Por que o ouro chegou a seu valor máximo em seis meses

O ouro está passando por um período de forte alta em sua cotação. Tanto que muitos analistas já estão falando em nova “corrida do ouro” ou em “febre do ouro“.

Os contratos futuro do ouro chegaram a superar 1.292 a onça. O valor máximo em seis meses. Segundo os analistas, em breve a cotação poderia chegar entre US $ 1.300 e $ 1.375. Esses seriam os limites de capacidade técnica além dos quais a cotação do metal poderia acelerar ainda mais. Todavia, os especialistas não excluem a possibilidade que o ouro chegue a US$ 1.550 até o final do ano.

Segundo eles, essa forte alta no preço do ouro é indício que 2019 poderia ser um ano de grande instabilidade e volatilidade financeira. Isso levou ao pico do preço do ouro e a febre dos investidores em relação ao metal precioso, considerado um “investimento-refúgio“.

Bancos centrais responsáveis

Mas essa nova “corrida ao ouro” foi gerada também pelas compras dos bancos centrais de vários países do mundo, realizadas nos últimos meses. Além disso, o ouro também se tornou um ativo especulativo, sujeito a flutuações de mercado.

Entre outubro e dezembro, os mercados esperavam uma desaceleração da economia global. Uma consequência da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que derrubou os mercados acionários mundiais. O euro e o dólar se enfraqueceram, o preço do petróleo baixou e os rendimentos dos títulos do governo se reforçaram. Assim o clima tornou-se propício para uma corrida ao ouro.

Isso não somente porque o pico de preços deixou o mineral mais atraente. Mas também porque há algum tempo os bancos centrais estão comprando ouro de forma agressiva. Compras motivadas por várias razões. Mas principalmente para tornar suas reservas mais seguras e para se proteger dos riscos cambiais.

Os dados do World Gold Council mostram claramente essa tendência. O World Gold Council é uma associação industrial criada em 1987 pelas principais mineradoras de ouro para estimular a demanda do mineral.

No terceiro trimestre de 2018, a demanda global cresceu até alcançar 964 toneladas, 6,2 toneladas a mais que no mesmo período de 2017. Um pico alcançado sobretudo pelas compras dos bancos centrais, que aumentaram de 22%, para 148 milhões de toneladas.

O mais ativo nas compras de ouro foi o Banco Central da Hungria, do primeiro-ministro Viktor Orban. O BC de Budapeste aumentou suas compras de dez vezes em outubro: de 3 para 31,5 toneladas em apenas algumas semanas. A Polônia fez o mesmo, e hoje tem 116,7 toneladas, ante as 13,7 toneladas de junho. Até mesmo o Banco Central da Turquia está comprando ouro. No terceiro trimestre de 2018, enquanto a lira turca desvalorizou 25%, o BC de Ancara comprou 18,5 toneladas, levando suas reservas áureas para mais de 258 toneladas.

Rússia maior comprador

Entretanto, quem domina esse cenário de nova corrida ao ouro há muito temo é a Rússia. Este ano, Moscou comprou um total de 264 toneladas de ouro, das quais mais de 26 toneladas só em julho. No ano passado, o Banco Central russo tinha comprado mais de 223 toneladas. Em 2017, pelo terceiro ano consecutivo, a Rússia aumentou suas reservas em mais de 200 toneladas. Oficialmente a Rússia ultrapassou a China, tornando-se o quinto maior detentor de reservas áureas do mundo. Pequim tinha superado Moscou nesta corrida em 2001. Entretanto, essas estatísticas são confiáveis ​​até certo ponto. Isso porque a China não está anunciando oficialmente seus aumentos nas compras de ouro desde 2016.

A China afirma possuir cerca de 1.800 toneladas de ouro. Todavia, segundo analistas, poderia ter acumulado mais de 20.000 toneladas de 1983 até hoje. Portanto, a Rússia seria a quinta potência de ouro apenas no papel, atrás da Itália, que tem 2.452 toneladas.

Formalmente, as maiores reservas de ouro do mundo estão no Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos. Seguido pelo Banco central alemão (Bundesbank) e pelos cofres do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Sobre a Alemanha, o Bundesbank a partir de 2013 começou a repatriar muitos dos barras que mantinha no exterior. Principalmente nos cofres da Federal Reserve, do Banco da Inglaterra, e do Banco Central francês. Em total, os alemães já repatriaram 95 bilhões de euros em mineral precioso.

Questões geopolíticas

Para Thiago Reis, fundador da SUNO RESEARCH, há também uma questão geopolítica nessa nova corrida do ouro. “Os países rivais dos EUA, como China e Rússia, sempre tentaram usar a arma financeira para tentar destabilizá-los. Por exemplo, desde o final do ano passado, desde a metade do ano passado Banco Central russo reduziu drasticamente os investimentos em dívida soberana dos EUA. Uma forma de colocar em dificuldade os americanos. E com esse dinheiro eles compram ouro, que consideram menos favorável a economia norte-americana. Pequim está fazendo a mesma coisa. Os chineses estão reduzindo regularmente a quantidade de títulos do governo dos Estados Unidos. Isso também por causa da imposição de novos impostos alfandegários pelos EUA sobre mercadorias chinesas. Por isso, esse movimento é também um grande jogo geopolítico. E o mercado simplesmente está acompanhando essa alta”, explicou Reis.

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Em suma, essa nova corrida do ouro está sendo impulsionada pelos bancos centrais e seguida pelos investidores do mundo inteiro. Entretanto, não é apenas uma questão dos últimos desenvolvimentos na crise econômica e financeira, mas tem raízes menos recentes. Não há dúvida, no entanto, que neste 2019, que poderia ser tão incerto e volátil, teremos novidades.

Carlo Cauti

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