Apesar do fim à vista da pandemia da Covid-19, com o avanço da vacinação e flexibilização das medidas restritivas, as perspectivas para o setor de farmácias não devem arrefecer. É o que defende Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma, durante evento Pharma Conference da XP Investimentos, que reuniu investidores e os principais nomes do mercado de farmácias e farmacêuticas.
Ao Suno Notícias, Barreto avalia que o setor – que inclui a Blau Farmacêutica (BLAU3), Pague Menos (PGMN3), Raia Drogasil (RADL3) e Hypera (HYPE3) – deve crescer acima de 21% em 2022.
Dados até fevereiro deste ano apontam um crescimento de receita acumulada em 12 meses das farmácias associadas da Abrafarma de 17,02%, a R$ 69,40 bilhões, e alta de 10,51% em novos atendimentos, a R$ 963 milhões. A associação responde por cerca de 45% da movimentação do setor.
Segundo o executivo, há uma janela para que o setor farmacêutico aproveite uma mudança de consciência do consumidor, que sai da pandemia de Covid-19 mais consciente com a saúde – tanto a própria saúde, quanto a de familiares. Para aproveitar essa janela de oportunidade, Barreto defende uma evolução no setor.
“Grande indutor dessa transformação é o profissional que está no balcão das farmácias. É ele quem tem que falar com o paciente: ‘Olhe, por que não comprou remédio no mês passado? Como está seu tratamento? É essa conversa”, disse.
Prova da brecha que se apresenta para o setor é o aumento da procura por medicamentos, em especial para tratamento de doenças crônicas, aquelas que demandam tratamento por períodos prolongados, como hipertensão, diabetes ou asma.
Agora as farmácias buscam manter o crescimento deste setor de medicamentos, que cresceu nos últimos dois anos. Conforme explica Barreto, antes da pandemia de Covid-19, os produtos do setor de Higiene & Beleza eram os que mais cresciam ano a ano.
Hoje, o cenário é diferente, e o grupo que mais cresceu nos últimos dois anos foi o de venda de Medicamentos. Segundo Barreto, o cenário traz oportunidades como reduzir o abandono de tratamentos crônicos e a ruptura das relações com os clientes.
Segundo dados da Abrafarma, 54% dos pacientes brasileiros abandonam o tratamento na metade do caminho, e a média de duração dos tratamentos de doenças crônicas no País é de 6 meses, muito abaixo dos pares internacionais.
Regulamentação ameaça avanços das farmácias ante pandemia da Covid-19
Outro frente que o setor das farmácias busca avançar neste ano é na regulamentação do setor. De acordo com o executivo, o setor de farmácias corre o risco de perder grandes avanços dos últimos dois anos, elaborados em resposta à crise do novo coronavírus, se a regulamentação não acompanhar a dinâmica do mercado.
Entre eles, estão a aplicação de vacinas em farmácias – com potencial de crescer de seis a quinze vezes -, a realização de exames diagnósticos e colocação de aparelhos médicos, destacou.
‘Dados são a moeda do futuro’
O executivo também destacou que o setor deve seguir avançando no mercado de dados. O motivo é combater a quebra de estoque, ou seja, o cumprimento de itens nos pedidos de clientes que as farmácias conseguem atender.
De acordo com o executivo, farmácias pequenas não conseguem atender cerca de 50% dos itens de uma receita por falta do produto em estoque. Este índice cai a 12% nas redes maiores, mas o objetivo é reduzi-lo a 8%.
“Prever estoque pra não faltar é identificar cliente, identificar operação”, defendeu Barreto.
Há 20 anos, a solução para o problema era extrapolar dados de farmácias que atuassem em áreas parecidas, seja pela população atendida ou pelas demandas regionais.
Hoje, com a possibilidade de criar perfis para os clientes, as farmácias conseguem fazer o acompanhamento da trajetória de tratamento do pacientes, especialmente no caso de doenças que demandam tratamento por tempos prolongados, para evitar o abandono do tratamento.