulação na Europa e na América não significa que o vírus tenha parado de circular”.
A este mesmo apelo juntou-se o Dr. Mayta-Tristán, que garantiu que as vacinas podem viabilizar o fim da pandemia, mas referiu que “é difícil falar do fim da pandemia a nível global quando ainda há uma forte desigualdade no acesso à vacinação”.
“O fim total da pandemia dado como certo por alguns países, principalmente os europeus, tem a ver com uma análise que não é apenas sanitária, mas também política e econômica. Mas do ponto de vista médico ainda estamos em uma fase que exige cuidados. A pandemia ainda não acabou”, disse a Dr. Cortés.
Como a pandemia vem progredindo hoje?
Os países da América Latina superaram o quarto pico de infecções causadas pela variante ômicron e que teve seu pico mais alto entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022.
O número de novos casos e mortes diárias pelo vírus voltou a cair, em parte devido às medidas de restrição implementadas nos países, bem como as altas taxas de vacinação na maioria dos territórios e as pessoas que foram infectadas e se recuperaram, segundo o Dr. Álvarez.
No caso do Peru, por exemplo, o mais recente pico de infecções também está chegando ao fim, e o número de novos casos e internações está abaixo do início da onda que começou em dezembro, sendo este um passo positivo segundo Mayta-Tristán.
Estamos em uma fase de muita preocupação com a pandemia, e é muito alarmante que as pessoas estejam cansadas e acreditem que já acabou.
Claudia Cortés, médica infectologista e pesquisadora da Universidade do Chile
Mas mesmo com essa notícia epidemiológica, os especialistas em infectologia e epidemiologia consultados pela Bloomberg Línea destacaram a importância da vacinação para diminuir os efeitos da covid-19 na região.
Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, foram aplicadas 10.717.942.433 doses das diferentes vacinas contra o vírus no mundo. Na América do Sul, por exemplo, 790 milhões de pessoas foram vacinadas, e 72% dessa população está com o esquema completo e 11% está parcialmente vacinada, segundo dados do Our World in Data.
Para o Dr. Carlos Álvarez, a eficácia das vacinas é “extrema” e a chegada da variante ômicron provou isso. “Acredito que a eficácia é inquestionável, o impacto da duração a longo prazo é o que ainda não sabemos, além da eficácia contra novas variantes”.
“A vacinação contra a covid-19 é uma das medidas mais eficazes”, disse Cortés, enquanto Mayta-Tristán explicou que o vírus ainda é letal, “mesmo a ômicron, considerada menos grave, causou uma onda com picos de maior letalidade em Hong Kong do que o Peru teve na primeira e segunda ondas. A diferença está na vacinação – Hong Kong tem taxas mais baixas de vacinação com duas doses, e principalmente menor avanço de doses de reforço na população vulnerável”.
É possível haver uma nova onda de contágios?
Especialistas não descartam que a covid-19 cause novos picos de infecções na América Latina, já que, conforme detalhado, o SARS-CoV-2 continua circulando e o relaxamento das medidas de autocuidado pode aumentar o risco de contágio.
Para a médica infectologista e pesquisadora da Universidade do Chile, “há sempre uma nova probabilidade de uma nova vaga de infeções e isso é dado pelas mutações que o vírus possa ter”, como já se vê na Europa, disse. O mesmo argumento foi apresentado pelo diretor de pesquisa da Universidade Científica do Sul do Peru, explicando que “a diferença é que as novas infecções não serão acompanhadas por um volume semelhante de casos graves”.
Por fim, o coordenador colombiano de estudos clínicos de covid-19 da OMS especificou que isso dependerá de quanto tempo durar a imunidade ao vírus, seja por contágio natural, vacinação ou ambos os fatores juntos.
“Se essa imunidade for mantida ao longo do tempo, a possibilidade de uma nova onda diminui, mas o que vimos até agora é que a imunidade à infecção se mantém por seis meses”, concluiu.
–Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.